Jerónimo Martins (JMT)

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  • Dezembro 31, 2019

Principais resultados da análise

A JMT está entre os maiores retalhistas do mundo, continuando a investir no crescimento através da expansão e abertura de novas lojas, em geografias onde se regista um forte crescimento do PIB.

O resultado líquido e o resultado operacional apresentaram uma tendência de subida ao longo dos últimos 10 anos. O resultado não operacional apresentou um peso reduzido no resultado líquido até ao final de 2018. No entanto, com a implementação da norma IFRS16, registou-se um aumento significativo das despesas financeiras a partir de 2019.

A dívida total (corrente e não corrente) dá sinal de uma empresa pouco endividada.

A JMT apresenta uma rentabilidade dos investimentos atrativa. O valor de ROCE verificado no final de 2018 foi de 15.7%.

Ao longo dos anos registou-se uma ligeira descida dos gastos de capital o que, associado à subida do Free Cash Flow Yield, poderá significar mais dinheiro disponível para os acionistas.

De uma forma geral, a JMT apresenta números e tendências positivas. Não se encontram, praticamente, fragilidades nos seus relatórios financeiros, podendo apenas apontar-se o forte impacto que a IFRS16 terá no resultado de 2019, fruto de um custo de arrendamento elevado.

Refletindo todos estes fatores numa análise de cash-flow obtém-se um valor intrínseco de 11.10€, o que significa que as ações estão sobrevalorizadas, à data desta análise (31-12-2019).

Ver análise detalhada

Introdução

Nesta avaliação será efetuada uma análise assente no histórico dos dados financeiros e dos principais indicadores de desempenho, o que permitirá obter uma boa aproximação do valor da empresa. A avaliação é baseada na informação disponível nos relatórios e contas, em estudos publicados, em artigos disponíveis na imprensa, legislação, etc.

Os dados financeiros das empresas aparecem resumidos em três tipos de formatos: demonstração de resultados, balanço e o fluxo de caixa.

A demonstração de resultados apresenta a quantia que a empresa faturou num determinado período de tempo (vendas) e a quantia que utilizou para obter essas receitas durante o mesmo período de tempo (custos). Analisando a demonstração de resultados podemos verificar se as receitas estão numa tendência crescente ou decrescente, se as despesas estão em linha com as receitas, se os lucros são consistentes ou voláteis, se apresentam um padrão cíclico, entre outros. Os preços das ações da grande maioria das empresas estão relacionados com os lucros, pelo que a análise da demonstração de resultados assume uma grande importância no processo de previsão do preço das ações.​​ 

A estrutura de balanço reflete a condição financeira da empresa em determinado instante. Através do balanço é possível verificar a solvência da empresa, a sua liquidez, a sua eficiência operacional, entre outras características. Um balanço forte pode ser um indicador de resistência a ciclos económicos adversos.​​ 

O fluxo de caixa reflete o dinheiro que realmente entrou e saiu da empresa durante um determinado período de tempo (tipicamente 1 ano). O histórico do fluxo de caixa permite saber a quantia que a empresa realmente gasta e que efetivamente recebe, fornecendo informação indispensável para o cálculo do seu valor intrínseco.

Ao longo desta análise será interpretada a informação disponibilizada por estes três formatos e, recorrendo a indicadores-chave, será calculada uma primeira estimativa do valor da empresa.​​ 

 

 

Descrição da empresa

A Jerónimo Martins SGPS SA​​ (JMT)​​ opera no setor de retalho,​​ através de uma​​ cadeia de lojas alimentares​​ que​​ aposta​​ numa​​ localização de proximidade.​​ A empresa está representada através das​​ marcas​​ “Pingo Doce”​​ em Portugal,​​ da​​ “Biedronka”​​ na​​ Polónia e​​ da marca “Ara”​​ na​​ Colômbia.​​ 

A JMT​​ também opera na área de retalho grossista com a marca “Recheio”,​​ no setor Agroalimentar abastecendo as companhias do grupo com produtos lácteos, carne bovina e produtos de aquicultura em Portugal,​​ e ainda​​ no setor das farmácias e drogarias com a marca “Hebe” na Polónia.

A JMT está entre os maiores retalhistas do mundo, de acordo com o ranking “Global Powers of Retailing 2019”.​​ Não obstante, a​​ JMT​​ continua a investir no seu crescimento,​​ tendo dedicado, em 2018,​​ 41% do montante de capex à expansão e abertura de novas lojas.

A​​ “Biedronka” registou um crescimento de​​ 5.6% do seu volume de vendas, representando mais de dois terços​​ das vendas totais do grupo em 2018 (Figura 1). O crescimento poderia​​ até​​ ter sido maior, tendo em conta que a​​ Polónia continua a registar um forte crescimento do seu PIB e do consumo interno, no entanto,​​ a entrada em vigor de uma nova legislação, que limita a abertura de lojas de retalho ao domingo,​​ impediu que esse​​ crescimento​​ se refletisse integralmente nas​​ vendas​​ da​​ empresa.​​ 

Em Portugal,​​ as vendas do​​ Retalho Alimentar cresceram​​ 4.6%. O​​ comércio​​ grossita cresceu​​ 4% beneficiando dos efeitos do turismo​​ e consequentemente​​ da​​ maior procura por parte do segmento dos hotéis, restaurantes e cafés.

O Grupo apresenta​​ também​​ negócios não lucrativos, com um impacto​​ negativo​​ de 13.60% no EBITDA consolidado (Figura 2). Estes negócios estão localizados​​ na​​ Polónia (Hebe) e​​ principalmente​​ na Colômbia (Ara),​​ onde se concentram​​ 90% das perdas geradas.

 

 

Figura​​ 1​​ – Volume de vendas por área

 

Figura​​ 2​​ –​​ Peso no​​ EBITDA por área

 

 

Situação financeira

Análise dos resultados

O​​ volume de vendas é o​​ primeiro dado​​ a​​ analisar​​ na demonstração de resultados. ​​ As vendas são a força vital das empresas. Sem elas não há lucro ou qualquer perspetiva de negócio. A​​ análise do histórico do volume de vendas permite​​ avaliar a exposição da empresa aos ciclos económicos e​​ perceber se o negócio está em expansão ou em retração.

A​​ JMT​​ tem vindo a apresentar​​ uma subida consistente do seu volume de vendas​​ (Figura 3).​​ O resultado líquido seguiu a mesma tendência,​​ embora​​ a uma​​ taxa de crescimento​​ inferior à​​ da faturação.

 

Figura​​ 3​​ –​​ Volume de vendas

 

 

Figura​​ 4​​ – principais dados da demostração de resultados

O resultado operacional reflete a capacidade​​ que a​​ empresa​​ tem​​ de​​ gerar receita.​​ Tal como o nome indica,​​ este dado mostra​​ o​​ resultado​​ gerado exclusivamente pelas operações do negócio,​​ antes​​ de ser descontada a verba destinada ao pagamento de​​ juros e impostos.​​ Dado que o resultado não é distorcido pelo nível de endividamento em que diferentes indústrias operam​​ ou pelas taxas tributárias que diferem de país para país, o resultado operacional​​ é um indicador​​ particularmente útil quando se pretende comparar​​ diferentes empresas.

O Resultado Operacional corresponde ao somatório de diversas parcelas, das quais se destacam​​ as seguintes​​ (Figura 5):

  • Gross Profit, ou margem​​ bruta:​​ é um indicador que revela a quantidade de dinheiro disponível​​ das​​ vendas após dedução do custo dos produtos vendidos. A margem de lucro bruto geralmente​​ aparece​​ expressa como uma percentagem das vendas.

  • Selling, General and Administrative Expenses​​ (SG&A):​​ inclui todas as despesas gerais e administrativas incorridas durante o período contabilístico. Estas incluem salários de gestão, publicidade, custos de representatividade, honorários, comissões, entre outros.​​ 

  • Depreciação e Amortização:​​ é​​ a rubrica​​ onde se​​ reconhece​​ o desgaste que as máquinas e edifícios vão apresentando ao longo do tempo.​​ 

  • Outros ganhos/custos operacionais:​​ inclui​​ receitas de todas as outras atividades operacionais que não estão relacionadas​​ com as​​ principais atividades da empresa, como ganhos / perdas​​ em​​ alienações, receita de juros, receita de dividendos, etc.

Figura​​ 5​​ – Componentes do​​ Resultado Operacional

As despesas gerais e administrativas​​ apresentam um​​ peso​​ significativo​​ no​​ resultado operacional,​​ o que é característico do setor de retalho, representando​​ 74% do​​ Gross Profit. A​​ depreciação equivale a​​ 9%​​ do​​ Gross Profit​​ (Figura 7).​​ ​​ 

Analisando o​​ histórico​​ do​​ Gross Profit,​​ verifica-se uma evolução positiva e consistente ao longo dos anos, que superou​​ ligeiramente​​ a evolução verificada nas despesas gerais e​​ administrativas.​​ Isto significa que a empresa aumentou​​ o seu resultado​​ operacional​​ (Figura 6).

 

Figura​​ 6​​ –​​ Evolução histórica das parcelas do Resultado Operacional

 

Figura​​ 7​​ – Despesas Gerais e​​ Administrativas​​ e Depreciação em função do Gross Profit

O rácio​​ Gross Profit​​ Margin, que compara o Gross Profit com as vendas, foi de 22% em 2018. Este rácio apresenta uma ligeira tendência de diminuição ao longo dos anos, o que poderá significar que a JMT está a sentir maior pressão competitiva e que, por isso, poderá não​​ estar a​​ conseguir refletir integralmente o aumento dos custos operacionais nos preços de venda dos produtos.​​