É tempo de prudência.

  • MyStockIdeas
  • Junho 29, 2020

O otimismo em torno de uma recuperação em “V”, motivado por uma política monetária e fiscal sem precedentes e pelo desconfinamento generalizado da economia, foi recentemente abalado pelo ressurgimento de novos casos do COVID-19.

Isso​​ estará na origem da correção nas bolsas que ocorreu na semana passada. No entanto, alguns​​ index​​ continuam com valores aparentemente desajustados da realidade económica, em particular na bolsa dos EUA, o que faz temer uma descida generalizada dos preços das​​ ações.

O caso particular dos EUA é justificado pelas políticas excecionais da FED, que incluíram a aquisição de dívida corporativa e de​​ Exchange Traded Funds​​ (ETF´s) no pacote de medidas de apoio à economia. Isso poderá ter contribuído para a subida dos preços das ações e para o acesso ao crédito às empresas.​​ O​​ index​​ S&P500 recuperou 38% do mínimo verificado em 23 de março, o Nasdaq 46% e o Russel 2000 subiu 43%. O S&P 500 está​​ apenas a 9% do seu máximo verificado antes do COVID-19, numa altura em que nos encontramos à entrada de uma crise sem precedentes.​​ A questão que se coloca é sobre a durabilidade das políticas excecionais da FED.

Já antes da crise do COVID-19 as baixas taxas de juros contribuíram para a proliferação de​​ zombies corporativos, ie, empresas​​ onde os juros da dívida superam os lucros.​​ Alguns economistas​​ acreditam que​​ esses investimentos​​ deveriam ter sido direcionados exclusivamente para as​​ empresas rentáveis​​ - aquelas​​ que contribuem para o PIB​​ -​​ em vez de serem direcionados​​ também​​ para empresas em risco de sobrevivência.

Por cá, a situação do PSI-20 é um pouco diferente. Subiu cerca de 19% do seu mínimo e ainda está cerca de 17% abaixo do valor anterior à crise. Ainda assim, o​​ index​​ bolsista nacional poderá não estar a refletir o impacto total da crise nas empresas portuguesas. Mais de​​ um milhão de trabalhadores estão em regime de lay-off e existem já milhares de novos desempregados. Podemos estar perante um colapso do emprego. O regime das moratórias de crédito cobre já 22% do crédito total concedido por oito dos maiores bancos do sistema. Perante evidências do prolongamento da crise, o regime excecional das moratórias foi prolongado até ao final de março de 2021. O regime de moratórias reduz a probabilidade de surgimento de incumprimentos, mas esta medida só terá um efeito positivo se os intervenientes recuperarem os seus rendimentos no final do período abrangido.

Na zona euro, perderam-se quase 4.5 milhões de empregos até maio. Um dos setores mais afetados foi o turismo, uma indústria que teve um papel fundamental na recuperação económica de Portugal na fase que se seguiu à crise financeira de 2008. O FMI atualizou esta semana as previsões económicas, agravando ainda mais as​​ estimativas​​ de queda da economia europeia.

Muitos economistas acreditam que a recuperação acontecerá num período mais curto comparativamente com a crise de 2008, tendo em conta que o impacto da pandemia foi muito mais imediato que na crise precedente. A espectativa é de que o clima económico possa melhorar já no próximo ano. Mas será difícil conter o vírus por muito mais tempo, sendo de esperar um agravamento da situação no próximo inverno, o mais tardar.​​ 

Perante tamanhos impactos, na MyStockIdeas pensamos que dificilmente se assistirá a uma recuperação rápida da economia. Por isso, o tempo é de prudência...