Jerónimo Martins (JMT)

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  • Dezembro 31, 2019

Principais resultados da análise

A JMT está entre os maiores retalhistas do mundo, continuando a investir no crescimento através da expansão e abertura de novas lojas, em geografias onde se regista um forte crescimento do PIB.

O resultado líquido e o resultado operacional apresentaram uma tendência de subida ao longo dos últimos 10 anos. O resultado não operacional apresentou um peso reduzido no resultado líquido até ao final de 2018. No entanto, com a implementação da norma IFRS16, registou-se um aumento significativo das despesas financeiras a partir de 2019.

A dívida total (corrente e não corrente) dá sinal de uma empresa pouco endividada.

A JMT apresenta uma rentabilidade dos investimentos atrativa. O valor de ROCE verificado no final de 2018 foi de 15.7%.

Ao longo dos anos registou-se uma ligeira descida dos gastos de capital o que, associado à subida do Free Cash Flow Yield, poderá significar mais dinheiro disponível para os acionistas.

De uma forma geral, a JMT apresenta números e tendências positivas. Não se encontram, praticamente, fragilidades nos seus relatórios financeiros, podendo apenas apontar-se o forte impacto que a IFRS16 terá no resultado de 2019, fruto de um custo de arrendamento elevado.

Refletindo todos estes fatores numa análise de cash-flow obtém-se um valor intrínseco de 11.10€, o que significa que as ações estão sobrevalorizadas, à data desta análise (31-12-2019).

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Introdução

Nesta avaliação será efetuada uma análise assente no histórico dos dados financeiros e dos principais indicadores de desempenho, o que permitirá obter uma boa aproximação do valor da empresa. A avaliação é baseada na informação disponível nos relatórios e contas, em estudos publicados, em artigos disponíveis na imprensa, legislação, etc.

Os dados financeiros das empresas aparecem resumidos em três tipos de formatos: demonstração de resultados, balanço e o fluxo de caixa.

A demonstração de resultados apresenta a quantia que a empresa faturou num determinado período de tempo (vendas) e a quantia que utilizou para obter essas receitas durante o mesmo período de tempo (custos). Analisando a demonstração de resultados podemos verificar se as receitas estão numa tendência crescente ou decrescente, se as despesas estão em linha com as receitas, se os lucros são consistentes ou voláteis, se apresentam um padrão cíclico, entre outros. Os preços das ações da grande maioria das empresas estão relacionados com os lucros, pelo que a análise da demonstração de resultados assume uma grande importância no processo de previsão do preço das ações.​​ 

A estrutura de balanço reflete a condição financeira da empresa em determinado instante. Através do balanço é possível verificar a solvência da empresa, a sua liquidez, a sua eficiência operacional, entre outras características. Um balanço forte pode ser um indicador de resistência a ciclos económicos adversos.​​ 

O fluxo de caixa reflete o dinheiro que realmente entrou e saiu da empresa durante um determinado período de tempo (tipicamente 1 ano). O histórico do fluxo de caixa permite saber a quantia que a empresa realmente gasta e que efetivamente recebe, fornecendo informação indispensável para o cálculo do seu valor intrínseco.

Ao longo desta análise será interpretada a informação disponibilizada por estes três formatos e, recorrendo a indicadores-chave, será calculada uma primeira estimativa do valor da empresa.​​ 

 

 

Descrição da empresa

A Jerónimo Martins SGPS SA​​ (JMT)​​ opera no setor de retalho,​​ através de uma​​ cadeia de lojas alimentares​​ que​​ aposta​​ numa​​ localização de proximidade.​​ A empresa está representada através das​​ marcas​​ “Pingo Doce”​​ em Portugal,​​ da​​ “Biedronka”​​ na​​ Polónia e​​ da marca “Ara”​​ na​​ Colômbia.​​ 

A JMT​​ também opera na área de retalho grossista com a marca “Recheio”,​​ no setor Agroalimentar abastecendo as companhias do grupo com produtos lácteos, carne bovina e produtos de aquicultura em Portugal,​​ e ainda​​ no setor das farmácias e drogarias com a marca “Hebe” na Polónia.

A JMT está entre os maiores retalhistas do mundo, de acordo com o ranking “Global Powers of Retailing 2019”.​​ Não obstante, a​​ JMT​​ continua a investir no seu crescimento,​​ tendo dedicado, em 2018,​​ 41% do montante de capex à expansão e abertura de novas lojas.

A​​ “Biedronka” registou um crescimento de​​ 5.6% do seu volume de vendas, representando mais de dois terços​​ das vendas totais do grupo em 2018 (Figura 1). O crescimento poderia​​ até​​ ter sido maior, tendo em conta que a​​ Polónia continua a registar um forte crescimento do seu PIB e do consumo interno, no entanto,​​ a entrada em vigor de uma nova legislação, que limita a abertura de lojas de retalho ao domingo,​​ impediu que esse​​ crescimento​​ se refletisse integralmente nas​​ vendas​​ da​​ empresa.​​ 

Em Portugal,​​ as vendas do​​ Retalho Alimentar cresceram​​ 4.6%. O​​ comércio​​ grossita cresceu​​ 4% beneficiando dos efeitos do turismo​​ e consequentemente​​ da​​ maior procura por parte do segmento dos hotéis, restaurantes e cafés.

O Grupo apresenta​​ também​​ negócios não lucrativos, com um impacto​​ negativo​​ de 13.60% no EBITDA consolidado (Figura 2). Estes negócios estão localizados​​ na​​ Polónia (Hebe) e​​ principalmente​​ na Colômbia (Ara),​​ onde se concentram​​ 90% das perdas geradas.

 

 

Figura​​ 1​​ – Volume de vendas por área

 

Figura​​ 2​​ –​​ Peso no​​ EBITDA por área

 

 

Situação financeira

Análise dos resultados

O​​ volume de vendas é o​​ primeiro dado​​ a​​ analisar​​ na demonstração de resultados. ​​ As vendas são a força vital das empresas. Sem elas não há lucro ou qualquer perspetiva de negócio. A​​ análise do histórico do volume de vendas permite​​ avaliar a exposição da empresa aos ciclos económicos e​​ perceber se o negócio está em expansão ou em retração.

A​​ JMT​​ tem vindo a apresentar​​ uma subida consistente do seu volume de vendas​​ (Figura 3).​​ O resultado líquido seguiu a mesma tendência,​​ embora​​ a uma​​ taxa de crescimento​​ inferior à​​ da faturação.

 

Figura​​ 3​​ –​​ Volume de vendas

 

 

Figura​​ 4​​ – principais dados da demostração de resultados

O resultado operacional reflete a capacidade​​ que a​​ empresa​​ tem​​ de​​ gerar receita.​​ Tal como o nome indica,​​ este dado mostra​​ o​​ resultado​​ gerado exclusivamente pelas operações do negócio,​​ antes​​ de ser descontada a verba destinada ao pagamento de​​ juros e impostos.​​ Dado que o resultado não é distorcido pelo nível de endividamento em que diferentes indústrias operam​​ ou pelas taxas tributárias que diferem de país para país, o resultado operacional​​ é um indicador​​ particularmente útil quando se pretende comparar​​ diferentes empresas.

O Resultado Operacional corresponde ao somatório de diversas parcelas, das quais se destacam​​ as seguintes​​ (Figura 5):

  • Gross Profit, ou margem​​ bruta:​​ é um indicador que revela a quantidade de dinheiro disponível​​ das​​ vendas após dedução do custo dos produtos vendidos. A margem de lucro bruto geralmente​​ aparece​​ expressa como uma percentagem das vendas.

  • Selling, General and Administrative Expenses​​ (SG&A):​​ inclui todas as despesas gerais e administrativas incorridas durante o período contabilístico. Estas incluem salários de gestão, publicidade, custos de representatividade, honorários, comissões, entre outros.​​ 

  • Depreciação e Amortização:​​ é​​ a rubrica​​ onde se​​ reconhece​​ o desgaste que as máquinas e edifícios vão apresentando ao longo do tempo.​​ 

  • Outros ganhos/custos operacionais:​​ inclui​​ receitas de todas as outras atividades operacionais que não estão relacionadas​​ com as​​ principais atividades da empresa, como ganhos / perdas​​ em​​ alienações, receita de juros, receita de dividendos, etc.

Figura​​ 5​​ – Componentes do​​ Resultado Operacional

As despesas gerais e administrativas​​ apresentam um​​ peso​​ significativo​​ no​​ resultado operacional,​​ o que é característico do setor de retalho, representando​​ 74% do​​ Gross Profit. A​​ depreciação equivale a​​ 9%​​ do​​ Gross Profit​​ (Figura 7).​​ ​​ 

Analisando o​​ histórico​​ do​​ Gross Profit,​​ verifica-se uma evolução positiva e consistente ao longo dos anos, que superou​​ ligeiramente​​ a evolução verificada nas despesas gerais e​​ administrativas.​​ Isto significa que a empresa aumentou​​ o seu resultado​​ operacional​​ (Figura 6).

 

Figura​​ 6​​ –​​ Evolução histórica das parcelas do Resultado Operacional

 

Figura​​ 7​​ – Despesas Gerais e​​ Administrativas​​ e Depreciação em função do Gross Profit

O rácio​​ Gross Profit​​ Margin, que compara o Gross Profit com as vendas, foi de 22% em 2018. Este rácio apresenta uma ligeira tendência de diminuição ao longo dos anos, o que poderá significar que a JMT está a sentir maior pressão competitiva e que, por isso, poderá não​​ estar a​​ conseguir refletir integralmente o aumento dos custos operacionais nos preços de venda dos produtos.​​ 

 

 

Figura​​ 8​​ – Evolução do Gross Profit Margin

É importante observar o​​ histórico do​​ resultado líquido e anotar a sua tendência de longo prazo. Interessa saber se há ou não consistência nos lucros apresentados e se a tendência de longo prazo é ascendente – quando​​ ambos​​ os indícios​​ são favoráveis, poderá ser sinónimo de vantagem competitiva.​​ Na figura seguinte apresentam-se as principais componentes do Resultado Líquido.

 

Figura​​ 9​​ – Componentes do resultado líquido

O​​ Resultado​​ Não​​ Operacional (Figura 4, Non-Operating Income/Expenses, Total) deve-se, geralmente, a eventos não recorrentes, pelo que muitos investidores optam por não os considerar no processo de avaliação de uma empresa.​​ 

O resultado não operacional​​ apresentou​​ um​​ peso​​ reduzido​​ no resultado líquido​​ até ao final de 2018​​ (Figura 10). No entanto, com a​​ implementação da norma IFRS16, que afeta a forma como os arrendamentos são reportadas nos relatórios​​ financeiros, registou-se um​​ aumento​​ significativo​​ das despesas financeiras, em concreto dos juros​​ pagos,​​ no primeiro semestre de 2019. O reconhecimento​​ da IFRS16​​ poderá​​ ter um impacto negativo​​ no resultado​​ líquido​​ de 2019.​​ 

 

Figura​​ 10​​ –​​ Evolução histórica dos principais​​ componentes do resultado Líquido

A exposição à dívida e os gastos de capital podem ser analisados de uma forma indireta​​ na demonstração de resultados,​​ através da observação​​ dos juros pagos pela empresa e​​ do valor assumido em amortizações e depreciações.​​ 

No ano 2018 os juros pagos corresponderam a cerca de 3% dos ganhos operacionais, o que é um resultado muito bom. No entanto, com a implementação da norma IFRS16, o peso dos juros pagos subiu​​ contabilisticamente​​ para cerca de 14% (TTM)​​ do resultado operacional. Dado que se​​ mantém​​ abaixo dos 15%, corresponde​​ ainda​​ a um bom resultado.

O valor anual de depreciação​​ também​​ está abaixo dos 15% do Gross Profit, o que é satisfatório.

 

Figura​​ 11- Evolução dos juros de empréstimos e da depreciação

Estrutura do balanço

No balanço começamos​​ por analisar os ativos mais líquidos,​​ nomeadamente​​ a quantidade de dinheiro disponível.​​ Quando​​ existe muito dinheiro disponível​​ em relação ao preço de mercado das ações,​​ é um sinal positivo.​​ Nesse caso, as ações podem valer mais do que o​​ resultado líquido​​ indica, sendo​​ provável que os acionistas​​ venham a beneficiar​​ desses ativos por meio de​​ dividendos​​ ou​​ através de lucros gerados​​ pela aplicação desse dinheiro em​​ investimentos​​ adequados. Muito dinheiro​​ disponível indica​​ que​​ a empresa​​ pode ter​​ uma vantagem competitiva que se está a traduzir em ganhos financeiros, o que é positivo, ou​​ que​​ a empresa vendeu parte dos seus ativos ou​​ ações, o que não​​ é tão positivo.​​ 

A​​ JMT​​ apresenta​​ um volume de caixa e equivalentes de​​ 0.87€ por ação, que corresponde​​ sensivelmente​​ a 6% do​​ preço das​​ ações à data desta análise.​​ 

 

Um investidor de renome, Joel Greenblatt, utiliza um simples cálculo para aferir o dinheiro em excesso existente na empresa. Assume que uma empresa necessita de 20% do volume de vendas para conduzir o seu negócio, sendo o restante considerado dinheiro em excesso.

A​​ JMT,​​ de acordo com este critério,​​ apresentaria​​ falta de liquidez, já que 20% das vendas corresponderiam​​ a 5.67€/ação,​​ um valor muito superior aos​​ 0.87€/ação​​ que apresenta no seu balanço.​​ No entanto, as empresas do retalho alimentar​​ necessitam de pouco dinheiro em caixa, dado que geram dinheiro muito rapidamente, vendendo produtos aos seus clientes antes mesmo de pagarem aos seus fornecedores. De certa forma,​​ pode-se dizer que​​ as empresas de retalho​​ utilizam o dinheiro dos fornecedores para​​ responder aos seus gastos operacionais.​​ ​​ 

 

O lucro líquido de uma empresa pode ser pago em dividendos, utilizado para recomprar as ações da empresa ou pode ser retido para manter o negócio em crescimento. Se os ganhos forem retidos e utilizados de maneira lucrativa, podem gerar​​ lucros adicionais à empresa. O histórico dos ganhos retidos, ou​​ Retained Earnings, é, por conseguinte, um indicador importante, na medida em que​​ reflete​​ a​​ riqueza que a empresa​​ gera​​ e​​ a forma como faz a gestão dessa riqueza.

Desde 2015​​ que se tem assistido a um​​ aumento​​ significativo do​​ volume de ganhos​​ retidos, o que é sinal de uma boa saúde financeira da empresa.​​ No entanto, o​​ verdadeiro valor desta reserva​​ depende da utilidade que a​​ JMT​​ lhe der, ie, do retorno que obterá do capital acumulado.

 

A rubrica​​ goodwill​​ também merece​​ ser analisada. O​​ aumento​​ de​​ goodwill​​ geralmente está relacionado com a aquisição de novos negócios.​​ 

No caso da​​ JMT, esta rubrica tem-se mantido​​ relativamente​​ constante​​ ao longo dos anos.

 

Empresas muito endividadas estão mais expostas a ciclos económicos desfavoráveis, como uma recessão.​​ Como regra, as empresas com uma vantagem competitiva durável exibem pouca ou nenhuma dívida de longo prazo.​​ Em empresas com dívida no balanço​​ deve ser​​ analisado​​ o​​ respetivo​​ histórico e verificada​​ a tendência​​ registada​​ nos últimos anos.​​ 

Comparando a dívida de longo prazo com o resultado líquido podemos ficar com uma ideia do grau de endividamento da empresa.​​ Quando a dívida total (corrente e não corrente) é inferior ao quádruplo do resultado líquido, a empresa está numa situação muito confortável no que concerne ao endividamento, e isso é precisamente o que acontece na JMT​​ (Figura 12).​​ 

Figura​​ 12​​ – Dívida de longo prazo​​ (fonte:MorningStar)

​​ Numa das​​ suas​​ últimas entrevistas,​​ Ben Graham, o pai da análise fundamental,​​ informou​​ que usava um critério simples para medir a solvência de uma empresa. Uma empresa deve possuir​​ o dobro do que deve. Por outras palavras, o rácio​​ Total Assets / Total Liabilities​​ deve ser​​ maior ou​​ igual a 2.​​ 

A​​ JMT​​ registou um rácio de 1.4​​ em 2018,​​ o que​​ está​​ abaixo​​ da meta​​ de Ben​​ Graham​​ (Figura 13).​​ Analisando o balanço com mais detalhe, verifica-se que a maior parte do passivo corresponde a dívidas aos fornecedores​​ relacionadas com o​​ curso normal das atividades. Como vimos nos pontos anteriores, este passivo é​​ também​​ uma fonte​​ importante​​ de financiamento​​ para as empresas de retalho. Assim, o rácio de 1.4 do indicador​​ Total Assets / Total Liabilities​​ é aceitável à luz destas explicações.

 

Figura​​ 13​​ – relação dos ativos e passivos

​​ A relação​​ da​​ dívida​​ com o​​ património líquido​​ pode ser utilizada​​ para​​ perceber​​ o modo como a​​ empresa​​ se financia. Basicamente a empresa pode financiar-se recorrendo a dívida ou ao seu próprio capital (que inclui o dinheiro aplicado pelos​​ acionistas e os lucros acumulados).​​ Quando uma​​ empresa​​ recorre constantemente​​ a dívida para se financiar,​​ apresenta um perfil de maior risco para o investidor.

O​​ indicador​​ debt-to-equity ratio​​ tem revelado uma​​ ligeira​​ tendência​​ de​​ diminuição​​ ao longo dos anos,​​ verificando-se uma descida de 0.5 para 0.3​​ no​​ longo prazo,​​ o que significa​​ que a empresa apresenta, atualmente, um perfil de​​ menor​​ risco no que concerne ao endividamento​​ (Figura 14).​​ Um rácio​​ inferior a 1​​ classifica este investimento como sendo de​​ baixo​​ risco.

Figura​​ 14​​ – histórico do debt-to-equity ratio

Para medir o retorno do capital investido na empresa​​ destacamos​​ 3 indicadores:​​ Return on Equity, Return on Capital Employed,​​ e​​ Return on Acess.​​ O enfoque num ou noutro​​ indicador varia conforme o tipo de análise que pretendemos fazer.​​ 

No​​ Return on Capital Employed​​ (ROCE)​​ compara-se o resultado líquido operacional com o capital​​ investido na empresa. Um​​ ROCE​​ de 20% significa que por​​ cada​​ euro​​ investido, a empresa obteve​​ 20​​ cêntimos​​ de lucro​​ operacional.​​ Consideramos que este indicador​​ é​​ um dos mais​​ adequados​​ para efeito de​​ benchmarking​​ com outras entidades, já que permite uma compararão dos resultados antes dos juros e impostos​​ -​​ estes​​ fatores​​ variam​​ de​​ indústria​​ para​​ indústria, ou de país​​ para​​ país,​​ pelo que podem​​ distorcer​​ os resultados​​ quando são considerados.​​ 

A​​ JMT​​ apresenta uma​​ rentabilidade dos investimentos​​ bastante atrativa​​ (Figura 15).​​ O​​ valor de ROCE verificado no final de 2018 foi de​​ 15.7%,​​ muito embora se note um decréscimo do ROE ao longo dos anos.

 

Figura​​ 15​​ – Retorno do investimento

 

Existem várias formas possíveis de analisar o preço das ações​​ e verificar se este está caro ou barato​​ face ao seu​​ histórico​​ de preços, ou face às empresas concorrentes.​​ Nesta análise utilizamos o​​ Current Earnings Yield, um indicador que​​ compara o resultado​​ operacional com o​​ preço​​ pelo qual o mercado avalia a empresa​​ (Enterprise Value).​​ 

Se a este​​ indicador juntamos o ROCE, referido no parágrafo anterior, ficaremos com uma relação do preço e do retorno do investimento que a empresa apresenta. Uma empresa com um preço baixo e retorno elevado será uma melhor aposta que uma empresa nas condições opostas.​​ 

As barras verticais representadas na figura seguinte correspondem ao resultado final desta classificação - quanto mais alta for a barra, melhor​​ conjugação do​​ preço​​ e​​ retorno terá a empresa.

Considerando o resultado dos​​ últimos 12 meses (barra​​ TTM)​​ e o preço das ações na data desta análise (31/12/2019),​​ a​​ JMT​​ apresenta uma​​ relação​​ preço/retorno​​ acima da​​ média​​ verificada nos últimos 10 anos​​ (Figura 16).

 

Figura​​ 16​​ – Earnings Yield

O​​ lucro​​ por ação é a medida mais importante na determinação do valor da empresa​​ e a recompra ou emissão de ações tem um impacto direto nesta métrica.​​ 

Dado que a recompra de ações​​ traduz-se​​ numa diminuição do​​ número de ações em circulação,​​ esta​​ ocorrência​​ provoca​​ um​​ aumento​​ imediato​​ do lucro por ação.​​ Normalmente a recompra de ações surge num contexto em que as ações estão subvalorizadas, representando, neste caso,​​ uma​​ forma de​​ agregar valor à empresa.

Por outro lado, a emissão de ações diminui o lucro por ação de uma forma imediata, destruindo valor para os acionistas.​​ As empresas recorrem a esta forma de financiamento quando não têm reservas de dinheiro suficientes para fazer face aos seus investimentos​​ ou quando as​​ taxas de juro​​ (custo dos empréstimos)​​ são​​ muito​​ elevadas.​​ ​​ 

É sempre importante observar o histórico do número de ações emitidas​​ para​​ confirmar​​ a política que a empresa segue em relação​​ a esta matéria.

A​​ JMT​​ tem apresentado um perfil estável ao longo dos anos, o que salvaguarda os interesses dos acionistas.​​ 

 

O indicador​​ Price/Book Value​​ pode ser utilizado para​​ comparar​​ valores​​ de​​ empresas similares do mesmo setor,​​ onde é empregue​​ o mesmo​​ método contabilístico​​ para avaliação de ativos.​​ 

O​​ indicador​​ deve ser utilizado com parcimónia​​ como base de​​ comparação​​ entre​​ empresas de diferentes setores e indústrias,​​ devido a diferenças nos critérios contabilísticos. Por exemplo,​​ algumas empresas​​ podem registar​​ os​​ seus ativos ao​​ custo​​ histórico​​ de aquisição​​ enquanto​​ outras​​ podem registar​​ os​​ seus ativos​​ ao valor atual do mercado.​​ 

Como resultado, um​​ valor alto neste indicador​​ não significará necessariamente que a empresa esteja sobreavaliada,​​ assim como o inverso​​ não​​ quererá dizer que a empresa esteja subavaliada. No entanto, pode ser um indicador útil quando​​ utilizado para​​ comparar​​ empresas do mesmo setor​​ ou para verificar o histórico de uma empresa específica.

O​​ Price/Book Value​​ está,​​ atualmente, nos 407% o que é​​ considerado um​​ valor elevado​​ para​​ muitos​​ investidores. No entanto, há que ter em conta as características de cada empresa e a JMT apesenta um balanço muito forte.

Figura​​ 17​​ – Evolução do indicador Price/Book Value

 

Fluxo de caixa

O​​ Free Cash Flow​​ Yield​​ é um indicador que​​ compara o​​ fluxo de caixa operacional​​ – somatório do​​ dinheiro recebido e​​ dinheiro​​ gasto​​ nas operações - com​​ o valor de mercado da empresa.​​ Este indicador​​ representa uma alternativa​​ à​​ métrica​​ earnings​​ yield​​ já​​ mencionada​​ nesta análise, na medida em que permite comparar o preço atual​​ dos títulos​​ com os preços verificados no passado,​​ ou com os preços da concorrência,​​ e identificar se este está​​ relativamente​​ alto ou baixo.​​ 

Analisando o histórico deste indicador (Figura 18), verifica-se que o​​ Free Cash Flow Yield​​ apresenta​​ uma tendência de subida​​ ligeira ao longo dos últimos 10 anos. Isto significa que o preço das ações está hoje mais baixo, quando comparado com o​​ fluxo​​ operacional da empresa.

 

Os​​ gastos​​ de capital​​ têm uma influência direta​​ na determinação do​​ Free Cash-Flow​​ to Equity, isto é, na determinação da quantidade de dinheiro que fica efetivamente disponível para os acionistas. Se os gastos de capital forem​​ elevados​​ significa que​​ a empresa precisa de reinvestir uma grande parte das suas receitas​​ de uma forma contínua,​​ de forma a​​ manter os ativos existentes.​​ Elevadas despesas de capital reduzem o fluxo de caixa, no qual se baseia o valor de uma empresa. Empresas com elevados gastos de capital apresentam rácios do indicador​​ Capital​​ Expenditure/Sales​​ superiores a 20%.

Nos últimos​​ 12 meses​​ registou-se uma​​ ligeira​​ descida​​ dos​​ gastos de capital o que, associado à subida do​​ Free Cash Flow Yield,​​ indica​​ que existe mais dinheiro disponível para os acionistas, que pode ser distribuído através de dividendos, utilizado na recompra de ações ou investido na expansão da empresa.

 

Figura​​ 18​​ - Indicadores de preço

 

Avaliação

O processo de avaliação de uma empresa não é um exercício objetivo, sendo influenciado por vários fatores como a falta de informação, erros associados às estimativas,​​ erros relacionados com​​ preconceitos​​ do​​ próprio analista, entre outros. No​​ entanto, é um método que permite uma boa aproximação do valor das empresas e, acima de tudo, permite identificar os melhores negócios quando utilizado de forma consistente​​ e uniforme​​ em todas​​ as empresas.​​ 

O valor de uma empresa corresponde ao valor atual líquido dos fluxos de caixa (Cash Flow) gerados no futuro pelo negócio.​​ Para estimar o​​ valor intrínseco da empresa começa-se por calcular o​​ dinheiro que está efetivamente disponível para os acionistas, o​​ Free Cash Flows to Equity​​ (FCFE). Este indicador corresponde ao​​ fluxo de caixa​​ resultante​​ após​​ cumpridas as obrigações financeiras, assumidas​​ as​​ despesas de capital e​​ depois de satisfeitas as​​ necessidades de capital circulante.​​ 

Depois de calculado​​ o​​ FCFE,​​ o passo seguinte consiste em​​ estimar​​ a​​ taxa de crescimento da empresa.​​ Para estimar o crescimento recorre-se à informação disponível nos​​ relatórios​​ financeiros​​ e, tanto quanto possível, a toda a informação complementar disponível. Existem algumas questões-chave neste processo, como​​ identificar da​​ fase do​​ ciclo económico​​ que se atravessa,​​ conhecer​​ as perspetivas da indústria onde a empresa se insere,​​ conhecer​​ os​​ concorrentes, identificar as vantagens competitivas da empresa,​​ entre​​ outros fatores que​​ influenciam o crescimento​​ do negócio.​​ 

Integrando essas variáveis numa​​ análise de​​ Cash-Flow,​​ obtém-se​​ finalmente​​ o​​ valor intrínseco, ou o​​ preço a que a ação deve ser adquirida,​​ para​​ uma dada​​ espectativa de retorno do investidor.

 

Nos pontos seguintes resumem-se​​ os principais resultados desta análise:

  • A JMT está entre os maiores retalhistas do mundo, continuando a investir no crescimento através da expansão e abertura de novas lojas,​​ em geografias onde se regista um forte crescimento do PIB.​​ 

  • O​​ resultado líquido​​ apresenta​​ uma tendência de subida ao longo dos anos, embora​​ com uma taxa inferior à taxa de​​ crescimento​​ das​​ vendas;

  • O​​ resultado operacional​​ apresenta uma tendência de​​ subida​​ ao longo do tempo;

  • O resultado não operacional apresenta​​ um peso reduzido no resultado líquido até ao final de 2018. No entanto, com a implementação da norma IFRS16, registou-se um aumento significativo das despesas financeiras​​ a partir de 2019;

  • A​​ dívida total (corrente e não corrente) é inferior ao quádruplo do resultado líquido, o que é sinal de uma empresa pouco endividada;

  • A JMT apresenta uma rentabilidade dos investimentos atrativa. O valor de ROCE verificado no final de 2018 foi de 15.7%.

  • Ao longo dos anos​​ registou-se uma ligeira descida dos​​ gastos de capital o que, associado à subida do​​ Free Cash Flow Yield,​​ indica que existe mais dinheiro disponível para os acionistas.

De uma forma geral, a​​ JMT apresenta​​ números e tendências​​ positivas, quer​​ na​​ demonstração de​​ resultados quer no balanço. Não se encontram, praticamente, fragilidades nos seus relatórios financeiros, podendo apenas apontar-se o forte impacto que a IFRS16 terá no​​ resultado de 2019, fruto​​ porventura​​ de um elevado​​ número​​ de arrendamentos​​ que existe na empresa.

Refletindo todos estes fatores numa análise de cash-flow obtém-se um valor intrínseco de 11.10€, o que significa que as ações estão sobrevalorizadas, à data desta análise (31-12-2019).

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