Biogen Inc (BIIB)
Principais resultados da análise
A Biogen (BIIB) é uma biofarmacêutica que se dedica à criação de terapêuticas ligadas às Esclerose Múltipla, à Neuroimunologia, Doença de Alzheimer, Demência, Desordens Neuromusculares, Desordens do Movimento e Oftalmologia.
A empresa tem uma área de investigação destinada a novas terapias das áreas da Imunologia, Desordens Neurocognitivas, Neurologia Aguda e Dor.
A BioGen dedica-se ainda à comercialização de biosimilares (alternativas biológicas a terapias já existentes).
A BioGen apresentou um crescimento muito significativo das receitas e lucros nos últimos 10 anos. Mas a pressão crescente da concorrência deverá criar um impacto negativo na receita e nas margens operacionais dos próximos anos. O valor intrínseco estimado é de $321/ação.
Considerando a margem de segurança de 30% adoptada nas mais recentes análises da MyStockIdeas, as ações da BioGen devem ser adquiridas por um preço menor ou igual que $224/ação. O preço à data desta análise, 26 de junho de 2020, é de $258/ação.
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Produtos
A Esclerose Múltipla é uma doença neurológica progressiva em que o corpo perde a capacidade de transmitir mensagens através das células nervosas, levando a uma perda do controlo muscular, paralisia e, em alguns casos, à morte. Durante mais de duas décadas a BIIB centrou os seus esforços na descoberta de novas terapias de tratamento da Esclerose Múltipla, criando um portefólio de terapêuticas que melhorou significativamente a qualidade de vida dos doentes e contribuiu para o crescimento da empresa. O departamento de R&D dedica-se atualmente à descoberta de novas terapias de tratamento da Esclerose Múltipla, com as quais ambiciona reverter ou mesmo reparar os danos provocados pela doença.
A competição nesta área é intensa, existindo várias empresas que estão a trabalhar na pesquisa de novos tratamentos. A BIIB concorre com empresas como a Sanofi, a Bayer, Novartis entre outras. O TECFIDERA, um fármaco que representa cerca de 50% da faturação desta área, deverá passar a ter a concorrência de genéricos já em 2021. Como tal, o nível de receitas deverá descer inevitavelmente, embora existam dois fatores que poderão diminuir o impacto da concorrência: uma nova fonte de receita proveniente dum fármaco recentemente lançado pela empresa, o VUMERITY; o direito aos Royalties (mais de 20%) de um dos principais concorrentes, o OCREVUS da Roche.
A Atrofia Muscular Espinhal é caracterizada pela perda de neurónios motores na medula espinhal e tronco cerebral inferior, que resulta numa severa e progressiva atrofia muscular e fraqueza, podendo levar a uma paralisa total do corpo. A BIIB foi responsável pelo primeiro tratamento aprovado para a Atrofia Muscular Espinhal e continua a desenvolver esforços de investigação e desenvolvimento em busca de potenciais avanços no tratamento da doença.
Nesta área, a BIIB enfrenta a concorrência de uma nova terapia genética que foi aprovada em maio de 2019 nos EUA, da Novartis. Existem também outros produtos em desenvolvimento que, se bem-sucedidos, poderão competir com o medicamento da BIIB, o SPINRAZA.
Biosimilares são tratamentos biológicos que apresentem características similares a terapêuticas já existentes com marca própria. A BIIB comercializa vários biosimilares, através de uma parceria com a Samsung BioLogics. A empresa tem também direitos exclusivos de produção de dois potenciais biosimilares oftalmológicos.
Os produtos biosimilares competem com os produtos de referência (originais), assim como com outros produtos biosimilares.
Genentech é uma empresa de biotecnologia, subsidiária da Roche, com quem a BIIB tem uma série de acordos, que lhe garantem direitos financeiros sobre certas terapêuticas, com especial destaque para as terapias anti-CD20 (o desenvolvimento de anticorpos monoclonais anti-CD20 mudou drasticamente o tratamento de linfomas não Hodgkin).
A BIIB e a Roche competem, nesta área, com uma série de terapêuticas concorrentes. A patente do RITUXAN, um dos fármacos comercializados pelas empresas, expirou em 2018, abrindo caminho ao desenvolvimento de biosimilares. Alguns produtos concorrentes foram recentemente lançados no mercado, o que deverá diminuir significativamente as margens de lucro associadas a este produto. Ainda assim, a BIIB deverá conseguir conservar as suas receitas nesta área, compensando a perda da patente com as receitas provenientes da comercialização de outros dois fármacos, o RITUXAN HYCELA e o GAZYVA.
Ilustração 1 – Evolução do volume de vendas dos três principais segmentos
Pipeline
Depois de concluídos os testes laboratoriais com animais, os estudos clínicos passam a envolver seres humanos. Esta etapa de pesquisa com seres humanos compreende 4 fases.
Na fase 1 a investigação é conduzida geralmente num pequeno número de voluntários saudáveis, tendo como principal objetivo avaliar a segurança e a dosagem ideal do produto sob investigação.
A fase 2 é focada nos resultados clínicos do medicamento, sendo realizada em pacientes voluntários. O estudo avalia os efeitos adversos de curto prazo e riscos relacionados com a segurança do medicamento. Geralmente é efetuado num número maior de pessoas.
Na fase 3 os estudos são realizados num grande número de pacientes, comparando o medicamento com o melhor tratamento existente ou com um padrão de tratamento da doença. Esta fase serve para confirmar os resultados obtidos na fase 2, determinar as reações adversas mais frequentes e a relação risco/benefício a curto e longo prazo.
Se os resultados da fase anterior forem favoráveis e a entidade reguladora estiver de acordo com os dados submetidos, é concedida a autorização para lançamento e comercialização do produto e o novo medicamento passa a estar disponível aos pacientes.
A fase 4 consiste em estudos pós comercialização, podendo incluir milhares de pacientes. Estes estudos pretendem avaliar os efeitos de longo prazo, com base em testes no “mundo real”. Visa também detetar eventos adversos pouco frequentes ou não esperados.
O combate à Doença de Alzheimer e demência, um dos maiores desafios atuais da indústria farmacêutica, teve desenvolvimentos interessantes em 2019. Em março desse ano a BIIB anunciou a decisão de descontinuidade dos testes de fase 3 dos produtos que a empresa estava a desenvolver. No entanto, em outubro de 2019 os testes foram retomados após terem surgido evidências, da análise duma base de dados mais alargada, de que houve uma redução no declínio do estado clínico dos pacientes testados. A BIIB tem atualmente 2 medicamentos em desenvolvimento, encontram-se ambos na fase 3 de testes.
A empresa tem ainda mais quatro terapias na fase 3 de testes: uma ligada à Atrofia Muscular Espinhal; uma à área de oftalmologia; uma à neurologia aguda; e uma terapia da área dos biosimilares.
Todas estas terapias poderão reduzir a pressão da concorrência, contribuindo para os resultados futuros da empresa.
Indústria
Em termos gerais, a Indústria biofarmacêutica é caracterizada por uma forte componente de R&D (ver figura seguinte). A indústria farmacêutica investe cerca de 5 vezes mais que a média das restantes indústrias, alocando 21% das vendas na descoberta de novos fármacos. O investimento em R&D mais que triplicou nos últimos 20 anos. Apenas 2 em cada 10 medicamentos aprovados geram receitas que excedem a média dos custos do seu desenvolvimento.
Ilustração 2 – Componentes do Resultado Operacional da BIIB de 2019, com os custos de R&D em evidência
A liderança nesta indústria depende da capacidade de inovação das empresas e da qualidade e duração das suas patentes. Depende também do potencial de aprovação dos seus produtos pelas entidades reguladoras e da aceitação pelos consumidores. A aptidão para a contratação e retenção dos melhores profissionais da área é mais um fator chave a ter em conta na capacidade competitiva das empresas.
A entrada prematura de um produto no mercado leva, geralmente, a uma maior aceitação e market share, pelo que a velocidade relativa com que os produtos são desenvolvidos, testados, aprovados e produzidos em massa tem também um impacto importante na capacidade competitiva das empresas.
Por fim, a competitividade das empresas depende do modo como enfrentam a ameaça dos medicamentos genéricos, pró-fármacos e biosimilares. Estes produtos alternativos tendem a ser comercializados a preços mais baixos que os produtos de marca, influenciando o preço e o volume de venda dos produtos originais.
Vantagem competitiva
A BioGen apresenta uma grande diversidade de soluções, nomeadamente, várias terapêuticas na área da Esclerose Múltipla, fármacos da área da oncologia (resultantes da parceria com a Roche) e o medicamento SPINRAZA que é uma referência no combate à Atrofia Muscular Espinhal. Essa diversidade reduz a importância relativa dos seus produtos, tornando a empresa, como um todo, mais resiliente à concorrência.
A BIIB apresenta um pipeline promissor ligado à área da neurologia. O facto de se focar exclusivamente na área da neurologia levou a que a BIIB se destacasse face aos seus concorrentes. A área da neurologia implica um grande esforço de pesquisa e desenvolvimento. Apesar da maior parte dos produtos da BIIB serem biológicos, a neurologia oferece consideráveis barreiras à entrada de novos competidores, nomeadamente dos produtos biosimilares.
A vantagem competitiva da BioGen está bem explícita nas margens de lucro da empresa, nomeadamente nas margens operacionais e no retorno que obtém do seu capital (ver imagem seguinte).
Ilustração 3 - Evolução do ROC e dos seus determinantes
Management
Michel Vounatsos é o Diretor Executivo da BIIB desde janeiro de 2017. Antes disso, Michel Vounatsos assumiu o cargo de Diretor Comercial e Vice-Presidente Executivo da BIIB entre abril de 2016 e dezembro de 2016. Antes de ingressar na BIIB teve uma longa carreira na Merck, onde exerceu vários cargos, incluindo o de presidente. Michel Vounatsos é considerado um líder empresarial sofisticado e criativo.
Em março de 2019, o Conselho de Administração autorizou um programa de recompra que pode ir até $5B de ações ordinárias, sem data de validade associada. Isso corresponde a cerca de 10% das ações, a preços de 2019.
O programa de recompra de ações já não é novidade na empresa. O número de ações ordinárias disponíveis no mercado passou de 240M em 2010 para 174M em 2019, uma redução de 28% (ver figura seguinte).
Ilustração 4 - N.º de ações ordinárias
Situação financeira
A última década foi extremamente favorável para a BioGen. O Resultado Líquido passou de $1234M em 2011 para $5879M em 2019. O Resultado Operacional passou de $1744M para $7296M no mesmo período (ver Ilustração 5).
O domínio na área da Esclerose Múltipla permitiu à empresa elevar as suas receitas e as suas margens operacionais para níveis invejáveis, dando grande retorno aos investidores (ver Ilustração 6).
Ilustração 5 - Evolução do resultado Líquido e restantes componentes
Ilustração 6 - Margem Bruta
A BIIB encontra-se numa posição financeira segura, mostrando bons rácios de liquidez e solvência. A BIIB ostenta também um perfil de financiamento conservador, apresentando um debt-to-equity ratio de 0.5 e um peso reduzido da dívida relativamente ao seu Resultado Operacional.
Ilustração 7 - Análise dos juros (% of Operation Income)
Avaliação e Key Indicators
Existe uma grande incerteza na avaliação das empresas farmacêuticas, na medida que é muito difícil avaliar o potencial dos seus pipelines. No caso da BioGen, essa incerteza está bastante explícita na curva de preço das ações de 2019 (ver figura abaixo). O preço sofreu uma descida considerável em março, quando os testes de fase 3 dos fármacos da Doença de Alzheimer foram descontinuados, tendo recuperado para os valores anteriores em outubro de 2019, quando os testes foram retomados.
Ilustração 8 - Variação do preço das ações (fonte:Morningstar)
Considerando uma perda de receita de 1% ao ano até 2024 (reflete a opinião da generalidade dos analistas) e uma diminuição gradual da margem operacional antes de impostos para 35% até 2024 (fruto de uma maior concorrência na área da Esclerose Múltipla), obtemos um valor intrínseco de $321/ação. No entanto acreditamos que este valor estará abaixo do real valor da empresa se o fármaco da Doença de Alzheimer vier a ser aprovado, mas o contrário também acontecerá se o fármaco não passar para a fase de produção.
Mantendo a margem de segurança das mais recentes análises da MyStockIdeas (30%), recomendamos a compra das ações da BioGen por um preço menor ou igual que $224/ação. O preço à data desta análise, 26 de junho de 2020, é de $258/ação.
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