Euronet Worldwide Inc (EEFT)
Principais resultados da análise
Quando falamos em Euronet pensamos de imediato nas diversas caixas multibanco “ATM” que se encontram espalhadas pelos locais turísticos do nosso país. Mas o portefólio de serviços que a empresa oferece é bem mais vasto que o serviço prestado numa simples caixa multibanco. A EEFT gere um negócio de pagamentos eletrónicos, disponibilizando serviços de pagamento e de transações destinados a instituições financeiras, retalhistas, prestadores de serviços e consumidor final.
A EEFT registou um crescimento impressionante nos últimos 10 anos, beneficiando de um efeito de escala que lhe deverá garantir uma boa rentabilidade a longo prazo.
Não é muito comum, nos tempos de hoje, encontrar uma pessoa a liderar uma empresa com sucesso há mais de 20 anos, pelo que acreditamos que Michael J. Brown (atual CEO e Chairman) o faça com muita paixão. Quando investimos num gestor com um longo histórico de sucesso, existem grandes hipóteses de ele continuar a gerir a empresa com esse mesmo sucesso.
Embora a empresa esteja particularmente exposta aos efeitos da pandemia, pesando todos os fatores, chegámos a um valor intrínseco de $127.9/ação, pelo que recomendamos a compra de ações até $89.5/ação (margem de segurança de 30%). À data desta análise, 15 de setembro de 2020, as ações estavam cotadas ao preço de $92.50.
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Empresa
A EEFT passou de um único ATM para 50 000 ATMs, mais de um milhão de terminais de pagamento e a segunda maior rede de transferências monetárias mundial, num espaço de 25 anos.
Os negócios da empresa distribuem-se por três segmentos:
Eletronic Funds Transfer (EFT) – A rede da empresa consiste em mais de 50 000 ATMs que possibilitam a realização de levantamentos, depósitos, e um conjunto de outros serviços inovadores como o levantamento de dinheiro sem cartão, pagamentos em tempo real (não esperam pelo processamento noturno), entre outros. O número de ATMs geridos pela empresa continua a aumentar, seguindo uma tendência inversa da verificada nos ATMs dos bancos tradicionais (fruto da redução do número de balcões). Este segmento registou um crescimento de 2 dígitos pelo oitavo ano consecutivo em 2019, tendo representado 32% das receitas da EEFT.
Epay – Esta tecnologia utiliza os telemóveis como meio de pagamento, disponibilizando carteiras digitais que dão aos clientes e retalhistas a possibilidade de fazerem pagamentos sem necessitar do cartão multibanco ou de dinheiro (https://www.euronetworldwide.com/2019-annual-report-videos/video-2/). A tecnologia disponibiliza também um serviço de cheques-prenda digitais aos retalhistas e consumidores. Trata-se de algo semelhante aos cheques-prenda que os shoppings oferecem, que vêm com um plafond pré-definido que pode ser utilizado num número determinado de lojas. No entanto, os cheques-prenda digitais são comprados e utilizados através do telemóvel e oferecem um leque de opções muito mais diversificado. Este segmento registou um crescimento de dois dígitos em 2019, pelo segundo ano consecutivo, tendo representado 28% das receitas da EEFT.
Money Transfer – Através das marcas “Ria” e “IME”, a empresa oferece aos clientes a possibilidade de enviarem dinheiro diretamente para as suas famílias ou amigos, através de várias plataformas como os ATMs, um agente Ria ou diretamente da sua conta bancária. Atualmente a EEFT tem a segunda maior rede global com cerca de 400 000 localizações espalhadas por 160 países. Embora a maior parte das remessas seja em dinheiro, a EEFT oferece também a possibilidade de envio de dinheiro digital através de carteira digitais, recorrendo à sua plataforma “xe” adquirida em 2015. O negócio de envio de remessas internacionais na EEFT cresceu a dois dígitos em 2019, num setor onde se prevê um crescimento de um dígito para os próximos anos. Este segmento representou 40% das receitas de 2019.
Indústria
O setor dos pagamentos digitais pretende criar melhores experiências aos utilizadores, tornando as transações bancárias tradicionais mais fáceis de realizar. O setor está a provocar uma verdadeira disrupção no modelo tradicional, no qual os pagamentos eram exclusivos do setor bancário. Atualmente, há cada vez mais pagamentos a ser geridos por empresas de tecnologia não bancárias. Estas empresas normalmente oferecem uma variedade de serviços diferenciados apoiados na inovação tecnológica, como a oferta de cheques-prenda digitais, num ecossistema projetado para funcionar com carteiras digitais proprietárias ou outros métodos de pagamento digital.
Embora esteja em crescimento, o setor enfrenta também alguns desafios:
- O crescente volume de pagamentos digitais feitos fora do sistema bancário formal está exposto a ataques cibernéticos e violações de dados pessoais, levando a mudanças frequentes na regulação existente. Para além de uma constante adaptação que isso requer ao setor, também faz com que as diferenças de regulação entre países se vão acentuando, dificultando a expansão global deste tipo de soluções;
- Contratar o talento certo é outro dos grandes desafios que a indústria enfrenta atualmente. Numa altura em que a procura por talentos informáticos é cada vez maior, o conhecimento de finanças que o negócio exige pode reduzir ainda mais as opções de contratação de pessoal, aumentando os custos de mão-de-obra e diminuindo a taxa de retenção dos colaboradores;
- Por último, muitas empresas do setor não têm acesso à mesma informação que os bancos têm acesso -como às informações relativas a clientes fornecidas pelas agências de crédito - aumentando o risco inerente ao negócio.
Vantagem competitiva
Acreditamos que a EEFT pode ter uma vantagem competitiva derivada do efeito de escala. No caso dos ATMs por exemplo, o custo marginal associado à instalação de novos equipamentos é cada vez menor, uma vez que o software de utilização já existe e não tem de ser desenvolvido de novo.
Da mesma forma, os custos associados às exigências regulatórias e licenças são distribuídos por cada vez mais equipamentos, baixando o custo por unidade. O mesmo acontecerá nos outros segmentos da empresa.
No gráfico ao lado podemos verificar que o indicador Gross Profit Margin tem demonstrado uma evolução positiva, o que geralmente é indício de que a empresa tem algum tipo de vantagem competitiva.
Mas a EEFT enfrenta uma dura competição:
- Existem outras empresas a operar no mercado dos ATM e dos terminais multibanco, que competem diretamente com a EEFT prestando serviços semelhantes;
- No segmento do epay, a EEFT compete com multinacionais que disponibilizam serviços móveis semelhantes, como plataformas que permitem a oferta de presentes digitais ou compras físicas em lojas. Algumas operadoras móveis estão também a entrar neste segmento;
- No segmento das remessas a EEFT enfrenta a competição de várias empresas da qual se destaca a “The Western Union Company” que, para se ter ideia da dimensão, apresenta cerca do dobro das receitas relativamente à EETF. Também estão a surgir novas tecnologias que competem com a empresa neste segmento, nomeadamente da área dos web-services e da utilização de moedas digitais.
Para além de tudo isto, Fintechs como a Revolut, estão a acelerar o processo de desmonetização da sociedade, fazendo com que se recorra cada vez menos ao dinheiro físico. Isso tem um impacto em praticamente todo o negócio da EEFT, sendo mais impactante nas receitas provenientes dos ATMs.
Seja como for, o histórico da empresa dá-nos algumas garantias quanto ao futuro.
Management
Michael J. Brown é o Chairman, CEO e presidente da Euronet. Michael é um dos fundadores da empresa e chairman quase desde a data de fundação, em 1996. Michael Brown começou a sua carreira de empreendedor bem cedo, com a criação a Innovative Software, Inc., uma empresa de software que viria a fundir-se com a Informix em 1988, onde Michael viria a exercer outros cargos de liderança.
Os gestores que também são fundadores do negócio e estão na liderança há largos anos geralmente têm uma grande paixão pelo negócio. Michael tem cerca de $160M em ações, quase 3% do número total de ações disponíveis. Gestores com elevado volume de ações tendem a pensar a mais longo prazo e a estar alinhados com os interesses dos acionistas.
Michael levou a empresa por uma trajetória de crescimento assinalável ao longo dos 25 anos. Quando investimos num gestor com um longo histórico de sucesso (mais de 10 anos), existem grandes hipóteses de ele continuar a gerir a empresa com esse mesmo sucesso.
Embora Michael Brown tenha cerca de 3% das ações do mercado, a EEFT nunca implementou políticas de distribuição de dividendos ou de recompra de ações, duas medidas que podem compensar diretamente os acionistas. No entanto, nos últimos 10 anos o capital próprio passou de -$28M para $693M (net book value), um crescimento impressionante (ver gráfico ao lado)! Utilizamos o net book value porque este indicador desconta o efeito do Goodwill e Intangibles, dois ativos pouco fiáveis.
O net book value é um indicador obrigatório na avaliação de uma empresa. Se o valor contabilístico de uma empresa incluir um valor elevado de ativos intangíveis, como goodwill por exemplo, o capital próprio pode estar sobrevalorizado. Por outro lado, alguns ativos podem estar registados abaixo do seu justo valor, como terrenos por exemplo, resultando num capital próprio subvalorizado. Embora não esteja completamente livre das nuances mencionadas, será mais prudente analisar o capital próprio líquido de ativos intangíveis e de interesses minoritários (net book value), pois produz uma visão mais aproximada do real valor do balanço.
Situação financeira
A situação financeira da empresa registada no 1º semestre de 2010 ficou marcada por uma diminuição acentuada do Resultado Não Operacional. Essa diminuição foi consequência do reconhecimento de $104M em imparidades de Goodwill, nos testes de Goodwill realizados pela empresa no segundo trimestre deste ano.
Na realidade, trata-se de uma despesa não monetária, uma vez que não existe uma saída efetiva de dinheiro da empresa.
Para entender melhor esta questão, é preciso saber que Goodwill representa o valor que a EEFT pagou em excesso face ao justo valor das empresas que adquiriu ao longo do tempo. Isto ocorre frequentemente nos processos de aquisição, porque a empresa compradora geralmente considera que existem alguns ativos escondidos no balanço da empresa adquirida, como o valor da marca ou propriedade intelectual por exemplo.
As empresas testam as imparidades de Goodwill numa base anual.