F Ramada – Investimentos SGPS SA (RAM)
Principais resultados da análise
A RAMADA viu o seu resultado líquido aumentar quase 400% nos últimos 10 anos. No entanto, essa subida não esteve relacionada com o desempenho operacional da RAMADA. A subida do Resultado Líquido deveu-se, principalmente, à melhoria do resultado não operacional, em particular à melhoria dos rácios financeiros (diferença entre juros suportados dos empréstimos e juros obtidos das aplicações financeiras) e dos ganhos com associadas.
Tendo em conta o ciclo económico desfavorável que se avizinha, consideramos que a Ramada dificilmente conseguirá repetir a escalada de lucros dos últimos anos.
Ainda assim, há alguns fatores que poderão sustentar um cenário de crescimento dos lucros durante os próximos anos, nomeadamente:
- Existe margem de crescimento no volume de vendas, nomeadamente através de um incremento das exportações;
- O volume de cash-flow pode aumentar – parte do cash-flow gerado nos últimos anos foi destinado à diminuição da dívida, podendo ficar disponível para os acionistas a partir de agora;
- Os investimentos em associadas ou joint-ventures poderão gerar elevados retornos à empresa.
Ainda assim, optamos por ser conservadores na avaliação da Ramada. Como tal, assumimos que a Ramada perderá competitividade ao longo dos próximos anos, o que se traduzirá numa descida da margem operacional e numa subida do rácio do capital investido/vendas. O valor intrínseco resultante é de 5.42 €/ação, recomendando-se a compra de ações até um valor de 4.88€ (margem de segurança de 10%).
Ver análise detalhada
Descrição da empresa
O Grupo Ramada existe há mais de 80 anos, mas só em 2018 passou a ser cotada no PSI-20. As suas origens estão na indústria do aço, mas, entretanto, já expandiram a sua atividade para outras áreas de negócio, nomeadamente para a gestão de ativos imobiliários, para a gestão de investimentos relativos a participações em que o Grupo é minoritário, e para os sistemas de armazenagem, uma unidade que foi alienada em 2018. O Grupo Ramada resultou de uma cisão da Altri, em 2008, outra empresa cotada no PSI-20 e que pertence também a Paulo Fernandes, tal como o Grupo Ramada e a Cofina.
A F Ramada entrou em bolsa em 2008, com uma avaliação de um euro por ação. À data desta análise a empresa está cotada a 6.1 euros por ação, o que representa uma subida assinalável de 610% em 11 anos. Grande parte desta subida deu-se entre 2015 e 2017, tendo chegado a ser avaliada em mais de treze euros por ação em 2018.
Segundo a empresa, a atividade de aços especiais desenvolve-se sobretudo, “ao nível do subsegmento de aços para moldes, com uma posição de destaque no mercado nacional”. Através da Socitrel, a empresa dedica-se também “ao fabrico e comercialização de arames de aço para aplicação nas mais diversas áreas de atividade, designadamente indústria, agricultura e construção civil”.
A atividade de gestão de investimentos Financeiros consiste, sobretudo, na participação na sociedade denominada Consumo em Verde-Biotecnologia das Plantas, S.A., que se dedica à produção de fungicidas orgânicos para a agricultura, com 15,48% do respetivo capital. Em 2018, a Ramada Investimentos alienou a totalidade do capital social da Ramada Storax, S.A., o que resultou na descontinuidade da atividade “Soluções de Armazenagem”.
O Grupo Ramada é igualmente proprietário de terrenos florestais, que são arrendados à indústria de produção de pasta de papel.
Situação financeira
Análise dos resultados
O volume de vendas é o primeiro dado a analisar na demonstração de resultados. As vendas são a força vital das empresas. Sem elas não há lucro ou qualquer perspetiva de negócio. A análise do histórico do volume de vendas permite avaliar a exposição da empresa aos ciclos económicos e perceber se o negócio está em expansão ou em retração.
A análise do volume de vendas do Grupo Ramada deve ser separada em dois períodos: o antes e o após 2018. O pós-2018 representa o período após a alienação da unidade de armazenagem, que representava uma parte significativa do volume de negócios da empresa. Foi também em 2018 que a Socitrel passou a ser consolidada nas demonstrações financeiras do Grupo Ramada. Esta aquisição, segundo a empresa, “permitiu à Ramada diversificar a sua atividade industrial, entrando numa nova área de negócio”.
Em 2018, a unidade de Aços registou 93% do seu volume de negócios em território nacional e apresentou um crescimento face ao ano anterior, devido, em parte, ao aumento e renovação da capacidade de produção, fruto de investimentos realizados nos últimos anos. No entanto, a quebra das vendas de automóveis no mercado chinês verificada no 2.º semestre de 2018, levou a uma redução da necessidade de construção de moldes destinados a projetos automóveis, impactando no volume de vendas da unidade de Aços. Segundo a Ramada, “muitos dos projetos em curso, são cancelados ou atrasados para reformular os modelos e adequá-los às novas exigências do mercado e/ou às políticas relacionadas com as emissões e circulação de veículos ligeiros de passageiros”, afetando a procura dos moldes destinados à indústria automóvel. O impacto para os moldes não é por via da menor venda de automóveis ao consumidor final, mas sim pela redução do número de modelos a fabricar pelos construtores., dado que qualquer peça de um novo modelo precisa de um novo molde.
Quanto à trefilaria (fabricação de arame e barras finas de metal), a Socitrel registou um forte crescimento face a 2017, com 63% do volume de negócios proveniente do mercado externo.
A atividade de imobiliário apresentou um peso reduzido no volume de vendas de 2018, contribuindo apenas com 7.8 M€, apresentando um crescimento de 10.5% face a 2017. As receitas provêm sobretudo do arrendamento de longo prazo de terrenos florestais (peso de 80%).
No computo geral, a Ramada registou um crescimento de 61.6% face às receitas de 2017, sendo este crescimento justificado pelo impacto da consolidação da participada Socitrel em 2018. Nos últimos 12 meses (TTM) a Ramada apresentou uma descida do seu volume de vendas.
Figura 1 – principais dados da demostração de resultados
O resultado operacional reflete a capacidade que a empresa tem de gerar receita. Tal como o nome indica, este dado mostra o resultado gerado exclusivamente pelas operações do negócio, antes de ser descontada a verba destinada ao pagamento de juros e impostos. Dado que o resultado não é distorcido pelo nível de endividamento em que diferentes indústrias operam ou pelas taxas tributárias que diferem de país para país, o resultado operacional é um indicador particularmente útil quando se pretende comparar diferentes empresas.
Como se pode observar na Figura 2, a Ramada registou uma forte subida do resultado operacional entre 2009 e 2011, tendo-se mantido nesse patamar elevado até 2016, a seguir ao qual registou uma descida de cerca de 30%. O resultado líquido das operações continuadas registou também um grande crescimento entre 2009 e 2016. Em 2017, 42.5 M€ do resultado antes de impostos está relacionado com a venda da totalidade da participação financeira detida no grupo Base.
A diminuição do resultado operacional, verificado desde 2016, reflete o impacto da alienação de ativos registada em 2017 e 2018, nomeadamente a venda da unidade de armazenagem e da participação detida no grupo Base.
No ano de 2019 deverá continuar a registar-se uma redução do resultado operacional, tendo em conta o abrandamento económico europeu, conjugado com as indefinições e a mudança de paradigma da indústria automóvel.
Figura 2 – Evolução do Resultado Operacional
O Resultado Operacional corresponde ao somatório de diversas parcelas, das quais se destacam as seguintes (Figura 3):
-Gross Profit, ou margem bruta: é um indicador que revela a quantidade de dinheiro disponível das vendas após dedução do custo dos produtos vendidos. A margem de lucro bruto geralmente aparece expressa como uma percentagem das vendas.
-Selling, General and Administrative Expenses (SG&A): inclui todas as despesas gerais e administrativas incorridas durante o período contabilístico. Estas incluem salários de gestão, publicidade, custos de representatividade, honorários, comissões, entre outros.
-Depreciação e Amortização: é uma rubrica onde se reconhece o desgaste que as máquinas e edifícios vão apresentando ao longo do tempo.
-Outros ganhos/custos operacionais: inclui receitas de todas as outras atividades operacionais que não estão relacionadas com as principais atividades da empresa, como ganhos / perdas em alienações, receita de juros, receita de dividendos, etc.
Analisando as principais componentes do resultado operacional da Ramada, constata-se que o Gross Profit e as SG&A são as rúbricas que apresentam maior peso relativo.
Figura 3 – Componentes do Resultado Operacional
A análise do histórico destas componentes (Gross Profit e SG&A) mostra-nos que a Ramada diminuiu os custos de SG&A entre 2009 e 2016, enquanto que a Gross Profit Margin manteve-se praticamente constante. Este fator esteve na base da subida do resultado operacional que se registou na mesma altura.
Figura 4 – Gross Profit Margin e SG&A
O resultado não operacional (Figura 1, Non-Operating Income/Expenses, Total) deve-se, geralmente, a eventos não recorrentes, pelo que muitos investidores optam por não os considerar no processo de avaliação de uma empresa.
O resultado não operacional apresenta uma tendência crescente desde 2011, apresentando um pico em 2017, ano em que foi vendida a participação detida no grupo Base (Figura 1 e Figura 5).
É de notar que a venda de uma participação é registada contabilisticamente como um ganho não operacional, dado que é considerada um retorno de um investimento. Por outro lado, os ganhos relativos à alienação da unidade de armazenagem ocorrida em 2018 foram contabilizados nas operações descontinuadas, não impactando no resultado não operacional e não aparecendo, assim, no gráfico da Figura 5. Seja como for, a ambos se deve o caracter excecional do Resultado Líquido verificado em 2017 e 2018.
Figura 5 – Evolução do resultado não operacional
A exposição à dívida e os gastos de capital podem ser analisados de uma forma indireta na demonstração de resultados, através da observação dos juros pagos pela empresa e do valor assumido em amortizações e depreciações.
Embora a depreciação não represente um custo real, não se pode ignorar que o envelhecimento e natural degradação dos ativos obrigará a empresa, um dia, a adquirir novos equipamentos. Como tal, a depreciação é um gasto bem real e deve sempre ser considerada na análise de uma empresa. As empresas com menores valores de depreciação em relação ao Gross Profit geralmente são mais competitivas.
O valor dos juros pagos tem vindo a diminuir significativamente, representando o equivalente, apenas, a 10% dos ganhos operacionais nos últimos 12 meses. Um valor inferior a 15% revela uma boa eficiência.
Os custos de depreciação têm vindo a aumentar ao longo dos anos, encontrando-se atualmente nos 10%. Ainda assim, um valor inferior a 15% revela reduzidos gastos de capital e uma boa margem competitiva.
Figura 6-Evolução dos juros de empréstimo
Estrutura do balanço
No balanço começamos por analisar os ativos mais líquidos, nomeadamente a quantidade de dinheiro disponível. Quando existe muito dinheiro disponível em relação ao preço de mercado dos títulos, é um sinal positivo. Nesse caso, as ações podem valer mais do que o resultado líquido indica, sendo provável que os acionistas venham a beneficiar desses ativos por meio de dividendos ou através de lucros gerados pela aplicação desse dinheiro em investimentos adequados. Muito dinheiro disponível indica uma de duas coisas: a empresa tem uma vantagem competitiva que se está a traduzir em ganhos financeiros, o que é positivo, ou a empresa vendeu parte dos seus ativos ou ações, o que não é tão positivo.
Um investidor de renome, Joel Greenblatt, utiliza um simples cálculo para aferir o dinheiro em excesso existente na empresa. Assume que uma empresa necessita de 20% do volume de vendas para conduzir o seu negócio, sendo o restante considerado dinheiro em excesso.
Considerando o critério de Joel Greenblatt, verifica-se que a empresa tinha, no final de 2018, 49 M€ no seu balanço. No entanto, já durante o ano de 2019 foram distribuídos 48 M€ aos acionistas sob a forma de dividendos.
A rubrica goodwill também merece ser analisada. O aumento de goodwill geralmente está relacionado com a aquisição de novos negócios.
A Ramada apresenta um valor estável e pouco significativo de Goodwill no seu balanço, de 1.2 M€.
Empresas muito endividadas estão mais expostas a ciclos económicos desfavoráveis, como uma recessão. Como regra, as empresas com uma vantagem competitiva durável exibem pouca ou nenhuma dívida de longo prazo. Em empresas com dívida no balanço deve ser analisado o respetivo histórico e verificada a tendência registada nos últimos anos.
Ignorando os resultados extraordinários e não recorrentes dos anos de 2017 e 2018, verificamos que a dívida de longo prazo tem estado em valores controlados nos últimos anos (ver indicador Lucros/Juros da Dívida na Figura 7). Como a generalidade dos indicadores, a proporção dos Lucros face aos Juros da Dívida varia de indústria para Indústria. Seja como for, quando este indicador assume valores superiores a 2,5 vezes, o risco de insolvência é reduzido.
Figura 7 – Indicador Resultado Líquido / Juros da Dívida
Numa das suas últimas entrevistas, Ben Graham, o pai da análise fundamental, informou que usava um critério simples para medir a solvência de uma empresa. Uma empresa deve possuir o dobro do que deve. Por outras palavras, o rácio Total Assets / Total Liabilities deve ser maior ou igual a 2.
A Ramada registou um rácio de 2 em 2018, cumprindo com o critério de solvência de Ben Graham. (Figura 8).
Figura 8 – relação dos ativos e passivos
Na Figura 8, constata-se que existe também uma grande subida do indicador Current Ratio – ativos de curto prazo menos passivos de curto prazo – a partir do ano de 2017, o que é atribuído ao aumento do volume de caixa originado pela alienação de ativos já referido.
Este dinheiro em excesso poderia ser utilizado pela Ramada na recompra de ações, distribuição de dividendos ou no investimento de novos negócios que pudessem contribuir para o crescimento da empresa. Sabe-se que o dinheiro em excesso foi distribuído em dividendos, o que indicia a falta de opções de investimento. É de notar que empresas com fortes crescimentos de longo prazo tendem a aplicar o dinheiro em excesso em novos investimentos com elevado retorno e não a distribuí-lo sob a forma de dividendos.
Figura 9 – Current Ratio
A relação da dívida com o património líquido pode ser utilizada para perceber o modo como a empresa se financia. Basicamente a empresa pode financiar-se recorrendo a dívida ou ao seu próprio capital (que inclui o dinheiro aplicado pelos acionistas e os lucros acumulados). Quando uma empresa recorre constantemente a dívida para se financiar, apresenta um perfil de maior risco para o investidor.
O indicador debt-to-equity ratio tem revelado uma tendência de diminuição ao longo dos últimos anos, o que significa que a empresa apresenta, atualmente, um perfil de menor risco no que concerne ao endividamento (Figura 10). Um valor inferior a um representa um nível de risco reduzido.
Figura 10 – histórico do debt-to-equity ratio
Para medir o retorno do capital investido na empresa destacamos 3 indicadores: Return on Equity, Return on Capital Employed, e Return on Acess. O enfoque num ou noutro indicador varia conforme o tipo de análise que pretendemos fazer.
No Return on Capital Employed (ROCE) compara-se o resultado operacional com o capital investido na empresa. Um ROCE de 20% significa que por cada euro investido, a empresa obteve 20 cêntimos de lucro operacional. Consideramos que este indicador é o mais adequado para efeito de benchmarking com outras entidades, já que permite uma compararão dos resultados antes dos juros e impostos, fatores estes que variam entre indústrias ou países e que distorceriam os resultados.
No caso da Ramada é possível observar uma diminuição dos 3 indicadores nos últimos anos, se descontarmos o efeito extraordinário da alienação dos ativos já descrito nesta análise. É de notar que o indicador ROCE é aquele que melhor reflete a evolução do retorno de capital neste caso, uma vez que não é afetado pelos ganhos extraordinários (Figura 11).
A diminuição verificada nestes indicadores não é um bom sinal, pois indica que a empresa está a perder capacidade de gerar retorno aos investidores.
Figura 11 – Retorno do investimento
Existem várias formas possíveis de analisar o preço das ações face ao seu histórico, destacando-se o Current Earnings Yield. Este indicador permite comparar o preço atual com os preços verificados no passado ou com os preços da concorrência e identificar se este está relativamente alto ou baixo. O Current Earnings Yield compara o resultado operacional com o valor pelo qual o mercado avalia a empresa (Enterprise Value).
Se a este indicador juntamos o ROCE, referido no parágrafo anterior, ficaremos com uma relação do preço e do retorno do investimento que a empresa apresenta. Uma empresa com um preço baixo e retorno elevado será uma melhor aposta que uma empresa nas condições opostas.
As barras verticais representadas na figura seguinte correspondem ao resultado final desta classificação - quanto mais alta for a barra, melhor conjugação do preço e retorno terá a empresa.
Ao longo dos últimos anos a Ramada apresentou uma tendência decrescente do Current Earnings Yield e do ROCE, o que significa que o valor de marcado da empresa está historicamente alto quando comparado com o respetivo resultado operacional e que o retorno do capital investido tem também diminuído.
Somando os dois efeitos, constata-se que o rácio está no nível mais baixo dos últimos 10 anos, indicando que as ações estão ao preço mais caro dos últimos 10 anos, de acordo com este critério (Figura 12).
Figura 12 – Earnings Yield e ROCE
O lucro por ação é a medida mais importante na determinação do valor da empresa.
Dado que a recompra de ações se traduz numa diminuição do número de ações em circulação, esta ocorrência provoca um aumento imediato do lucro por ação. Normalmente a recompra de ações surge num contexto em que as ações estão subvalorizadas, representando, neste caso, uma forma de agregar valor à empresa.
Por outro lado, a emissão de ações diminui o lucro por ação de uma forma imediata, destruindo valor para os acionistas. As empresas recorrem a esta forma de financiamento quando não têm reservas de dinheiro suficientes para fazer face aos seus investimentos ou quando as taxas de juro (custo dos empréstimos) são muito elevadas.
É sempre importante observar o histórico do número de ações emitidas para confirmar a política que a empresa segue em relação a esta matéria.
A Ramada tem apresentado um perfil estável ao longo dos últimos 10 anos, o que salvaguarda os interesses dos acionistas.
O indicador Price/Book Value pode ser utilizado para comparar valores de empresas similares do mesmo setor, que seguem o mesmo método contabilístico para avaliação de ativos.
O indicador não deve servir como base de comparação entre empresas de diferentes setores e indústrias, devido a diferenças nos critérios contabilísticos. Por exemplo, algumas empresas podem registar os seus ativos ao custo histórico de aquisição enquanto outras podem registar os seus ativos ao valor atual do mercado.
Como resultado, um valor alto neste indicador não significará necessariamente que a empresa esteja sobreavaliada, assim como o inverso não quererá dizer que a empresa esteja subavaliada. No entanto, pode ser um indicador útil quando utilizado para comparar empresas do mesmo setor.
Como se pode observar na figura seguinte, o indicador Price/Book Value tem apresentado uma tendência crescente ao longo dos anos, embora tenha descido para valores mais “razoáveis” nos últimos 12 meses. Este indicador revela que o preço das ações está historicamente alto face ao património líquido da empresa, embora se tenha assistido a uma correção nos últimos 12 meses.
Figura 13 – Evolução do Património líquido (Book Value) e do indicador Price/Book Value
Fluxo de caixa
O Free Cash Flow Yield é um indicador que compara o fluxo de caixa operacional – somatório do dinheiro recebido e dinheiro gasto nas operações - com o valor de mercado da empresa. Este indicador representa uma alternativa à métrica earnings yield já mencionado nesta análise, na medida em que permite comparar o preço atual dos títulos com os preços verificados no passado (ou com os preços da concorrência) e identificar se este está relativamente alto ou baixo.
Analisando o histórico deste indicador (Figura 14), verifica-se que o Free Cash Flow Yield apresenta uma tendência decrescente ao longo dos anos, tal como o Current Earnings Yield, representado a tracejado na mesma figura. Mais uma vez se conclui que a empresa está a ser transacionada, no presente, a um preço historicamente alto.
Os gastos de capital têm uma influência direta na determinação do Free Cash-Flow to Equity, isto é, na determinação da quantidade de dinheiro que fica efetivamente disponível para os acionistas. Se os requisitos de gastos de capital forem permanentemente altos, significa que a empresa precisa de reinvestir uma grande parte das suas receitas de uma forma continuada para poder manter os ativos existentes. Elevadas despesas de capital reduzem o fluxo de caixa, no qual se baseia o valor de uma empresa. Empresas com elevados gastos de capital apresentam rácios do indicador Capital expenditure/sales superiores a 20%.
Analisando a evolução do indicador Capital expenditure/sales verifica-se que os valores estão num nível médio superior ao verificado no início da década, indicando que a empresa precisa de investir mais dinheiro que no passado para manter o mesmo volume de vendas (Figura 14).
Figura 14 – Indicadores de preço
Key Indicatores e Avaliação
O processo de avaliação de uma empresa não é um exercício objetivo, sendo influenciado por vários fatores como a falta de informação, erros associados às estimativas, erros relacionados com preconceitos do próprio analista, entre outros. No entanto, é um método que permite uma boa aproximação do valor das empresas e, acima de tudo, permite identificar os melhores negócios quando utilizado de forma consistente e uniforme em todas as empresas.
Para estimar o valor intrínseco da empresa começa-se por calcular o dinheiro que está efetivamente disponível para os acionistas, o Free Cash Flows to Equity (FCFE). Este indicador corresponde ao fluxo de caixa resultante após cumpridas as obrigações financeiras, assumidas as despesas de capital e depois de satisfeitas as necessidades de capital circulante.
Depois de calculado o FCFE, o passo seguinte consiste em estimar a taxa de crescimento da empresa. Os relatórios financeiros são uma fonte de informação imprescindível para esta etapa. Também é importante identificar a fase do ciclo económico que se atravessa, entender as perspetivas da indústria onde a empresa se insere, conhecer as empresas concorrentes, identificar as vantagens competitivas da empresa, e todos os outros fatores que influenciam o crescimento do negócio.
Integrando essas variáveis numa análise de Cash-Flow, obtém-se finalmente o preço a que a ação deve ser adquirida para ir de encontro às espectativas de retorno do investidor.
Nos pontos seguintes resumem-se os principais resultados desta análise:
-O principal indicador da Ramada prende-se com a novos projetos automóveis. A quebra das vendas de automóveis no mercado chinês, verificada no 2.º semestre de 2018, levou a uma redução da necessidade de construção de moldes destinados a projetos automóveis, impactando negativamente no volume de vendas da unidade de Aços;
-A Ramada Investimentos viu os seus lucros subirem significativamente desde 2009, o que se traduziu numa escalada assinalável de 610% no preço das suas ações, registada ao longo de 11 anos;
-O resultado operacional revela uma tendência de descida nos últimos anos. Essa tendência deverá manter-se em 2019 e 2020, tendo em conta o abrandamento económico europeu conjugado com as indefinições e a mudança de paradigma da indústria automóvel;
-O valor dos juros pagos pela empresa tem vindo a diminuir significativamente, equivalendo apenas a 10% dos ganhos operacionais nos últimos 12 meses (TTM). Um valor inferior a 15% revela uma boa eficiência;
-Os custos de depreciação têm vindo a aumentar ao longo dos anos, encontrando-se atualmente nos 10%. No entanto, continua a ser um valor baixo, revelando reduzidos gastos de capital e uma boa capacidade competitiva;
-O indicador debt-to-equity ratio tem revelado uma tendência de diminuição ao longo dos últimos anos, o que significa que a empresa apresenta, atualmente, um perfil de menor risco no que concerne ao endividamento;
-A empresa viu o retorno dos seus investimentos diminuir nos últimos anos;
-Relacionando o Current Earnings Yield com o ROCE, constata-se que o rácio está no nível mais baixo dos últimos 10 anos, indicando que o preço das ações está historicamente alto, à luz deste critério;
-O indicador Price/Book Value vem confirmar que o preço das ações está alto face ao seu histórico;
As ações da Ramada estão com um preço historicamente elevado, quer o comparemos com o resultado operacional, com o Cash-Flow gerado ou com o Book Value. Mas existem vários fatores que terão contribuído para esta sobrevalorização: a Ramada registou aumentos sucessivos dos lucros nos últimos 10 anos; distribuiu 48 M€ em dividendos durante o ano de 2019; e ainda tem um gestor como “Paulo Fernandes”, com provas dadas não só na Ramada como também na Altri e na Cofina.
No entanto, fazendo uma análise detalhada do histórico dos últimos 10 anos, verificamos que o preço das ações subiu cerca de 600% desde 2009, apesar do resultado líquido ter subido apenas 370% (Figura 15, curva a pontilhado verde). Por outro lado, o resultado operacional registou uma subida de apenas 10% (Figura 15, curva a laranja) e as vendas 37% (Figura 15, curva a tracejado azul), o que corresponde a um crescimento composto de 3.2%.
Há, portanto, uma grande décalage entre o histórico do Resultado Líquido e o desempenho operacional da empresa. Esta diferença deve-se, principalmente, à melhoria do resultado não operacional, em particular à melhoria dos rácios financeiros (diferença entre juros suportados dos empréstimos e juros obtidos das aplicações financeiras) e dos ganhos com associadas.
Figura 15 - Taxas de crescimento, escala logarítmica
Por conseguinte, tendo em conta o nível de eficiência em que a empresa já se encontra e o ciclo económico menos favorável que se avizinha, a Ramada dificilmente conseguirá repetir a escalada de lucros dos últimos 10 anos.
Ainda assim, há alguns fatores que poderão sustentar um cenário de crescimento dos lucros durante os próximos anos, nomeadamente:
-A empresa parece querer apostar num aumento das exportações o que poderá contribuir para o aumento do volume de vendas;
-Poderá haver um aumento do cash-flow disponível para os acionistas, na medida em que os esforços de diminuição da dívida passarão a ser menores;
-Os investimentos em associadas ou joint-ventures podem vir a gerar retornos adicionais à empresa.
Ainda assim, optamos por ser conservadores na avaliação da Ramada. Como tal, considerou-se que a Ramada perderá alguma competitividade ao longo dos próximos 10 anos, o que se traduzirá numa descida da margem operacional e numa subida do rácio do capital investido em relação às vendas. O valor intrínseco resultante é de 5.42 €/ação, recomendando-se a compra de ações até um valor máximo de 4.88€ (margem de segurança de 10%).
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