Estaremos na iminência de uma bolha?

  • MyStockIdeas
  • Dezembro 15, 2020

Estaremos​​ na iminência de uma bolha?

Os índices bolsistas​​ subiram significativamente​​ nos últimos meses, especialmente desde​​ que​​ ficaram disponíveis as​​ primeiras​​ vacinas da Covid-19.​​ Alguns​​ índices​​ bolsistas, como o S&P500, encontram-se já acima dos valores pré-pandemia, numa altura em​​ que​​ se​​ registam​​ perdas históricas​​ em certos setores,​​ embora também​​ um​​ crescimento​​ inesperado noutros.​​ 

Se não fossem os apoios financeiros, estaríamos certamente a viver uma crise financeira​​ bem mais​​ grave.​​ O​​ preço das ações​​ foi, sem sombra de dúvida, influenciado pelos estímulos implementados globalmente,​​ levando os índices a​​ atingir novos máximos históricos em algumas geografias​​ e​​ levando​​ o indicador​​ de preço​​ Price Earnings Ratio​​ (PER)​​ a atingir​​ também​​ valores​​ elevados.​​ Isso significa que estamos​​ na iminência de uma bolha?

O​​ S&P500, o índice mais representativo no portefólio da MyStockIdeas,​​ está a ser transacionado a cerca de​​ 34​​ vezes os lucros dos últimos 12 meses​​ (PER de​​ 34), um valor consideravelmente superior à​​ média​​ histórica de​​ 16, o que aponta para uma​​ sobrevalorização das ações.​​ 

As baixas taxas de juro​​ promovidas pelos bancos centrais têm um papel fundamental​​ em tudo isto.​​ ​​ Por um lado, as baixas taxas de juro​​ melhoraram o resultado das avaliações, dado que​​ diminuíram​​ o custo de capital das empresas.​​ Por outro lado,​​ incentivaram os investidores mais conservadores a investir em ações, já que as alternativas, como obrigações corporativas ou outros instrumentos mais seguros, apresentam​​ atualmente​​ taxas de retorno historicamente baixas.​​ 

Impacto das​​ taxas de juro​​ nas avaliações

Quando os juros baixam, as empresas conseguem refinanciar as suas dívidas com juros inferiores aos registados no passado, melhorando a sua situação financeira. Nos setores mais endividados esse fator assume maior importância, impactando significativamente no Resultado Líquido​​ das empresas​​ e​​ melhorando​​ as​​ estimativas das​​ avaliações. O impacto é tanto maior quanto mais alargado for o período​​ estimado​​ para a duração das baixas taxas de juro.​​ No presente, existe a espectativa de que as taxas de juro irão permanecer​​ em valores reduzidos​​ durante alguns anos, pelo que o efeito​​ favorável​​ na avaliação das empresas é considerável.​​ Isso faz aumentar a procura por ações, o que​​ se reflete numa subida de​​ preços.

Influência das​​ taxas de juro​​ nos investidores

Devido ao​​ acesso​​ facilitado​​ ao crédito,​​ as obrigações​​ estão​​ a oferecer retornos (yields) historicamente baixos,​​ tornando-as​​ pouco atrativas para os investidores.​​ Por outro lado,​​ existem atualmente diversas empresas cujos dividendos apresentam um retorno superior ao das suas próprias obrigações​​ de dívida.​​ Como tal, para os investidores mais conservadores poderá ser mais​​ apetecível​​ investir em ações de empresas estáveis com bons dividendos do que investir em obrigações.​​ Isso faz aumentar a procura por ações, o que se reflete numa subida de preços.

Influência das​​ taxas de juro​​ no​​ PER

A média histórica do PER​​ de 16 corresponde a um​​ Earnings Yield​​ (inverso do PER)​​ de 6.25%.​​ Isto significa que o retorno esperado​​ pelos investidores​​ relativamente às ações​​ é de 6.25%,​​ em termos históricos.​​ O retorno esperado pelos acionistas varia em função de certas circunstâncias, nomeadamente em função dos retornos que​​ as​​ outras alternativas de investimento oferecem, como as obrigações do tesouro.​​ Caso​​ as obrigações​​ do tesouro​​ oferecessem​​ 6.25% de retorno, os investidores exigiriam​​ uma taxa de retorno superior para investir em ações, de forma a compensar o maior risco associado.​​ Como tal, o​​ retorno​​ total​​ esperado​​ pelos investidores em ações​​ pode ser considerado​​ igual à​​ soma da taxa de juros sem risco com o prémio de risco associado ao investimento em ações.​​ ​​ 

Sabendo​​ que o prémio de risco histórico é de 3.6% (média dos​​ últimos 30 anos,​​ globalfinancialdata)​​ e sabendo que as taxas de juros sem risco encontram-se​​ atualmente em 0.896% (U.S. 10 Year Treasury),​​ obtemos um retorno esperado de 4.496% (3.6% + 0.896%), ou um PER​​ histórico​​ de 22, e não​​ o​​ PER de 16 referido nos parágrafos anteriores.​​ O PER de 22 corresponde ao mesmo indicador, ajustado às taxas de juro atuais.​​ 

Um​​ PER​​ de 34​​ continua a estar​​ consideravelmente acima​​ de 22,​​ demonstrando que os preços das ações estão elevados​​ face à média histórica.

Considerações finais

A segunda vaga da pandemia veio​​ agravar​​ as consequências económicas​​ e diminuir os lucros das empresas,​​ existindo ainda uma forte​​ possibilidade de​​ vir a ocorrer​​ uma terceira vaga.​​ O​​ PER​​ do S&P500 está​​ elevado,​​ mas, por si só, não deverá alarmar os investidores, uma vez que se espera uma grande recuperação económica para 2021​​ e, consequentemente, uma descida do PER.​​ Acreditamos que​​ a​​ sustentação dos preços das ações​​ irá depender, sobretudo, de fatores emocionais,​​ relacionados com a​​ continuidade dos estímulos financeiros garantidos pelos estados e bancos centrais e​​ com​​ o progresso dos esforços contra a pandemia.​​ Embora se esperem boas notícias quanto aos estímulos financeiros, a evolução da pandemia é uma incógnita. E os estímulos também têm limites. São dois fatores a​​ ter obrigatoriamente em conta​​ nos próximos meses.