Schlumberger Ltd (SLB)
Principais resultados da análise
À data desta análise o setor do petróleo está a viver uma crise sem precedentes, provocada por um desequilíbrio entre oferta e procura. 40% do petróleo é utilizado para a produção de combustíveis destinados aos setores automóvel e dos camiões, pelo que o preço do petróleo está correlacionado com o volume de tráfego rodoviário. Pela primeira vez na história recente foi possível ver as ruas e autoestradas desertas, o que provocou grandes e rápidas consequências no setor das petrolíferas. A adicionar a isso, a Arábia Saudita e a Rússia entraram numa disputa negocial que fez aumentar ainda mais a oferta. Quando os dois países acordaram em reduzir a produção já nada podia evitar a descida do preço do petróleo.
Perante o cenário atual é provável que venhamos a assistir a algumas falências no setor nos próximos meses. Mas as empresas mais bem posicionadas poderão dar bons retornos aos investidores quando o tráfego rodoviário e a economia normalizarem. A Schlumberger (SLB) foi uma das empresas que nos pareceu estar nesse patamar.
Para o ano de 2020, estimamos que a SLB irá registar uma descida considerável das receitas. Acreditamos que as receitas irão recuperar a partir de 2021, alcançando a meta dos $B 40 em 2029. No nosso modelo consideramos ainda que o Free Cash-Flow irá recuperar para valores que poderão variar entre $B 1.0 e $B 2.0 ao longo do período modelado.
O valor intrínseco por ação obtido é de $ 17.09, recomendando-se a compra até $ 15.38 por ação (10% margem de segurança).
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Descrição da empresa
A SLB é uma empresa líder no fornecimento de tecnologia associada ao setor do petróleo, atuando nas áreas de caracterização dos reservatórios, de furação e de produção. A empresa fornece produtos e presta serviços em mais de 120 países, como Angola e Moçambique por exemplo, empregando aproximadamente 105 000 colaboradores no final de 2019.
A SLB está muito dependente dos investimentos das empresas produtoras de gás e petróleo, pelo que foi uma das empresas que viu o valor das suas ações descer significativamente com a crise do petróleo. A SLB tem apresentando resultados sólidos desde há muitos anos, tendo-se destacado na área da caracterização dos reservatórios. O conhecimento adquirido nessa área foi muito bem aproveitado pela empresa, tendo contribuído para o desenvolvimento de outras áreas de negócio, onde se tornou pioneira no desenvolvimento de diversas tecnologias.
O modelo de negócios atual da SLB enfatiza a diminuição dos custos de exploração dos seus clientes disponibilizando um conjunto de serviços integrados. A empresa acredita que a utilização integrada das suas tecnologias e serviços poderá aumentar a eficiência no setor, sendo esta a sua grande aposta estratégica para os próximos anos.
A SLB tem apresentado uma grande apetência para a criação de novos produtos a custos relativamente reduzidos, obtendo um elevado retorno dos investimentos de R&D. Os custos de R&D superam os custos de SG&A (ver imagem seguinte), o que demonstra a importância que a empresa dá a esta área.
O retorno dos investimentos em R&D deve-se ao know-how existente na organização (capital humano), à informação relevante que reuniu ao longo dos anos e à capacidade de integrar e mobilizar o know-how existente nos diferentes segmentos para a criação de novos produtos ou serviços. Não obstante, a empresa diminuiu o investimento em R&D a partir de 2015, de forma a compensar a redução das receitas (gráfico seguinte).
A dimensão da SLB, que advém do seu papel em diversas áreas de negócio e da sua presença em vários países com diferentes desafios técnicos, contribui para que a empresa se destaque da concorrência. A SLB capitaliza esse fator de uma forma muito eficiente, integrando as suas tecnologias e serviços nas soluções que disponibiliza ao mercado. A própria estrutura interna da SLB foi adaptada de forma a potenciar a criação de sinergias entre os diferentes segmentos da empresa.
Os segmentos da empresa
A empresa opera em 4 segmentos: caracterização de reservatórios, perfuração, produção e “Cameron”.
A área de caracterização de reservatórios fornece tecnologias ligadas à análise de sismicidade e à análise de informação, que são utilizadas para a localização e caracterização de novos reservatórios de gás e petróleo. Esta área de negócios tem vindo a perder dimensão na empresa embora apresente elevados retorno de capital. A área de caracterização de reservatórios foi particularmente afetada em 2014 pelo crescimento das fontes não convencionais de produção de petróleo, como o óleo de xisto, que provocou uma diminuição do ritmo de descoberta de novos poços de petróleo. É provável que esta área de negócios continue a perder importância ao longo dos próximos anos.
A área de negócios de perfuração fornece tecnologias e serviços que pretendem reduzir os custos de operação dos clientes por via da redução do tempo de perfuração. A SLB assume um papel relevante neste setor desde os anos 80 dominando todo o espectro da perfuração, o que poderá contribuir para a sua nova estratégia baseada na integração dos serviços. Este setor deverá apresentar oportunidades de crescimento a nível internacional, embora nos EUA possa vir a ser negativamente impactado pelo setor do óleo de xisto.
A área de produção disponibiliza serviços e tecnologias integradas em 5 grupos: serviços de otimização do processo de exploração dos furos; serviços específicos destinados às fontes de produção não convencionais como o óleo de xisto; fornecimento de equipamentos eletromecânicos; fornecimento de sistemas de bombagem sofisticados; e soluções integradas que disponibilizam um conjunto de serviços e tecnologias destinadas à fase de execução e de exploração dos furos (soluções “APS”). A empresa tem utilizado a solução “APS” para estabelecer parcerias com as empresas de produção, através de contratos de performance em que os ganhos são partilhados proporcionalmente aos resultados obtidos. Dado o carácter deste tipo de parceria, onde os riscos e os ganhos são partilhados, acreditamos que o seu volume de negócios poderá crescer nos próximos anos.
A área de negócios Cameron consiste num conjunto de tecnologias relacionadas com o controlo da pressão e do caudal na perfuração, nos poços de gás e petróleo e nas instalações de produção. Nesta área a empresa disponibiliza um conjunto de tecnologias que vão desde equipamentos destinados à exploração de poços submarinos a válvulas e processos que permitem controlar a pressão do petróleo e do gás desde o local da sua produção até às refinarias. Estas tecnologias são comercializadas por um número reduzido de empresas, conferindo uma proteção à entrada de novos competidores.
As vendas do primeiro semestre de 2020 dos vários segmentos podem ser consultadas na figura seguinte.
A indústria
A indústria do petróleo tem uma forte componente cíclica. A última grande crise do setor deu-se em 2014, quando a OPEC aliviou as metas de produção numa altura em que se assistiu também ao crescimento das fontes não convencionais de fornecimento de petróleo, como o óleo de xisto nos EUA. Isso levou a que a oferta superasse a procura, provocando um abaixamento significativo dos preços do petróleo. O setor estava a recuperar da crise de 2014, com preços ainda muito abaixo dos praticados antes, quando surgiu a pandemia do COVID-19.
No gráfico seguinte é visível o impacto que a crise de 2014 teve no Resultado Operacional da SLB. Nos anos posteriores à crise a SLB registou uma recuperação muito tímida, não conseguindo mais alcançar o desempenho obtido antes de 2015.
O mundo ainda está muito dependente dos setores dos hidrocarbonetos, no entanto a indústria tem perdido terreno para outras indústrias mais amigas do ambiente, o que resultou numa deterioração gradual dos seus fundamentais. A principal fonte de consumo do petróleo, o setor automóvel, está num processo de transformação sem retorno, caminhando rapidamente para a utilização dos motores elétricos, o que terá um enorme impacto na indústria. A crise do COVID-19, mais do que um efeito pontual, terá um impacto permanente na indústria, não só por via do endividamento das empresas, mas também por via do crescimento do teletrabalho, que deverá provocar uma diminuição adicional e permanente do tráfego rodoviário.
Situação financeira
A situação financeira da SLB deteriorou-se bastante desde a crise de 2014. Vários indicadores o demonstram. Nas figuras seguintes podemos observar que os rácios de solvência e de liquidez diminuírem e a relação de dívida em relação ao capital próprio aumentou. Nenhum dos indicadores revela valores preocupantes, mas isso pode mudar se a situação de declínio se mantiver.
A partir de 2016 o grau de endividamento da empresa aumentou substancialmente (ver figura seguinte), não só porque o resultado operacional diminuiu (denominador da equação) mas também porque emitiu notas bancárias no valor de $B 6.0, e ainda porque teve de assumir $B 3.0 de dívida com a aquisição da Cameron (a Cameron foi adquirida em 2016).
Talvez o sinal mais preocupante de todos seja a diminuição dos ganhos retidos (ver gráfico abaixo). A rubrica Retained Earnings é um valor acumulado, o que significa que os lucros de cada ano são adicionados ao total de lucros acumulados dos anos anteriores. Quando a empresa perde dinheiro, o valor é subtraído do total acumulado no passado. Esta é a situação que a SLB vive desde 2014, ou seja, a SLB tem vindo a perder dinheiro desde 2014, o que tem levado à diminuição do seu património líquido. Por conseguinte, a empresa vale menos hoje do que valia em 2014.
Quando comparamos o indicador Current Earnings Yield com o ROC, ficamos com uma relação do preço de compra e do retorno do investimento que a empresa apresenta. Uma empresa com um preço baixo de compra e retorno elevado será uma melhor aposta que uma empresa nas condições opostas.
As barras verticais representadas na figura seguinte correspondem ao resultado desta classificação - quanto mais alta for a barra, melhor conjugação do preço e retorno terá a empresa. Os anos com piores resultados da última década foram precisamente os mais recentes.
Avaliação e Key Indicators
As receitas da SLB estão fortemente dependentes dos investimentos das empresas de produção de petróleo. O setor sofreu uma crise em 2014, relacionada com o alívio das metas de produção da OPEC e o crescimento das fontes de produção não convencionais como o óleo de xisto. Desde então, apenas se assistiu a uma recuperação parcial dos preços do petróleo e dos resultados do setor. Com a pandemia do COVID-19 o setor voltou a sofrer um duro golpe, na mesma altura em que se regista uma aceleração da transformação do setor automóvel.
Para o ano de 2020 estimamos que a SLB registará uma descida considerável das receitas. Acreditamos que as receitas irão recuperar a partir de 2021, alcançando a meta dos $B 40 em 2029. No nosso modelo consideramos que a margem operacional ajustada depois de impostos irá melhorar ligeiramente, até alcançar os 6% em 2029. Consideramos ainda que o rácio Capital Turnover caminhará para os valores médios da indústria ao longo dos próximos 10 anos. Isso traduzir-se-á num aumento do Free-Cash-Flow para valores que poderão variar entre $B 1.0 e $B 2.0 ao longo do período modelado.
O valor intrínseco por ação obtido é de $ 17.09, recomendando-se a compra até $ 15.38 por ação (10% margem de segurança).
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