Sonae Capital SGPS SA (SONC)

  • MyStockIdeas
  • Janeiro 31, 2020

Principais resultados da análise

A SONC apresenta alguns aspetos positivos nos seus dados financeiros, como seja uma subida consistente do seu volume de negócios e uma melhoria do Resultado Operacional. No entanto, o que mais se destaca é a diminuição do património líquido verificada ao longo dos anos.

Por outro lado, o retorno associado aos investimentos da empresa é claramente baixo, não oferecendo grandes garantias aos investidores, mesmo que se tenha registado um aumento do dinheiro disponível para os acionistas nos últimos dois anos.

De realçar ainda que uma das principais fontes de receitas da empresa reside na gestão de ativos imobiliários, um setor que apresenta uma forte componente cíclica, aumentando a incerteza relativamente aos ganhos futuros.

Tendo tudo isto em conta e o facto da SONC apresentar resultados negativos recorrentes acompanhados de uma grande volatilidade, torna o exercício de estimativa dos futuros cash-flows muito difícil. Paralelamente, o facto de se tratar de uma holding constituída por vários tipos de negócio distintos, dificulta o processo de estimativa dos cash-flows, em comparação com empresas que sustentam um único negócio.  Assim, seguindo um velho princípio de que só se deve investir naquilo que se compreende, a MyStockIdeas optou por não avaliar a SONC quantitativamente, uma vez que o resultado teria, inevitavelmente, uma margem de erro muito grande.

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Introdução

Nesta avaliação será efetuada uma análise assente no histórico dos dados financeiros e dos principais indicadores de desempenho, o que permitirá obter uma boa aproximação do valor da empresa. A avaliação é baseada na informação disponível nos relatórios e contas, em estudos publicados, em artigos disponíveis na imprensa, legislação, etc.

Os dados financeiros das empresas aparecem resumidos em três tipos de formatos: demonstração de resultados, balanço e o fluxo de caixa.

A demonstração de resultados apresenta a quantia que a empresa faturou num determinado período de tempo (vendas) e a quantia que utilizou para obter essas receitas durante o mesmo período de tempo (custos). Analisando a demonstração de resultados podemos verificar se as receitas estão numa tendência crescente ou decrescente, se as despesas estão em linha com as receitas, se os lucros são consistentes ou voláteis, se apresentam um padrão cíclico, entre outros. Os preços das ações da grande maioria das empresas estão relacionados com os lucros, pelo que a análise da demonstração de resultados assume uma grande importância no processo de previsão do preço das ações.​​ 

A estrutura de balanço reflete a condição financeira da empresa em determinado instante. Através do balanço é possível verificar a solvência da empresa, a sua liquidez, a sua eficiência operacional, entre outras características. Um balanço forte pode ser um indicador de resistência a ciclos económicos adversos.​​ 

O fluxo de caixa reflete o dinheiro que realmente entrou e saiu da empresa durante um determinado período de tempo (tipicamente 1 ano). O histórico do fluxo de caixa permite saber a quantia que a empresa realmente gasta e que efetivamente recebe, fornecendo informação indispensável para o cálculo do seu valor intrínseco.

Ao longo desta análise será interpretada a informação disponibilizada por estes três formatos e, recorrendo a indicadores-chave, será calculada uma primeira estimativa do valor da empresa. ​​​​ 

 

Descrição da empresa

A SONAE CAPITAL (SONC)​​ é uma holding de investimento que gere um portefólio de negócios,​​ dos quais se destacam a​​ gestão de ativos imobiliários​​ e a produção de energia​​ (Figura 1),​​ que representam quase 90% do EBITDA da empresa.​​ 

O​​ core business​​ da​​ unidade de energia​​ é a​​ cogeração, embora​​ nos seus ativos existam também​​ centrais fotovoltaicas,​​ uma​​ central a biogás e​​ um​​ parque eólico.​​ O negócio de Energia encerrou o ano de 2018 com um​​ volume de​​ negócios​​ de 52.6M€,​​ 16,2% acima de 2017. O EBITDA registou um crescimento de 6.5%.​​ 

Em termos de perspetivas para o futuro, a​​ SONC tem em desenvolvimento uma nova central termoeléctrica de cogeração alimentada a biomassa florestal​​ -​​ a entrada em operação​​ encontra-se prevista para o início de 2020​​ - que deverá contribuir positivamente para o EBITDA da empresa​​ (com cerca de 2M€).​​ A SONC pretende ainda reforçar a operação de cogeração explorando novas geografias, nomeadamente o México.

A​​ unidade de ativos imobiliários​​ detém​​ um portfólio de ativos que se encontra localizado em Portugal, com ampla dispersão geográfica.​​ Estes ativos incluem lotes de terreno, unidades residenciais, projetos de construção residencial, turísticos,​​ entre outros,​​ que​​ estão avaliados em 353.8M€.​​ Esta unidade de negócios registou um Volume de Negócios de​​ 59.6M€ no final de 2018.​​ O​​ cash flow​​ gerado pelas atividades imobiliárias assumem um papel estratégico na empresa,​​ financiando​​ o crescimento das unidades de negócio​​ e contribuindo para a​​ distribuição de dividendos​​ com​​ um dos melhores​​ yields​​ da bolsa portuguesa.

A SONC inclui ainda negócios ligados à Engenharia Industrial, ao Fitness, à Hotelaria e à​​ Refrigeração&AVAC.

Figura​​ 1​​ – Unidades de Negócio da SONAE CAPITAl (fonte: Relatório&Contas Sonae Capital)

 

Situação financeira

Análise dos resultados

O​​ volume de vendas é o​​ primeiro dado​​ a​​ analisar​​ na demonstração de resultados. ​​ As vendas são a força vital das empresas. Sem elas não há lucro ou qualquer perspetiva de negócio. A​​ análise do histórico do volume de vendas permite​​ avaliar a exposição da empresa aos ciclos económicos e​​ perceber se o negócio está em expansão ou em retração.

A​​ SONC​​ tem vindo a apresentar​​ uma subida consistente do seu volume de vendas​​ desde 2012​​ (Figura 2).​​ No entanto, o​​ resultado líquido​​ ainda apresentou valores negativos em 2018, perspetivando-se​​ um resultado positivo para 2019.

 

Figura​​ 2​​ –​​ Volume de vendas

 

 

Figura​​ 3​​ – principais dados da demostração de resultados

 

O resultado operacional reflete a capacidade​​ que a​​ empresa​​ tem​​ de​​ gerar receita.​​ Tal como o nome indica,​​ este dado mostra​​ o​​ resultado​​ gerado exclusivamente pelas operações do negócio,​​ antes​​ de ser descontada a verba destinada ao pagamento de​​ juros e impostos.​​ Dado que o resultado não é distorcido pelo nível de endividamento em que diferentes indústrias operam​​ ou pelas taxas tributárias que diferem de país para país, o resultado operacional​​ é um indicador​​ particularmente útil quando se pretende comparar​​ diferentes empresas.

O Resultado Operacional corresponde ao somatório de diversas parcelas, das quais se destacam​​ as seguintes​​ (Figura 4):

  • Gross Profit, ou margem​​ bruta:​​ é um indicador que revela a quantidade de dinheiro disponível​​ das​​ vendas após dedução do custo dos produtos vendidos. A margem de lucro bruto geralmente​​ aparece​​ expressa como uma percentagem das vendas.

  • Selling, General and Administrative Expenses​​ (SG&A):​​ inclui todas as despesas gerais e administrativas incorridas durante o período contabilístico. Estas incluem salários de gestão, publicidade, custos de representatividade, honorários, comissões, entre outros.​​ 

  • Depreciação e Amortização:​​ é​​ a rubrica​​ onde se​​ reconhece​​ o desgaste que as máquinas e edifícios vão apresentando ao longo do tempo.​​ 

  • Outros ganhos/custos operacionais:​​ inclui​​ receitas de todas as outras atividades operacionais que não estão relacionadas​​ com as​​ principais atividades da empresa, como ganhos / perdas​​ em​​ alienações, receita de juros, receita de dividendos, etc.

Figura​​ 4​​ – Componentes do​​ Resultado Operacional

 

As despesas gerais e administrativas​​ apresentam​​ uma tendência decrescente desde 2011, representando, no final de 2018, 64% do​​ Gross Profit. A​​ depreciação​​ representou​​ 24%​​ do​​ Gross Profit​​ (Figura 5).​​ ​​ 

 

Figura​​ 5​​ – Despesas Gerais e Administrativas e Depreciação em função do Gross Profit

 

O histórico do​​ Gross Profit​​ apresenta uma evolução positiva ao longo dos anos (Figura 6). Uma vez que as despesas gerais e administrativas​​ diminuíram no mesmo período, significa que a empresa aumentou a eficiência das suas operações. Ainda assim, o Resultado Operacional mantem-se em terreno negativo (curva a tracejado,​​ Figura 6).

 

Figura​​ 6​​ –​​ Evolução histórica das parcelas do Resultado Operacional

 

O rácio​​ Gross Profit​​ Margin, que compara o​​ Gross Profit​​ com as vendas, foi de​​ 52.6% em 2018.​​ Apesar do aumento verificado​​ desde 2017,​​ este resultado está aquém dos valores registados em 2011.​​ Isto​​ indica​​ que​​ a​​ empresa​​ não consegue fazer​​ refletir​​ a subida do​​ preço da matéria-prima/serviços no preço final​​ ao cliente,​​ demonstrando​​ fraca​​ capacidade competitiva.​​ Ainda assim, tem-se assistidos a uma melhoria da margem operacional.

 

Figura​​ 7​​ – Evolução do Gross Profit Margin

 

É importante observar o​​ histórico do​​ resultado líquido e anotar a sua tendência de longo prazo. Interessa saber se há ou não consistência nos lucros apresentados e se a tendência de longo prazo é ascendente – quando​​ ambos​​ os indícios​​ são favoráveis, poderá ser sinónimo de vantagem competitiva.​​ Na figura seguinte apresentam-se as principais componentes do Resultado Líquido.

 

Figura​​ 8​​ – Componentes do resultado líquido

 

O​​ Resultado​​ Não​​ Operacional (Figura 3, Non-Operating Income/Expenses, Total) deve-se, geralmente, a eventos não recorrentes, pelo que muitos investidores optam por não os considerar no processo de avaliação de uma empresa.​​ 

O resultado não operacional​​ apresentou​​ um​​ peso​​ reduzido​​ no resultado líquido​​ em​​ 2018​​ (Figura 8).​​ No entanto, as operações descontinuadas tiveram um impacto relevante no Resultado Líquido. Este valor é fruto do reconhecimento​​ de um custo não recorrente de 3.5M€,​​ relacionado com​​ o fecho de algumas das operações da empresa.​​ 

A exposição à dívida e os gastos de capital podem ser analisados de uma forma indireta​​ na demonstração de resultados,​​ através da observação​​ dos juros pagos pela empresa e​​ do valor assumido em amortizações e depreciações.​​ 

A taxa de depreciação e amortização​​ registou​​ uma tendência de diminuição​​ entre​​ 2011​​ e​​ 2018. No entanto, registou-se​​ um aumento​​ nos últimos 12 meses​​ (TTM), que deverá estar relacionado com a​​ implementação da​​ IFRS16, uma norma​​ que passou a ser aplicada​​ em 2019​​ e​​ que afeta a forma como os arrendamentos são reportados nos relatórios financeiros.​​ 

Empresas com vantagens competitivas tendem a apresentar​​ custos de depreciação baixos em comparação com o​​ Gross Profit.​​ A SONC apresenta um​​ valor anual de depreciação​​ superior a​​ 20% do Gross Profit.

 

Figura​​ 9- Evolução da depreciação

Figura​​ 10​​ - Evolução do rácio Resultado Líquido / Juros da dívida

 

Estrutura do balanço

No balanço começamos​​ por analisar os ativos mais líquidos,​​ nomeadamente​​ a quantidade de dinheiro disponível.​​ Quando​​ existe muito dinheiro disponível​​ em relação ao preço de mercado das ações,​​ é um sinal positivo.​​ Nesse caso, as ações podem valer mais do que o​​ resultado líquido​​ indica, sendo​​ provável que os acionistas​​ venham a beneficiar​​ desses ativos por meio​​ de​​ dividendos​​ ou​​ através de lucros gerados​​ pela aplicação desse dinheiro em​​ investimentos​​ adequados. Muito dinheiro disponível indica​​ que​​ a empresa​​ pode ter​​ uma vantagem competitiva que se está a traduzir em ganhos financeiros, o que é positivo, ou​​ que​​ a empresa vendeu parte dos seus ativos ou​​ ações, o que não​​ é tão positivo.​​ 

A​​ SONC​​ apresenta​​ um volume de caixa e equivalentes de​​ 0.03€ por ação, que corresponde​​ sensivelmente​​ a​​ 5% do​​ preço das​​ ações à data desta análise.​​ 

 

Um investidor de renome, Joel Greenblatt, utiliza um simples cálculo para aferir o dinheiro em excesso existente na empresa. Assume que uma empresa necessita de 20% do volume de vendas para conduzir o seu negócio, sendo o restante considerado dinheiro em excesso.

20% das vendas​​ da SONC​​ corresponderiam​​ a​​ 0.18€/ação,​​ bastante acima dos​​ 0.03€/ação​​ que efetivamente a SONC tem no seu balanço, o que​​ atribui​​ algum risco de liquidez​​ à​​ empresa.​​ 

 

O lucro líquido de uma empresa pode ser pago em dividendos, utilizado para recomprar as ações da empresa ou pode ser retido para manter o negócio em crescimento. Se os ganhos forem retidos e utilizados de maneira lucrativa, podem gerar lucros adicionais à empresa. O histórico dos ganhos retidos, ou​​ Retained Earnings, é, por conseguinte, um indicador importante, na medida em que​​ reflete​​ a​​ riqueza que a empresa​​ gera​​ e​​ a forma como faz a gestão dessa riqueza.

A SONC não apresenta um panorama animador neste indicador,​​ registando​​ um valor negativo em 2018.​​ O montante de​​ Retained Earnings​​ é um valor acumulado, que traduz os lucros acumulados ao longo dos anos.​​ Quando a​​ empresa perde dinheiro, a perda é subtraída ao valor acumulado no passado. Se a empresa perdeu mais dinheiro do que acumulou​​ ao longo do tempo, o valor de​​ Retained Earnings​​ será negativo,​​ como​​ é o caso da SONC.

A​​ SONC regista​​ também uma​​ diminuição​​ gradual das​​ reservas​​ ao longo dos anos.

Tudo isto traduziu-se numa diminuição do património líquido da empresa.

 

A rubrica​​ goodwill​​ também merece​​ ser analisada. O​​ aumento​​ de​​ goodwill​​ geralmente está relacionado com a aquisição de novos negócios.​​ 

Esta​​ rubrica tem-se mantido​​ relativamente​​ constante​​ ao longo dos anos, notando-se uma ligeira subida nos últimos 3 anos, refletindo a aposta em aquisições.

 

Empresas muito endividadas estão mais expostas a ciclos económicos desfavoráveis, como uma recessão.​​ Como regra, as empresas com uma vantagem competitiva durável exibem pouca ou nenhuma dívida de longo prazo.​​ Em empresas com dívida no balanço​​ deve ser​​ analisado​​ o​​ respetivo​​ histórico e verificada​​ a tendência​​ registada​​ nos últimos anos.​​ 

A SONC tem conseguido diminuir a dívida ao longo dos anos, o que se afigura positivo​​ (Figura 11).​​ No entanto, a sua dívida ainda é elevada, quando comparada com o resultado líquido.

 

Figura​​ 11​​ – Dívida de longo prazo

 

​​ Numa das​​ suas​​ últimas entrevistas,​​ Ben Graham, o pai da análise fundamental,​​ informou​​ que usava um critério simples para medir a solvência de uma empresa. Uma empresa deve possuir​​ o dobro do que deve. Por outras palavras, o rácio​​ Total Assets / Total Liabilities​​ deve ser​​ maior ou​​ igual a 2.​​ 

O​​ rácio do indicador​​ Total Assets / Total Liabilities​​ registado em 2018 foi de 2.1, cumprindo com a meta de Bem Graham.​​ No entanto, o​​ current ratio, que relaciona os ativos correntes com o passivo corrente, denota alguma falta de liquidez, tal como já referido nesta análise​​ - como regra geral,​​ os​​ ativos correntes​​ devem ser​​ o​​ dobro dos​​ passivos​​ correntes, embora isso varie de setor para setor.

É de notar​​ que o​​ current ratio​​ registou uma subida acentuada​​ em 2016. Esse pico está​​ relacionado com​​ a liquidação de​​ um plano obrigacionista que​​ apresentou um impacto superior a 50M€ no passivo da empresa.

Figura​​ 12​​ – relação dos ativos e passivos

 

​​ A relação​​ da​​ dívida​​ com o​​ património líquido​​ pode ser utilizada​​ para​​ perceber​​ o modo como a​​ empresa​​ se financia. Basicamente a empresa pode financiar-se recorrendo a dívida ou ao seu próprio capital (que inclui o dinheiro aplicado pelos acionistas e os lucros acumulados).​​ Quando uma​​ empresa​​ recorre constantemente​​ a dívida para se financiar,​​ apresenta um perfil de maior risco para o investidor.

O​​ indicador​​ debt-to-equity ratio​​ tem revelado uma​​ ligeira​​ tendência​​ de​​ diminuição​​ ao longo dos anos,​​ verificando-se uma descida de 0.8​​ para 0.5​​ no​​ longo prazo,​​ o que significa​​ que a empresa apresenta, atualmente, um perfil de​​ menor​​ risco no que concerne ao endividamento​​ (Figura 13).​​ Um rácio​​ inferior a 1​​ significa que a empresa é financiada mais por capital próprio do que por dívida.​​ 

É de notar uma descida acentuada a partir de 2014,​​ seguindo​​ um padrão encontrado​​ em algumas​​ empresas​​ portuguesas que está relacionado com o forte abaixamento das taxas de juro sobre novas operações de empréstimos cobradas a empresas, que se registou​​ a partir dessa​​ data.

 

Figura​​ 13​​ – histórico do debt-to-equity ratio

 

Para medir o retorno do capital investido na empresa​​ destacamos​​ 3 indicadores:​​ Return on Equity, Return on Capital Employed,​​ e​​ Return on Acess.​​ O enfoque num ou noutro​​ indicador varia conforme o tipo de análise que pretendemos fazer.​​ 

No​​ Return on Capital Employed​​ (ROCE)​​ compara-se o resultado líquido operacional com o capital​​ investido na empresa. Um​​ ROCE​​ de 20% significa que por​​ cada​​ euro​​ investido, a empresa obteve​​ 20​​ cêntimos​​ de lucro​​ operacional.​​ Consideramos que este indicador​​ é​​ um dos mais​​ adequados​​ para efeito de​​ benchmarking​​ com outras entidades, já que permite uma​​ compararão dos resultados antes dos juros e impostos​​ -​​ estes​​ fatores​​ variam​​ de​​ indústria​​ para​​ indústria, ou de país​​ para​​ país,​​ pelo que podem​​ distorcer​​ os resultados​​ quando são considerados.​​ 

A​​ SONC​​ apresenta um​​ retorno​​ de capital empregue​​ de 1%​​ (Figura 14), um valor muito baixo que​​ retira atratividade a este investimento.​​ 

 

Figura​​ 14​​ – Retorno do investimento

 

Existem várias formas possíveis de analisar o preço das ações​​ e verificar se este está caro ou barato​​ face ao seu​​ histórico​​ de preços, ou face às empresas concorrentes.​​ Nesta análise utilizamos o​​ Current Earnings Yield, um indicador que​​ compara o resultado​​ operacional com o​​ preço​​ pelo qual o mercado avalia a empresa​​ (Enterprise Value).​​ 

Se a este​​ indicador juntamos o ROCE, referido no parágrafo anterior, ficaremos com uma relação do preço e do retorno do investimento que a empresa apresenta. Uma empresa com um preço baixo e retorno elevado será uma melhor aposta que uma empresa nas condições opostas.​​ 

As barras verticais representadas na figura seguinte correspondem ao resultado final desta classificação - quanto mais alta for a barra, melhor​​ conjugação do​​ preço​​ e​​ retorno terá a empresa.

Considerando o resultado dos​​ últimos 12 meses (barra​​ TTM),​​ a​​ SONC​​ apresenta uma​​ relação​​ preço/retorno​​ que se encontra​​ na melhor posição dos últimos 10 anos​​ (Figura 15).

 

Figura​​ 15​​ – Earnings Yield

 

O​​ lucro​​ por ação é a medida mais importante na determinação do valor da empresa​​ e a recompra ou emissão de ações tem um impacto direto nesta métrica.​​ 

Dado que a recompra de ações​​ traduz-se​​ numa diminuição do​​ número de ações em circulação,​​ esta​​ ocorrência​​ provoca​​ um​​ aumento​​ imediato​​ do lucro por ação.​​ Normalmente a recompra de ações surge num contexto em que as ações estão subvalorizadas, representando, neste caso,​​ uma​​ forma de​​ agregar valor à empresa.

Por outro lado, a emissão de ações diminui o lucro por ação de uma forma imediata, destruindo valor para os acionistas.​​ As empresas recorrem a esta forma de financiamento quando não têm reservas de dinheiro suficientes para fazer face aos seus investimentos​​ ou quando as​​ taxas de juro​​ (custo dos empréstimos)​​ são​​ muito​​ elevadas.​​ ​​ 

É sempre importante observar o histórico do número de ações emitidas​​ para​​ confirmar​​ a política que a empresa segue em relação​​ a esta matéria.

A​​ SONC​​ tem apresentado um perfil estável ao longo dos anos, o que salvaguarda os interesses dos acionistas.​​ 

 

O indicador​​ Price/Book Value​​ pode ser utilizado para​​ comparar​​ valores​​ de​​ empresas similares do mesmo setor,​​ onde é empregue​​ o mesmo​​ método contabilístico​​ para avaliação de ativos.​​ 

O​​ indicador​​ deve ser utilizado com parcimónia​​ como base de​​ comparação​​ entre​​ empresas de diferentes setores e indústrias,​​ devido a diferenças nos critérios contabilísticos. Por exemplo,​​ algumas empresas​​ podem registar​​ os​​ seus ativos ao​​ custo​​ histórico​​ de aquisição​​ enquanto​​ outras​​ podem registar​​ os​​ seus ativos​​ ao valor atual do mercado.​​ 

Como resultado, um​​ valor alto neste indicador​​ não significará necessariamente que a empresa esteja sobreavaliada,​​ assim como o inverso​​ não​​ quererá dizer que a empresa esteja subavaliada. No entanto, pode ser um indicador útil quando​​ utilizado para​​ comparar​​ empresas do mesmo setor​​ ou para verificar o histórico de uma empresa específica.

O​​ Price/Book Value​​ está,​​ à data desta análise (31-01-2020), nos​​ 71% o que é​​ considerado um​​ valor​​ atrativo​​ para​​ muitos​​ investidores. No entanto, há que ter em conta​​ que a empresa tem vindo a perder património líquido​​ ano após ano pelo que,​​ se tudo o resto se mantiver igual, a relação do preço das ações com o património líquido tenderá​​ inevitavelmente​​ a​​ aumentar.

Figura​​ 16​​ – Evolução do indicador Price/Book Value

 

Fluxo de caixa

O​​ Free Cash Flow​​ Yield​​ é um indicador que​​ compara o​​ fluxo de caixa operacional​​ – somatório do​​ dinheiro recebido e​​ dinheiro​​ gasto​​ nas operações - com​​ o valor de mercado da empresa.​​ Este indicador​​ representa uma alternativa​​ à​​ métrica​​ earnings yield​​ já​​ mencionada​​ nesta análise, na medida em que permite comparar o preço atual​​ dos títulos​​ com os preços verificados no passado,​​ ou com os preços da concorrência,​​ e identificar se este está​​ relativamente​​ alto ou baixo.​​ 

Analisando o histórico deste indicador (Figura 17), verifica-se que o​​ Free Cash Flow Yield​​ apresenta​​ uma tendência de subida​​ acentuada​​ ao longo dos últimos anos. Isto significa que o preço das ações está hoje mais baixo, quando comparado com o​​ fluxo​​ operacional da empresa.

 

Os​​ gastos​​ de capital​​ têm uma influência direta​​ na determinação do​​ Free Cash-Flow​​ to Equity, isto é, na determinação da quantidade de dinheiro que fica efetivamente disponível para os acionistas. Se os gastos de capital forem​​ elevados​​ significa que​​ a empresa precisa de reinvestir uma grande parte das suas receitas​​ de uma forma contínua,​​ de forma a​​ manter os ativos existentes.​​ Elevadas despesas de capital reduzem o fluxo de caixa, no qual se baseia o valor de uma empresa. Empresas com elevados gastos de capital apresentam rácios do indicador​​ Capital​​ Expenditure/Sales​​ superiores a 20%.

Os​​ gastos de capital​​ registam uma tendência de subida desde 2013,​​ refletindo um aumento do​​ investimento. Para haver crescimento, tem de haver investimento. No entanto, o retorno do capital investido tem de ser superior ao custo do capital, caso contrário o investimento revela-se prejudicial para a empresa.​​ E infelizmente, a SONC tem revelado retornos muito baixos, como vimos nos pontos anteriores, criando baixas espectativas quando ao​​ futuro​​ retorno​​ dos seus investimentos.

É de notar, pela positiva, que​​ a empresa reduziu​​ o valor do​​ seu​​ inventário​​ (uma tendência que se tem registado nos últimos anos), libertando dinheiro​​ para os acionistas​​ (free cash flow positivo) apesar de apresentar um resultado líquido negativo. Esse dinheiro​​ pode ser distribuído através de dividendos, utilizado na recompra de ações ou investido na expansão da empresa.

 

Figura​​ 17​​ - Indicadores de preço

 

Avaliação

O processo de avaliação de uma empresa não é um exercício objetivo, sendo influenciado por vários fatores como a falta de informação, erros associados às estimativas,​​ erros relacionados com​​ preconceitos​​ do​​ próprio analista, entre outros. No entanto, é um método que permite uma boa aproximação do valor das empresas e, acima de tudo, permite identificar os melhores negócios quando utilizado de forma consistente​​ e uniforme​​ em todas​​ as empresas.​​ 

O valor de uma empresa corresponde ao valor atual líquido dos fluxos de caixa (Cash Flow) gerados no futuro pelo negócio.​​ Para estimar o​​ valor intrínseco da empresa começa-se por calcular o​​ dinheiro que está efetivamente disponível para os acionistas, o​​ Free Cash Flows to Equity​​ (FCFE). Este indicador corresponde ao​​ fluxo de caixa​​ resultante​​ após​​ cumpridas as obrigações financeiras, assumidas​​ as​​ despesas de capital e​​ depois de satisfeitas as​​ necessidades de capital circulante.​​ 

Depois de calculado​​ o​​ FCFE,​​ o passo seguinte consiste em​​ estimar​​ a​​ taxa de crescimento da empresa.​​ Para estimar o crescimento recorre-se à informação disponível nos​​ relatórios​​ financeiros​​ e, tanto quanto possível, a toda a informação complementar disponível. Existem algumas questões-chave neste processo, como​​ identificar da​​ fase do​​ ciclo económico​​ que se atravessa,​​ conhecer​​ as perspetivas da indústria onde a empresa se insere,​​ conhecer​​ os​​ concorrentes, identificar as vantagens competitivas da empresa,​​ entre​​ outros fatores que​​ influenciam o crescimento​​ do negócio.​​ 

Integrando essas variáveis numa​​ análise de​​ Cash-Flow,​​ obtém-se​​ finalmente​​ o​​ valor intrínseco, ou o​​ preço a que a ação deve ser adquirida,​​ para​​ uma dada​​ espectativa de retorno do investidor.

 

 

Nos pontos seguintes resumem-se​​ os principais resultados desta análise:

  • A SONC​​ apresenta​​ uma subida​​ consistente​​ do volume de negócios;

  • A empresa tem aumentado a eficiência das operações, melhorando o seu Resultado Operacional. No entanto, a evolução do indicador​​ Gross Profit Margin​​ aponta para uma perda de competitividade ao longo dos anos;

  • O resultado líquido mantém-se em terreno negativo, embora​​ sejam​​ esperados​​ lucros​​ para 2019,​​ com a inexistência de efeitos negativos extraordinários (anulação da verba das operações descontinuadas)​​ e​​ com​​ o aumento do volume de vendas;

  • A​​ empresa tem vindo a perder património ao longo dos anos;

  • A empresa apresenta, atualmente, um perfil de​​ baixo​​ risco no que concerne ao endividamento;

  • A SONC apresenta um retorno de capital de 1%, um valor que confere uma rentabilidade muito pequena aos investidores;

  • A​​ SONC apresenta uma relação preço/retorno que se encontra na melhor posição dos últimos 10 anos;

  • Os gastos de capital registam uma tendência de subida desde 2016,​​ refletindo uma maior aposta no​​ crescimento da empresa. A par disso, a empresa reduziu significativamente o valor do inventário e melhorou o resultado líquido, libertando mais dinheiro para os acionistas.

 

Em suma, a​​ SONC​​ apresenta​​ alguns aspetos positivos​​ na demonstração de resultados. No entanto,​​ o que mais se destaca​​ é a​​ diminuição do seu património líquido.​​ 

Por outro lado, o retorno associado aos investimentos da empresa é claramente baixo, não oferecendo grandes garantias​​ aos investidores, mesmo que se tenha registado um aumento do dinheiro disponível para os acionistas nos últimos dois anos.​​ 

De realçar ainda que​​ uma das principais fontes de receitas da empresa reside na gestão de ativos imobiliários, um setor que apresenta uma forte componente cíclica,​​ aumentando a incerteza relativamente aos ganhos futuros.

Tendo tudo isto em conta​​ e o facto da SONC​​ apresentar​​ resultados negativos recorrentes acompanhados de uma grande volatilidade, torna o exercício de estimativa​​ dos futuros cash-flows muito difícil. Paralelamente, o facto de se tratar de uma holding​​ constituída por​​ vários tipos de negócio distintos,​​ dificulta​​ o processo de estimativa dos cash-flows,​​ em comparação com empresas que sustentam um único negócio. ​​ Assim, seguindo um velho princípio de que só se deve investir naquilo que se compreende, a MyStockIdeas optou por não avaliar a SONC quantitativamente,​​ uma vez que o resultado teria,​​ inevitavelmente,​​ uma margem de erro muito alta.

 

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