É tempo de prudência.
O otimismo em torno de uma recuperação em “V”, motivado por uma política monetária e fiscal sem precedentes e pelo desconfinamento generalizado da economia, foi recentemente abalado pelo ressurgimento de novos casos do COVID-19.
Isso estará na origem da correção nas bolsas que ocorreu na semana passada. No entanto, alguns index continuam com valores aparentemente desajustados da realidade económica, em particular na bolsa dos EUA, o que faz temer uma descida generalizada dos preços das ações.
O caso particular dos EUA é justificado pelas políticas excecionais da FED, que incluíram a aquisição de dívida corporativa e de Exchange Traded Funds (ETF´s) no pacote de medidas de apoio à economia. Isso poderá ter contribuído para a subida dos preços das ações e para o acesso ao crédito às empresas. O index S&P500 recuperou 38% do mínimo verificado em 23 de março, o Nasdaq 46% e o Russel 2000 subiu 43%. O S&P 500 está apenas a 9% do seu máximo verificado antes do COVID-19, numa altura em que nos encontramos à entrada de uma crise sem precedentes. A questão que se coloca é sobre a durabilidade das políticas excecionais da FED.
Já antes da crise do COVID-19 as baixas taxas de juros contribuíram para a proliferação de zombies corporativos, ie, empresas onde os juros da dívida superam os lucros. Alguns economistas acreditam que esses investimentos deveriam ter sido direcionados exclusivamente para as empresas rentáveis - aquelas que contribuem para o PIB - em vez de serem direcionados também para empresas em risco de sobrevivência.
Por cá, a situação do PSI-20 é um pouco diferente. Subiu cerca de 19% do seu mínimo e ainda está cerca de 17% abaixo do valor anterior à crise. Ainda assim, o index bolsista nacional poderá não estar a refletir o impacto total da crise nas empresas portuguesas. Mais de um milhão de trabalhadores estão em regime de lay-off e existem já milhares de novos desempregados. Podemos estar perante um colapso do emprego. O regime das moratórias de crédito cobre já 22% do crédito total concedido por oito dos maiores bancos do sistema. Perante evidências do prolongamento da crise, o regime excecional das moratórias foi prolongado até ao final de março de 2021. O regime de moratórias reduz a probabilidade de surgimento de incumprimentos, mas esta medida só terá um efeito positivo se os intervenientes recuperarem os seus rendimentos no final do período abrangido.
Na zona euro, perderam-se quase 4.5 milhões de empregos até maio. Um dos setores mais afetados foi o turismo, uma indústria que teve um papel fundamental na recuperação económica de Portugal na fase que se seguiu à crise financeira de 2008. O FMI atualizou esta semana as previsões económicas, agravando ainda mais as estimativas de queda da economia europeia.
Muitos economistas acreditam que a recuperação acontecerá num período mais curto comparativamente com a crise de 2008, tendo em conta que o impacto da pandemia foi muito mais imediato que na crise precedente. A espectativa é de que o clima económico possa melhorar já no próximo ano. Mas será difícil conter o vírus por muito mais tempo, sendo de esperar um agravamento da situação no próximo inverno, o mais tardar.
Perante tamanhos impactos, na MyStockIdeas pensamos que dificilmente se assistirá a uma recuperação rápida da economia. Por isso, o tempo é de prudência...