CVS Health Corp (CVS)
Principais resultados da análise
A CVS Health Corporation (CVS) é uma empresa da área da saúde, que atua em diversas áreas de negócio como o retalho (farmácias), seguros de saúde e serviços farmacêuticos (Pharmacy Benefit Management, PBM1). No final de 2019, a CVS tinha aproximadamente 9.900 postos de venda a retalho, 1.100 clínicas walk-in2, e cerca de 105M de membros envolvidos na PBM. Prestava ainda serviços de assistência farmacêutica a mais de 1M de pacientes por ano (aconselhamento especializado sobre o uso de medicamentos) e serviços farmacêuticos especiais. No ramo dos seguros de saúde a empresa servia cerca de 37M de pessoas através de vários produtos e serviços relacionados.
O setor privado da saúde está sob forte pressão nos EUA, devido à controvérsia em torno da subida dos preços dos medicamentos e ao receio de estatização do Sistema Nacional de Saúde. Estes dois riscos serão os principais motivos por detrás dos baixos preços a que as ações do setor estão a ser transacionadas atualmente.
Sem querer desprezar os riscos mencionados, julgamos que, apesar de tudo, este investimento apresenta uma boa relação risco/retorno.
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Aquisição da Aetna
Em novembro de 2018 a empresa sofreu uma grande transformação com a aquisição da Aetna, uma empresa do ramo dos seguros de saúde que comprou por $78 B. A CVS teve de aumentar consideravelmente a dívida para proceder à aquisição o que, associado ao elevado preço que teve de pagar, deixa muitas dúvidas sobre a rentabilidade deste investimento.
Segmentos
A CVS divide o seu negócio em 4 segmentos distintos.
O segmento Pharmacy Services oferece uma panóplia de serviços de PBM, nomeadamente gestão de planos de saúde, apoio a farmácias, entregas de medicamentos por correio, serviços farmacêuticos especiais, gestão de medicação, entre outros. A indústria das PBM nos EUA concentra 80% do seu volume em três top players – CVS, UnitedHealth e Cigna (empresa já analisada pela MyStockIdeas). Neste setor, a dimensão confere poder de negociação com a indústria farmacêutica e também com as próprias cadeias de retalho, pelo que estar entre os três top players é um fator positivo para a CVS.
O segmento Retail/LTC inclui a rede de retalho, nomeadamente farmácias ou lojas onde processam vendas diretas ao cliente de medicamentos, produtos de beleza e produtos de cuidados pessoais. Este segmento inclui também as clínicas Walk-In (MinuteClinic) onde são disponibilizados chek-ups básicos de saúde aos clientes que já se encontram nas lojas, e cuidados farmacêuticos de longo prazo (LTC)3. A empresa tem cerca de 9.900 postos de venda, que se encontram disponíveis a menos de 3 milhas de distância de cerca de 70% da população norte-americana.
O segmento Health Care Benefits, que herdou a maior parte das receitas da Aetna, vende seguros de saúde e produtos similares a cerca de 37 M de pessoas, sendo uma das cinco maiores seguradoras dos EUA. Com a aquisição da Aetna, a CVS incorporou um conjunto de novos serviços que interligam com os seus segmentos tradicionais, obtendo vantagens dessas sinergias. Exemplo disso são os planos de saúde que permitem uma redução de custos nas MinuteClinic, o que permitiu à CVS não só aumentar as opções dentro do segmento dos seguros, como também promover os serviços disponibilizados pelo semento de retalho.
O segmento Corporate/Other, o menos representativo, inclui serviços de gestão central e outros negócios descontinuados, onde a empresa já não aceita mais clientes, tais como alguns tipos de seguros ou planos de pensões.
INDÚSTRIA
Controvérsia no setor da saúde
O preço médio dos medicamentos nos EUA sofreu uma subida superior à da inflação na última década. Nos medicamentos com pouca concorrência, os preços de tabela apresentaram subidas significativas, criando muita controvérsia à volta do setor.
O preço final dos medicamentos é definido em função das negociações existentes entre a indústria farmacêutica, os seguros de saúde e as PBM.
A indústria farmacêutica define o preço em função daquilo que o mercado conseguirá suportar e não em função dos custos reais associados ao processo de investigação e desenvolvimento do produto. Como tal, os preços de alguns medicamentos podem atingir níveis estratosféricos, em particular quando não existe concorrência.
As PBM negoceiam com a indústria farmacêutica e com as seguradoras para incluir os medicamentos nos formulários (listas de medicamentos cobertos pelos planos de seguros) e obter descontos nos preços. As PBM podem ficar com uma percentagem desse desconto ou passá-lo integralmente para a seguradora, obtendo um fee como contrapartida. As PBM têm, pois, um papel muito importante em todo o processo, determinando os descontos com a indústria farmacêutica em troca da colocação dos medicamentos nos formulários das seguradoras e definindo também a posição hierárquica que assumem nesse formulário. O fator que determina os lucros das PBM é a taxa de desconto sobre o preço de tabela dos medicamentos– de uma forma simplista, quanto maior for a taxa de desconto, maior será o retorno das PBM.
O sistema atual parece favorecer o aumento dos preços dos medicamentos - a indústria farmacêutica beneficia diretamente com a subida dos preços dos seus produtos, e as PBM beneficiam com os maiores descontos concedidos pela indústria.
Quem paga a fatura desta subida de preços são os pacientes, ou parte deles. Existem várias opções disponíveis para os pacientes relativamente ao modelo de pagamento dos medicamentos, podendo passar pelo pagamento de um valor fixo, de uma taxa sobre o preço de tabela do medicamento, entre outras opções. Isto significa que, em determinados tipos de seguro, o paciente é afetado pela subida dos preços de tabela dos medicamentos. Os pacientes sem seguro são também afetados.
A controvérsia em volta do sistema é sustentada por vários exemplos, como o da insulina, cujo preço praticamente duplicou desde 2012. A controvérsia atingiu já as esferas políticas, que identificaram a necessidade de regulamentar o sistema. Muitos acreditam que esta regulamentação poderá levar à perda de receitas nos setores envolvidos.
A pressão nas taxas de reembolso
O negócio do retalho das grandes cadeias de farmácias, como o segmento de retalho da CVS, tem sido pressionado pelas taxas de reembolso associado aos medicamentos genéricos. Quando um paciente compra um medicamento genérico, parte do seu custo é coberto pelo seu plano de seguros. Essa fatia do custo que o cliente não paga fica a cargo temporário das farmácias, até serem reembolsadas pelas PBM ou entidades similares. Geralmente o valor de reembolso é fixo e é registado através de um contrato entre o retalhista e a PBM.
O problema está no tempo associado à atualização das taxas de reembolso contratadas com as PBM. Os preços dos genéricos tendem a mudar a uma velocidade superior às da atualização das taxas de reembolso, provocando um “gap” entre ambos. Quando o preço dos genéricos sobe, a farmácia vê-se obrigada a suportar sozinha a subida do custo do medicamento, pois os clientes continuam a pagar o valor definido nos seus planos de saúde. Este esforço adicional das farmácias só termina quando as taxas de reembolso são finalmente atualizadas pelas PBM. Esse delay não é favorável às farmácias, pressionando as suas margens de lucro.
Alterações no Sistema Nacional de Saúde
Uma das principais ameaças para a indústria dos cuidados de saúde prende-se com uma eventual alteração do sistema nacional de saúde. Sondagens revelaram que cerca de metade dos norte-americanos estão solidários com a “Medicare for All”, uma solução semelhante à atualmente existente nos países europeus, onde o acesso total aos cuidados de saúde é garantido pelo Estado. Os Democratas são os principais apoiantes deste tipo de solução. No entanto, a implementação de um plano desta envergadura terá de passar no Senado. E, para isso, o partido democrata terá de estar fortemente representado nesse organismo, contrariando aquela que tem sido a tendência de voto dos últimos mandatos, onde o Senado geralmente acaba por ser maioritariamente representado pelo partido da oposição, servindo como uma espécie de contraponto à presidência dos EUA. Assim, o cenário mais provável deverá passar por um modelo em que o estado assume um papel mais determinante, mas sem alterar substancialmente o papel que a indústria assume atualmente.
VANTAGEM COMPETITIVA
O facto da CVS integrar num só negócio os setores do retalho, das PBM e das seguradoras, confere uma vantagem competitiva à empresa relacionada com o efeito de escala. O efeito de escala materializa-se numa maior alavancagem dos custos de estrutura e num aumento das receitas através de sinergias criadas internamente (cross-selling).
O facto da PBM da CVS se encontrar entre os três top players dos EUA confere um poder de negociação acrescido com a indústria farmacêutica e também com as próprias cadeias de retalho, atribuindo uma vantagem competitiva à empresa.
No segmento de seguros, a empresa goza de vantagens de escala também, dado que a Aetna é uma 5 maiores seguradoras dos EUA. A atuar num setor fragmentado, a unidade de seguros pode alavancar os custos fixos centralizados, incrementando o lucro marginal das novas apólices e colocando-a numa posição de vantagem face aos concorrentes de menor dimensão. A sua dimensão permite-lhe ainda tirar partido do efeito de “network”, onde um maior número de clientes leva a uma redução dos preços por apólice ou a seguros mais vantajosos, que por sua vez atraem mais clientes, criando um ciclo virtuoso.
MANAGEMENT
Larry Merlo é o CEO da CVS desde 2011. Larry está na empresa desde 1990. A performance da equipa de gestão atual estará irremediavelmente ligada aos resultados da aquisição da Aetna. Esta aquisição teve um enorme impacto no balanço da empresa, tendo sido considerada por alguns investidores como uma aquisição cara, acima do seu justo valor. Embora tenham sido registadas poupanças substanciais com as sinergias criadas por esta compra, o retorno do capital investido diminuiu depois da aquisição (gráfico seguinte) e a dívida aumentou de uma forma substancial, levando a empresa a suspender a compra de ações próprias. Só o tempo dirá se a aquisição da Aetna foi realmente uma boa decisão, mas as imparidades registadas em 2018 relacionadas com a aquisição da empresa de cuidados continuados Omnicare (gráfico seguinte), fazem-nos ficar apreensivos acerca do preço pago pela Aetna.
SITUAÇÃO FINANCEIRA
A CVS apresenta um crescimento consistente das receitas e do resultado operacional ao longo da última década. No entanto, nem tudo foram boas notícias para os investidores.
A relação da dívida com o património líquido pode ser utilizada para perceber o modo como a empresa se financia. Basicamente a empresa pode financiar-se recorrendo a dívida ou ao seu próprio capital (que inclui o dinheiro aplicado pelos acionistas e os lucros acumulados). Quando o indicador Debt to Equity Ratio é maior que 1, sabemos que a empresa é financiada mais por dívida do que por capital próprio. Embora este indicador possa ser distorcido por ganhos ou perdas retidas, ativos intangíveis e custos associados aos planos de pensão, não existem dúvidas de que a CVS apresenta, atualmente, uma estrutura de financiamento com um risco muito superior ao registado no passado (gráfico ao lado).
O rácio Total Assets / Total Liabilities é um critério simples que serve para medir a solvência de uma empresa. Este rácio piorou substancialmente nos últimos 10 anos (gráficos abaixo), tendo sido impactado por dois fatores principais: As aquisições da Omnicare e da Aetna em 2015 e 2018 respetivamente; e a redução da liquidez da empresa (esta última uma boa medida, na nossa opinião).
TESE DE INVESTIMENTO
No nosso modelo considerámos que as receitas continuarão a crescer a um ritmo de 3%/ano, diminuindo gradualmente até alcançar 2% na maturidade. Considerámos que a posição líquida da empresa deverá recuperar ligeiramente do mínimo registado em 2019, furto da descida verificada nos últimos anos, alcançando a taxa média do setor de 8% no indicador NonCashWorkingCapital/sales. Estimámos que a margem operacional irá subir ligeiramente ao longo dos próximos anos, aproximando-se dos valores registrados antes da aquisição da Aetna. Finalmente, considerámos que os esforços de capital se aproximarão da média da indústria a longo prazo. Estas e outras considerações resultaram num valor intrínseco de $93.6/ação o que, à data deste avaliação (31-12-2020), confere uma margem de segurança de 27%.
A área da saúde está sob forte pressão nos EUA, com a polémica em torno da subida dos preços dos medicamentos e com o receio das alterações ao Sistema Nacional de Saúde. Estes serão os fatores que estão por detrás dos baixos preços das ações das empresas do setor. Certamente que estes riscos não são de desprezar, mas, com uma margem de segurança de 27%, o investimento apresenta uma boa relação risco/retorno.
1As Pharmacy Benefit Management (PBM) são entidades responsáveis pela gestão do custo e do consumo de medicamentos, no âmbito de planos de saúde oferecidos pela seguradoras. As PBM têm um papel fundamental nos EUA. Servindo como intermediário entre as seguradores, os pacientes e a indústria farmacêutica, as PBM conseguem reduzir os custos dos medicamentos para os pacientes e seguradoras, enquanto monitorizam os planos de tratamento de forma a garantir o melhor resultado para todas as partes envolvidas.
2 Clínicas walk-in são clínicas de ambulatório preparadas para atender a casos de urgência de menor gravidade, sendo uma solução mais económica para os utilizadores comparativamente aos serviços de urgência.
3 LTC são empresas de especialização farmacêutica destinadas a indivíduos ou idosos que vivem numa comunidade de cuidados de longo prazo, como lares por exemplo. Estas empresas são responsáveis pelo acompanhamento completo do paciente, avaliando o seu estado de saúde e prescrevendo os medicamentos necessários.
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