Telefónica (TEF)
Principais resultados da análise
A Telefónica (TEF) é uma das dez maiores empresas de telecomunicações do globo, concentrando a sua atividade na Europa e na América do Sul, onde presta serviços de telecomunicações e opera com a sua própria rede IP.
Os mercados de telecomunicações estão saturados e os subscritores não estão dispostos a pagar mais por novos serviços. Como consequência, os últimos anos não foram fáceis para o setor das telecomunicações, em particular na europa, onde as empresas apresentam uma estagnação das receitas e os mercados da rede móvel e banda larga se vão transformando cada vez mais em mercados de commodities.
No entanto, acreditamos que a TEF conseguirá manter um volume de Free Cash Flow (FCF) entre os 3000M €/ano e os 6000M €/ano nos próximos anos, sustentado pelas áreas de negócio tradicionais e pelo crescimento da sua área digital. A empresa poderá também alavancar os seus ativos, tirando mais partido financeiro das suas múltiplas infraestruturas. Como tal, se as projeções de FCF se concretizarem, a empresa valerá pelo menos 5.4 €/ação, o que representa uma margem de segurança de 36% à data desta avaliação.
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EMPRESA
A empresa revela uma tendência decrescente das receitas e dos lucros operacionais, refletindo o aumento da competitividade no setor, a alienação de alguns ativos (a venda de operações no Reino Unido em 2015 e na América do Sul em 2019) e a exposição a economias de risco (hiperinflação na Venezuela em 2013 e 2014, e hiperinflação na Argentina em 2018 e 2019). Excluindo estes efeitos, as receitas teriam subido ligeiramente ao longo dos últimos anos.
O fraco desempenho da TEF em bolsa deve-se também ao alto endividamento da empresa.
Apesar disso, a TEF tem conseguido gerar Cash Flow positivo ao longo dos anos.
Estratégia de crescimento
No segmento Business-to-Consumers (B2C) a TEF está a enfrentar um mercado saturado e muito competitivo, que pressiona a empresa no sentido da transformação. A visão da empresa consiste em disponibilizar uma experiência única aos clientes, integrando numa só solução os diversos produtos e serviços que a TEF pode oferecer.
No segmento Business-to-Business o crescimento incide sobretudo nas tecnologias da informação e num conjunto de serviços digitais de Cibersegurança, cloud, IoT e Big Data, em que a empresa tem apostado, com o intuito de se tornar num parceiro de destaque para as empresas no processo de transformação digital que está em curso.
A TEF apresentou a sua mais recente estratégia corporativa em 27 de novembro de 2019, que consiste em cinco pontos principais: foco nos quatro mercados-chave da empresa (Espanha, Brasil, Reino Unido e Alemanha); aposta no crescimento dos serviços digitais envolvendo IoT/Big Data, cloud e Cibersegurança; criação de valor nos ativos de telecomunicações; concretização da operação de spin-off do segmento Hispam; e, por fim, reorganização do centro corporativo.
A TEF está a tentar tornar o processo de implementação de mudanças mais ágil e a tentar tirar vantagem da grande escala do grupo. Como tal, a organização passou de uma estrutura organizacional distribuída por países para uma estrutura distribuída por três novas unidades de negócio, acreditando que isso ajudará a alcançar os seus objetivos.
Com a criação da unidade de negócios Tech, a TEF faz uma aposta evidente na transformação digital, colocando um grande foco nas soluções IoT/Big Data, cloud e Cibersegurança, acreditando serem as peças chave do futuro crescimento da empresa. A empresa faz também uma aposta clara na rentabilização dos seus ativos com a criação da unidade de negócios Infra, através da qual a TEF pretende aumentar a rentabilização e monetização de torres de comunicação, sistemas de comunicação por antena, data centers, redes de fibra, entre outros ativos. Com esta nova organização. a TEF também reforça a intenção de fazer uma spin-off da América Latina, colocando-a numa organização separada, com uma equipa de gestão específica e distinta do resto do grupo.
INDÚSTRIA
A indústria das telecomunicações está às portas de uma revolução digital. A forma como vemos o mundo irá mudar com o entrada do 5G. Atualmente estamos já a assistir a avanços tecnológicos sem precedentes, que irão permitir ligar pessoas e objetos entre si (carros, cidades, eletrodomésticos, embalagens, …), criando um mundo digital repleto de informação em tempo real, com o 5G e a Inteligência Artificial a assumirem um papel central em todo o processo. O 5G irá combinar alta-velocidade, maior largura de banda, menor latência e menores gastos de energia que irão transformar a forma como se processam os negócios, as relações entre colaboradores e entidades empregadoras, o negócio do entretenimento, entre outros.
A quantidade de informação que irá ser gerada será incomparavelmente superior à atual, viajando através das infraestruturas das empresas de telecomunicações. A questão que se coloca é se o setor saberá lucrar com esta transformação.
Os mercados estão saturados e os subscritores não estão dispostos a pagar mais pelos novos serviços. Como consequência, os últimos anos não foram fáceis para as empresas de telecomunicações, em particular na europa, onde as empresas apresentam uma estagnação das receitas e os mercados da rede móvel e banda larga se vão transformando em mercados de commodities. Isso significa que as empresas de telecomunicações perderam a capacidade de se diferenciar, forçando-se a competir meramente pelo preço, o que levou, inevitavelmente, a uma diminuição das suas margens de lucro. O efeito de comoditização está bem patente na perda de valor que o setor europeu representou para os acionistas, com retornos totais (preços das ações mais dividendos pagos) a diminuírem 11% entre 2016 e 2018, sendo a Telefónica exemplo desse fenómeno. Enquanto isso, outros setores utilizaram as infraestruturas das empresas de telecomunicações para fornecer produtos e serviços cada vez mais inovadores e lucrativos.
Para fugir ao processo de comoditização a que foram sujeitas nos últimos anos, as empresas de telecomunicações parecem agora apostar em dois possíveis caminhos: participar ativamente na diversificação dos seus produtos, apostando em novos serviços (como serviços financeiros, serviços de entretenimento, Cibersegurança, “Home Security”,…); criar uma rede infraestrutural de excelência, segura e rápida, assente num alto nível de investimento que impeça a entrada de novos concorrentes.
O investimento para o 5G é elevado e as operadoras terão de retirar um retorno elevado desses investimentos para justificar o esforço financeiro aplicado. No entanto, algumas empresas, como a TEF, têm grande parte do investimento realizado, procurando agora encontrar a forma de rentabilizar esse investimento.
VANTAGEM COMPETITIVA
Como ficou explícito nos parágrafos anteriores, dificilmente se identificará uma vantagem competitiva numa empresa de telecomunicações atualmente, já que os seus serviços estão a passar por um processo de comoditização. No entanto, algumas destas empresas estão a tentar posicionar-se para a transformação digital que está em curso, sendo a TEF uma delas.
A forma como a empresa se reorganizou no mais recente plano estratégico, demonstra vontade e determinação neste posicionamento. Se pararmos um momento para refletirmos sobre esta mudança, concluímos que se trata de uma autêntica revolução interna, que terá implicado mudanças de posições de colaboradores, contratação de novos talentos, eventualmente alguns despedimentos, reposicionamento de ativos, etc. Mais do que isso, esta alteração corporativa representa uma mudança cultural na empresa, que poderá conferir alguma vantagem competitiva face aos seus concorrentes, nas vésperas do 5G.
MANAGEMENT
José María Álvarez-Pallete López é o atual presidente executivo da TEF, função que exerce desde 2016. Álvarez-Pallete tem formação em economia e entrou na empresa em 1999, assumindo o cargo de CFO. Antes de se tornar CEO ocupava o cargo de COO do grupo (de 2012 a 2016), tendo passado por vários cargos de elevada responsabilidade antes disso.
Álvarez-Pallete parece conhecer a indústria digital. Em 2011, como CEO da Telefónica Europa, Álvarez-Pallete foi fundamental na criação da Wayra, a aceleradora de startups da Telefónica.
Álvarez-Pallete tem recebido vários prémios de mérito ao longo da sua carreira. Apenas para mencionar os mais recentes, em 2016 foi eleito o “Melhor CEO” de Espanha pela Forbes Magazine. Em 2019 recebeu o prémio “Manager of the Year” na categoria Large Corporations da Asociación Española de Directivos e foi eleito “Business Leader of the Year” pela Câmara de Comércio Espanha-EUA.
Destacamos duas medidas que marcam o mandato de Álvarez-Pallete como CEO: a primeira foi a redução dos dividendos, de 0.74€/ação para 0.40€/ação, tomada logo após a sua nomeação (ver imagem seguinte); a segunda consistiu na mudança da organização corporativa, que posicionou a empresa no caminho da transformação digital.
SITUAÇÃO FINANCEIRA
Como já foi referido, as receitas da TEF diminuíram significativamente desde 2010, em grande parte devido aos episódios de hiperinflação registados na Venezuela (em 2014) e na Argentina (em 2018 e 2019). Apesar disso, a empresa conseguiu praticamente manter as suas margens de lucro operacionais e gerar um volume considerável de cash-flow.
O balanço da TEF apresenta rácios de liquidez e solvabilidade reduzidos, característicos do setor. A empresa apresenta também um alto nível de endividamento, o que pode ser problemático num cenário de subida das taxas de juros. Ainda assim, existem condições para a TEF manter o nível de cash flow gerado dos últimos anos.
TESE DE INVESTIMENTO
Facilmente se conclui que os resultados da empresa estão expostos à volatilidade das economias da América Latina, pelo que a estratégia de spin-off do segmento Hispan que a TEF colocou em curso parece-nos acertada.
O setor de telecomunicações não favoreceu os seus acionistas nos últimos anos. No entanto, considerando o volume de Free Cash Flow (FCF) que a TEF gera, na ordem dos 6 B €/ano, o preço das ações parece excessivamente baixo.
A TEF deverá conseguir manter um volume de FCF entre os 3 B €/ano e os 6 B €/ano nos próximos anos, sustentado pelas áreas de negócio tradicionais nas localizações-chave e ainda pelo crescimento da sua área digital. A empresa poderá ainda alavancar o rendimento que retira das suas infraestruturas. Se as projeções de FCF se concretizarem, a empresa valerá pelo menos 5.4 €/ação, o que representa uma margem de segurança de 36% à data desta avaliação.
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