Allison Transmission Holdings Inc. (QM)
Principais resultados da análise
Os crashes da bolsa atingem todas as empresas, independentemente da sua situação financeira. Depois de um crasch seria natural que as melhores empresas recuperassem mais rapidamente. Curiosamente, não parece ser este o padrão do crash do Covid-19, assistindo-se, frequentemente, a subidas expressivas dos preços de ações de empresas deprimidas e a recuperações mais lentas em empresas robustas com posições dominantes nos seus mercados. Na primeira situação encontramos várias start-ups que nunca apresentaram lucros. Na segunda situação encontramos, por exemplo, a Allison Transmission Holdings Inc (ALSN), uma empresa que tem um papel dominante na sua indústria e um histórico de resultados sólido. Este tipo de contradições oferece boas oportunidades aos investidores.
A ALSN está bastante exposta aos ciclos económicos. Sendo uma empresa que fornece soluções para motores de combustão, enfrenta também uma eventual disrupção do marcado relacionada com o crescente interesse pelos veículos elétricos. Ainda assim, pensamos que a ALSN deverá continuar a apresentar bons resultados nos próximos anos. Pensamos também que conseguirá fazer a transição para os veículos elétricos, mantendo algum crescimento no futuro embora com margens mais apertadas.
Tudo isto resulta num valor intrínseco por ação de $46.18. Assumindo uma margem de segurança de 30%, recomendamos a compra da ALSN a partir de $32.30. O preço das ações à data desta análise, 21 de junho de 2020, é de $36.64.
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Empresa
O core business da Allison Transmission Holdings Inc (ALSN) é o fornecimento de transmissões totalmente automáticas para veículos comerciais.
Ilustração 1 – transmissão automática modelo T 3270xFE, da Allison
A empresa, fundada em 1915, está sediada em Indianapolis, EUA. A ALSN tornou-se uma empresa privada em 2007, tendo sido adquirido nesse ano à General Motors por um grupo privado que viria a torná-la pública em 2012, passando então a ser transacionada na New York Stock Exchange.
A empresa tem cerca de 3700 colaboradores. No final de 2019, 77% das suas vendas tinham sido geradas na América do Norte, embora a empresa forneça produtos globalmente.
A ALSN é líder mundial na produção e fornecimento de transmissões totalmente automáticas para veículos médios e pesados.
As soluções da empresa são utilizadas em camiões (de transporte e distribuição, construção, bombeiros), em autocarros (escolares e públicos) e noutros tipos de veículos e equipamentos utilizados nas indústrias da energia, construção e mineração. Em 2019, a empresa terá sido responsável por cerca de 60% do volume mundial de vendas de transmissões totalmente automáticas destinadas a veículos médios e pesados do segmento de estrada.
Vantagem competitiva
Ao analisar a empresa identificamos vários fatores que poderão contribuir para uma vantagem competitiva sobre os seus concorrentes.
Acreditamos que o nome da empresa (marca) tem muito peso no mercado. A força da marca provém da performance, fiabilidade e durabilidade dos seus produtos. O nome da empresa começou a ser criado há mais de 60 anos, quando a ALSN introduziu no mercado a primeira transmissão totalmente automática do mundo para veículos comerciais.
Os seus produtos têm uma forte componente tecnológica e de engenharia, sendo concebidos e preparados em função do segmento a que se destinam, o que lhes atribui uma performance superior.
As suas soluções permitem aos seus clientes reduzir os gastos com combustível e melhorar o rendimento operacional das suas equipas.
A ALSN tem também um portefólio considerável de patentes, que protege as suas soluções tecnológicas.
A sua vantagem competitiva está expressa no domínio que a empresa exerce sobre o mercado das transmissões automáticas de veículos pesados. Neste segmento parecem existir consideráveis barreiras à entrada de novos concorrentes, já que requer muito know-how de engenharia, algoritmos complexos e níveis altos de fiabilidade que poucos conseguirão alcançar. Atualmente a ALSN é a única empresa “stand-alone” que se dedica ao fabrico de transmissões totalmente automáticas, encontrando concorrência apenas em OEM´s (Original Equipment Manufacturer são empresas que instalam os equipamentos nos seus veículos, vendendo depois o produto acabado ao cliente final), que integram estes equipamentos nas suas linhas de produção verticais, como a Ford ou a Caterpillar.
Indústria
Existem geralmente três tipos de transmissões disponíveis nos veículos comerciais: manuais, semiautomática (AMT) ou totalmente automáticas. As transmissões manuais e semiautomáticas são as mais encontradas nos veículos pesados de classe 8 na América do Norte (nos Estados Unidos, a classificação de camiões comerciais é determinada com base no peso bruto dos veículos, indo de classe 1, os mais leves, a classe 8, os mais pesados). Fora da América do Norte as transmissões mecânicas são as mais utilizadas.
A escolha do tipo de transmissão apresenta várias vantagens nos veículos pesados:
- Reduz os gastos de combustível. As transmissões manuais são as menos eficientes nessa matéria, mostrando, no entanto, um bom desempenho em viagens de longo curso ou em situações que exigem poucos “pára-arranca”. Quando a rotina de trabalho requer muitas paragens ou mudanças de velocidade, as transmissões automáticas serão a melhor opção, não só porque gastam menos combustível, mas também porque apresentam menores custos de manutenção;
- Requer condutores menos especializados, o que diminui o custo do transporte;
- Utilizam tecnologia que suaviza a passagem entre mudanças. As rodas são alimentadas de forma ininterrupta, aumentando a eficiência energética e a comodidade da condução.
Em resumo, a transmissão totalmente automática resulta numa maior comodidade do condutor, numa redução dos custos de combustível e ainda numa diminuição dos custos de manutenção.
A indústria está a caminhar cada vez mais na direção de um menor consumo de combustível e de emissões de CO2. Nesse contexto têm emergido novas tecnologias baseadas em sistemas híbridos e totalmente elétricos. Nos motores híbridos coexistem duas fontes de alimentação, a convencional de combustão e a elétrica, enquanto que nos sistemas elétricos a fonte de alimentação de energia é totalmente elétrica.
Ao contrário do que já acontece nas viaturas ligeiras, as tecnologias emergentes nos veículos comerciais estão ainda numa fase prematura, pelo que os sistemas de combustão tradicionais vão continuar a dominar o mercado nos próximos anos. No entanto, existe um interesse crescente pelos veículos comerciais elétricos, que poderá afetar a ALSN já que o seu negócio core, o fabrico de transmissões totalmente automáticas, não terá utilidade neste tipo de aplicações. A ALSN tem investido na eletrificação das suas soluções, mas, ainda que consiga vir a afirmar-se nesse mercado, será pouco provável que mantenha a mesma margem competitiva.
Ilustração 2 – esquema-tipo de um sistema de transmissão
Produtos
A empresa lidera o fornecimento mundial de transmissões totalmente automáticas de veículos médios e pesados de estrada, em particular de veículos com reboque. Embora a transmissão automática tenha um grande mercado nos EUA, os mercados fora dos EUA continuam a ser dominados pelas transmissões manuais, pelo que a empresa tem na América do Norte o seu principal mercado.
A ALSN produz também:
- Sistemas de propulsão híbridos e elétricos para o mercado dos transportes públicos (autocarros urbanos), em especial na América do Norte, tendo reforçado a aposta neste segmento com a aquisição, em 2019, de duas empresas com propriedade intelectual nesta área;
- Peças avulso, equipamento de suporte, componentes de alumínio fundido, entre outros, que lhes garantem uma parcela da receita relativamente estável e com tendência crescente;
- Produtos destinados a veículos e equipamentos que operam fora da estrada, como transmissões para camiões da indústria da construção e mineração e para equipamentos utilizados nos setores da energia e mineração (equipamentos de furação, de bombagem, entre outros);
- Transmissões para veículos especiais como viaturas de emergência de aeroportos, viaturas de combate a incêndios e transportadores de equipamentos pesados:
- Transmissões para viaturas do exército. A ALSN tem uma longa relação com o Departamento de defesa dos EUA, fornecendo as transmissões para vários tipos de viaturas militares.
Ilustração 3 – Receitas por tipo de segmento
A maior parte dos seus produtos são fornecidos a OEMs com base em contratos de médio prazo com durações de 3 a 5 anos.
Management
David Graziosi é o atual CEO. Juntou-se à empresa em 2007, tendo assumido esta função apenas em 2018. Antes de entrar na empresa David exerceu funções de gestão e liderança noutras empresas.
A empresa tem utilizado a riqueza gerada pelos seus negócios para aumentar os dividendos dos acionistas e recomprar ações. O nº de ações disponíveis no mercado era de 118M no final de 2019, contra 184M no final de 2012 (uma redução de 36%). Em termos de aquisições, o investimento feito em 2019 na área da eletrificação parece-nos acertado, revelando capacidade de adaptação. Acreditamos que a atual liderança conseguirá fazer a transição para os motores elétricos, ainda que isso signifique a perda de uma grande parte da margem competitiva que exibe atualmente.
Ilustração 4 - Evolução do n.º de ações e dos dividendos (valor por ação)
Embora a empresa possa parecer muito endividada à luz do indicador Debt-to-Equity Ratio, quando se comparam os juros de empréstimo com o resultado operacional verifica-se que a empresa tem a sua dívida controlada (figuras seguintes).
Ilustração 6 – debt to equity ratio
Ilustração 5 – juros dos empréstimos face ao resultado operacional, em %
Situação financeira
A ALSN apresentou resultados superiores às expectativas no 1T de 2020. Os resultados foram suportados pelas vendas de transmissões ao setor da defesa e por um crescimento nos veículos de classes inferiores às tradicionais (classes 4 e 5 da escala dos EUA). A penetração da ALSN no mercado de veículos de classes inferiores é uma boa notícia para a empresa - mais que duplicou a faturação neste nicho entre 2018 e 2019 – na medida em que diminui o risco da exposição aos veículos comerciais pesados, que é o seu core, reduzindo a exposição aos ciclos do mercado. Não obstante, é esperada uma queda acentuada das receitas para o ano 2020.
Ilustração 7 – Evolução das receitas
Apesar do período desafiante que se avizinha, a ALSN tem a seu favor o facto de grande parte do seu custo de vendas (cerca de 70%) estar relacionado com a compra de material, pelo que se espera uma redução significativa dos custos quando as receitas diminuírem também. Ainda assim, o resultado da ALSN poderá diminuir para valores já registados no passado em fins de ciclo, ou até abaixo disso, não sendo de espantar que a empresa apresente resultados operacionais na gama dos $400M a $500M em 2020 e 2021, contra $894M registados em 2019.
Ilustração 8 - Evolução do Resultado Operacional
Avaliação e Key Indicators
A ALSN está bastante exposta aos ciclos económicos.
Enfrenta também uma eventual disrupção do marcado, tendo em conta o crescente interesse pelos veículos comerciais elétricos. Os motores elétricos não utilizam as transmissões automáticas da ALSN, o que terá um grande impacto no seu core business. A ALSN deu sinais de querer adaptar-se a esta mudança ao adquirir recentemente duas empresas com forte propriedade intelectual na eletrificação dos motores. Mas mesmo que a empresa consiga afirmar-se neste mercado, dificilmente manterá a sua margem competitiva atual.
Ainda assim, a atual vantagem competitiva da ALSN tem pano para mangas, esperando-se ainda grandes retornos para os acionistas nos próximos anos. Por outro lado, pensamos que a empresa conseguirá fazer a transição para os veículos elétricos, mantendo algum potencial de crescimento no futuro.
No nosso modelo consideramos os seguintes pressupostos:
- A ALSN irá apresentar um crescimento composto de 1.2% das receitas nos próximos 10 anos, mantendo um crescimento de 1% a partir dessa data. Entre 2010 e 2019 a empresa registou um crescimento composto de 3.8% que dificilmente se repetirá, tendo em conta o share que a empresa alcançou no seu negócio core.
- A margem operacional irá descer 1% por ano nos próximos 10 anos, desde o nível médio verificado entre 2010 e 2019. A margem estabilizará nos 15% no ano 10. A descida da margem operacional reflete a perda gradual da margem competitiva que a empresa apresenta atualmente.
- O custo do capital subirá cerca de 2% ao longo do período modelado, refletindo um eventual aumento das taxas de juros ou maiores dificuldade de acesso ao crédito;
- O ROC diminuirá para 12.7% em 2029, um valor que reflete a perda de competitividade que a empresa deverá sofrer com o crescimento da eletrificação dos veículos.
Tudo isto resulta num valor intrínseco por ação de $46.18. Sendo fiéis aos critérios das nossas análises mais recentes assumimos uma margem de segurança de 30%, pelo que recomendamos a compra da ALSN a partir de $32.3.
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