Melia Hotels International SA (MEL)
Principais resultados da análise
A Meliá Hotels International (MEL) é uma cadeia de hotéis espanhola, que gere 388 hotéis espalhados por 42 países diferentes, dos quais 49% estão instalados em resorts e 51% em cidades.
A MEL continua a expandir a sua atividade investindo na abertura de novos hotéis. Em 2019 abriu 10 novos hotéis, a maioria dos quais no sudoeste da Ásia, nomeadamente no Vietnam e na China. A empresa prevê a abertura de vários hotéis ao longo da próxima década, 80% dos quais ficarão localizados no Mediterrâneo, Caraíbas e sudeste da Ásia. A região da Ásia-Pacífico será a grande aposta da MEL para o futuro – a empresa pretende direcionar 32% dos seus investimentos para esta localização.
A MEL foi nomeada, em 2019, a cadeia de hotéis mais sustentável do globo, pela Sustainable Investment Agency SAM (S&P Global). O estatuto foi atribuído no âmbito de uma avaliação anual que visa as melhores práticas de sustentabilidade na governança corporativa, na performance social e nas medidas de proteção ambiental implementadas pelas empresas.
O setor da hotelaria está a sofrer uma pressão sem precedentes, que levou a MEL a registar perdas milionárias no primeiro semestre de 2020. Mas a empresa tem condições para sobreviver a esta crise. Pesando todos os riscos e oportunidades, obtemos um valor intrínseco de 3.77 €/ação.
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Distribuição Geográfica (R&C de 2019, MEL)
Plano estratégico
A empresa tem programado a sua gestão de acordo com planos estratégicos trianuais, sendo que o ano de 2019 foi um ano de transição. A MEL faz questão de realçar a importância da chancela ESG (Environmental, Social, and Governance) na sua estratégia operacional, integrando fatores ambientais e sociais no seu processo de decisão. A empresa tem como benchmark a agenda de 2030 das nações Unidas, integrando-a na sua estratégia de sustentabilidade.
Um dos aspetos chave do novo plano estratégico de 2020-2022 é a criação de valor para os Shareholders, onde a otimização dos ativos desempenha um importante papel. A MEL tentará aumentar o lucro por m2 dos seus hotéis rentabilizando ativos obsoletos ou em desuso, focando-se nos ativos que apresentam margem de melhoria, promovendo a proatividade nas suas equipas de gestão, entre outros.
A digitalização dos processos é a outra grande aposta do plano estratégico 2020-2022. A MEL pretende tornar o modelo operacional mais ágil e tornar os procedimentos mais transversais com a ajuda da digitalização. A empresa lançou, para esse efeito, o programa “Be Digital 360”, que está no centro do plano estratégico de 2020-2022.
“Brand”
A MEL é uma das empresas líder no segmento dos hotéis premium (tipicamente 5 estrelas) e upscale (tipicamente 4 estrelas).
A MEL tem 7 marcas diferentes a operar em resorts, tentando assim responder a diferentes tipos de clientes, nomeadamente aos que procuram experiências de lazer, de negócios ou ambas (existe uma área de negócio dedicada às duas experiências conjuntas, com o nome de “bleisure”, um neologismo formado pelas palavras “business” e “leasure”). Cada uma das suas marcas tem focos psicográficos (função do comportamento social de um determinado grupo, como estilo de vida, hábitos, atividades, opiniões) e demográficos específicos, respondendo aos diferentes tipos de procura.
No segmento premium (10%) a MEL apresenta as marcas Gran Meliá, Paradisus e ME. No segmento upscale (46%) apresenta as marcas Meliã e Inside. No segmento midscale (38%) apresenta as marcas SOL e TRYP.
Modelo de negócios
O modelo de negócios da MEL integra um número de hotéis próprios (13%), e hotéis arrendados em que a MEL é responsável pela gestão do hotel (33%). A empresa também presta serviços de management em hotéis de outras marcas (39%), e possui uma carteira de franchisados onde outro proprietário opera com uma das marca da MEL e utiliza os seus canais de vendas (14%).
32% do total de receitas do hotel provêm dos serviços de F&B (“Food and Beverage”), pelo que a empresa direciona uma parte importante dos seus esforços para esta área. Esses esforços estão focados na inovação das refeições e no sucesso das parcerias que mantem com parceiros de referência, como chefes de renome e grupos de catering reconhecidos. Em 2016, a MEL criou uma espécie de incubadora de gastronomia, onde testa projetos inovadores de culinária em parceria com outros empreendedores.
Geografia
A MEL está presente em cinco grandes regiões: Espanha, EMEA (Europa, Oriente Médio e África), Américas, APAC (Ásia-Pacífico) e Cuba. A maior parte das suas receitas (49%) provêm da região de Espanha, sendo que o restante tem origem nas regiões de EMEA (24%) e Américas (25%).
O turismo parece ter atingido a maturidade em Espanha, apresentando taxas de crescimento modestas abaixo da taxa de crescimento da economia. A Melia Espanha registou um crescimento de 1.7% do RevPar (volume total de receitas a dividir pelo número de quartos disponíveis, nos segmentos owned, leased e managed) sustentado pelo maior crescimento nos hotéis de cidade.
Na região EMEA o RevPAR cresceu 1.2%, sustentado por um crescimento de 6% em Itália, de 2.4% na Alemanha e de 1.5% no Reino Unido. Em França o rácio decresceu, em parte devido ao impacto causado pelos protestos dos coletes amarelos e pela greve geral que ocorreu no final de 2019.
Nas Américas, o RevPAR decresceu 7.1%. O negócio foi negativamente impactado por questão geopolíticas e ambientais no México, nomeadamente pelo aparecimento de grandes quantidades de sargaço nas praias (alga flutuante, que tem forte presença no golfo do méxico) e pelo aumento da insegurança na zona turística de Cancun. A República Dominicana também foi afetada por publicidade negativa gerada nos EUA, sem fundamento segundo a MEL, que levou a uma drástica redução dos turistas no segundo semestre do ano.
Indústria
O ano de 2019 na indústria do turismo ficou marcado pela falência de alguns players de renome, como a Thomas Cook, e por circunstâncias geopolíticas complexas como o Brexit, a guerra comercial entre EUA e CHN ou o abrandamento económico. Algumas situações de caracter mais temporário e localizado afetaram também a indústria, como a invasão do sargaço (já referido) ou a polémica em volta da segurança dos turistas na República Dominicana (já referido). Apesar disso, o GDP do setor do Turismo subiu 3.6% em 2019.
Embora o turismo tenha atingido a maturidade em algumas zonas do globo, a área internacional apresenta ainda um grande potencial de crescimento – estima-se que a proporção da população mundial que usufrui do turismo internacional seja de apenas 3,5%.
A europa é o destino mais visitado do mundo, mas é na Ásia e no Pacífico onde se estima a maior margem de crescimento, devendo superar os 6% ao longo dos próximos anos.
O Turismo assume hoje um papel fundamental na geração de emprego e de riqueza mundial. Não obstante, o setor está exposto a riscos de várias naturezas. A MEL destaca três riscos de carácter global:
- Riscos geopolíticos relacionados com o Brexit, a guerra comercial, alterações das taxas de câmbio entre outros;
- Riscos relacionados com a incerteza económica a nível nacional ou internacional;
- Riscos ambientais, relacionados com as mudanças climáticas, furacões, vulcões, tremores de terra entre outros.
A indústria do turismo foi particularmente afetada pela pandemia, registando receitas praticamente nulas no período do confinamento total. No ano de 2020 serão registadas provavelmente as maiores perdas da história da indústria. A estratégia passa agora pela aposta no turismo doméstico, tendo em conta os condicionamentos das deslocações internacionais.
O primeiro semestre de 2021 deverá ser ainda um período difícil para a industria hoteleira, sendo de prever alguma recuperação ao longo do segundo semestre de 2021. Mas será preciso esperar até 2022 provavelmente, para se poder assistir a uma forte recuperação do setor.
Vantagem competitiva
A presença internacional da MEL atribui uma certa vantagem competitiva face às cadeias de menor dimensão, na medida em que está menos exposta aos riscos locais. O ano de 2019 exemplifica bem essa vantagem: apesar das crises que se fizeram sentir em algumas das suas localizações mais importantes (já mencionadas), a MEL foi capaz de manter os lucros dos anos anteriores.
O facto de apresentar 7 marcas distintas, com público-alvo distinto, contribui para a resiliência do negócio. Por exemplo, a queda do turismo familiar num determinado período pode ser compensada por uma subida no turismo de negócios.
O estado avançado de digitalização dos processos da empresa será certamente outra das vantagens competitivas da empresa. 70% do total de vendas são efetuadas através dos canais digitais da MEL, o que aumenta as receitas por via de um processo de marcação mais simples, e aumenta a margem de lucro por via da redução dos custos.
Finalmente, o balanço entre os serviços de management e a gestão dos hotéis próprios suaviza o caracter cíclico do negócio.
Management
A empresa foi fundada em 1956 por Gabriel Escarrer Juliá, atual Chairman da companhia, quando tinha apenas 21 anos. O negócio começou com a aquisição de um hotel de 60 quartos na ilha de Maiorca, o local onde nasceu e onde está sediada a empresa nos dias de hoje. Sob a liderança de Gabriel Escarrer Juliá a empresa teve um percurso assinalável, expandindo-se para mais de 40 países e tornando-se numa das maiores cadeias hoteleiras do mundo.
A segunda geração da família entrou na gestão da empresa nos anos 90, sendo Gabriel Escarrer Jaume, um dos seis filhos do fundador, o atual vice-presidente e CEO da empresa. Jaume é graduado em finanças e gestão de empresas, sendo apontado como o responsável pela transformação tecnológica da empresa, que é considerada uma das chaves da sua competitividade atual.
A família Escarrer é detentora de 52% da MEL.
A administração parece estar alinhada com os acionistas, na medida em que tem vindo a aumentar a contribuição aos acionistas ao longo dos últimos anos, distribuindo o capital através de dividendos e recompra de ações (ver imagem seguinte).
Situação financeira
No primeiro semestre de 2020, a MEL apresentou um resultado histórico negativo de -358.6 M€, fazendo antever um ano desastroso para a empresa. O segundo trimestre foi o pior período na história da empresa, com abril e maio a registar volumes de faturação próximos de zero.
É de realçar que a empresa registou cerca de 147 M€ em imparidades. As imparidades tiveram impacto no resultado líquido mas não na liquidez, uma vez que se trata de uma transação não monetária.
Liquidez
Em plena segunda vaga da pandemia, a análise dos rácios de liquidez passou a ser um requisito obrigatório para a MyStockIdeas. Mesmo empresas lucrativas podem entrar em insolvência por falta de liquidez. As empresas que se encontram nos setores mais expostos à pandemia, como a aviação ou a indústria hoteleira, apresentam o maior risco de liquidez atualmente.
Na análise da liquidez de uma empresa destacam-se dois indicadores: Working Capital / Sales e o Current Ratio. Como seria de esperar, os rácios de liquidez da MEL desceram drasticamente no primeiro semestre de 2020.
Analisando o histórico de longo prazo verifica-se que a empresa tem vindo a perder liquidez ao longo dos anos. Só nos primeiros 6 meses do ano a MEL perdeu cerca de 142 M€ em cash, sobrando cerca de 190 M€. No final do semestre de 2020, a empresa apresentava um passivo corrente de 760 M€ contra 494 M€ de ativo corrente. Retirando a parcela da dívida, que pode eventualmente entrar em processo de moratória, o passivo corrente passa para 397 M€ contra 494 M€ de ativo corrente, o que mesmo assim não coloca a empresa numa situação confortável se tivermos em conta a perda de liquidez que a MEL sofreu no primeiro semestre de 2020.
Solvência
Os rácios de insolvência também são particularmente importantes nesta fase de pandemia.
A entrada em vigor da IFRS16 em 2019 obrigou as empresas a capitalizarem as rendas (“leases”), o que alterou bastante a estrutura de capital da MEL (uma parte importante das suas receitas provém de hotéis arrendados). Assim, a componente da dívida da MEL aumentou significativamente com a IFRS16, resultando num debt-to-equity ratio de 1.8 no final de 2019 (ver imagem ao lado). A relação da dívida com o património líquido (debt to equity) pode ser utilizada para perceber o modo como a empresa se financia. Como o indicador Debt to Equity Ratio foi maior que 1, sabemos que a empresa é financiada mais por dívida do que por capital próprio, apresentando um perfil de maior risco para o investidor. Este indicador pode ser distorcido por ganhos ou perdas retidas, ativos intangíveis e custos associados aos planos de pensão, pelo que poderá não ser suficiente para se compreender a verdadeira alavancagem de uma empresa.
Analisando a empresa pela relação entre os ativos e passivos, encontramos novamente o efeito da IFRS nos resultados. O aumento da rúbrica da dívida levou este rácio para valores abaixo dos recomendados.
Apesar disto, os gastos de capital da empresa não são intensivos e ainda diminuíram em 2019, o que traz algum alívio aos investidores.
Rentabilidade
A empresa perdeu rentabilidade nos últimos anos, com o ROC a passar de 6.82% para 5.81% em 4 anos (ver figura abaixo). Esta descida foi causada por uma perda da rentabilidade operacional: a Margem Operacional passou de 13.12% para 11.33% no mesmo período. Apesar disso, a empresa demonstrou capacidade para gerar cash flow no período pré-covid.
Tese de investimento
O setor da hotelaria está a sofrer uma pressão sem precedentes, que provocou perdas milionárias na MEL no primeiro semestre de 2020. Na fase pré-covid a empresa já mostrava alguns sinais de enfraquecimento, registando uma perda na rentabilidade nos últimos anos e uma queda significativa das receitas em 2019. Mas a empresa apresentou sempre bons rácios de liquidez, principalmente em 2018 e 2019, que soube distribuir pelos acionistas através de dividendos e recompra de ações.
A liquidez da empresa é satisfatória, mas poderá não ser suficiente caso o impacto da pandemia se prolongue para além do primeiro semestre de 2021. Isso poderá obrigar a empresa a aumentar a sua dívida em condições desfavoráveis.
No nosso modelo financeiro considerámos que a empresa sofrerá uma redução de 20% das suas receitas em 2020, recuperando o nível de receitas do período pré-covid apenas em 2023. Considerámos que a empresa apresentará um prejuízo operacional de cerca de 360 M€ em 2020, voltando a apresentar lucros modestos já em 2021. Se a empresa adiar alguns investimentos, acreditamos que conseguirá gerar cash-flow positivo já em 2021. No modelo considerámos ainda que a margem operacional recuperará gradualmente entre 2021 e 2025, estabilizando num patamar inferior ao registado na fase pré-covid, fruto da perda de rentabilidade registada nos últimos anos. Tudo isto resulta num valor intrínseco por ação de 3.95 €/ação antes de interesses minoritários. Retirando a parcela dos interesses minoritários obtém-se o valor final de 3.77 €/ação. Considerando uma margem de segurança de 30%, recomendamos a compra de ações da MEL por um preço igual ou inferior a 2.64 €/ação. À data desta avaliação, 31 de outubro de 2020, a MEL estava a ser transacionada a 3.18 €/ação.
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