Jerónimo Martins (JMT)
Principais resultados da análise
A JMT está entre os maiores retalhistas do mundo, continuando a investir no crescimento através da expansão e abertura de novas lojas, em geografias onde se regista um forte crescimento do PIB.
O resultado líquido e o resultado operacional apresentaram uma tendência de subida ao longo dos últimos 10 anos. O resultado não operacional apresentou um peso reduzido no resultado líquido até ao final de 2018. No entanto, com a implementação da norma IFRS16, registou-se um aumento significativo das despesas financeiras a partir de 2019.
A dívida total (corrente e não corrente) dá sinal de uma empresa pouco endividada.
A JMT apresenta uma rentabilidade dos investimentos atrativa. O valor de ROCE verificado no final de 2018 foi de 15.7%.
Ao longo dos anos registou-se uma ligeira descida dos gastos de capital o que, associado à subida do Free Cash Flow Yield, poderá significar mais dinheiro disponível para os acionistas.
De uma forma geral, a JMT apresenta números e tendências positivas. Não se encontram, praticamente, fragilidades nos seus relatórios financeiros, podendo apenas apontar-se o forte impacto que a IFRS16 terá no resultado de 2019, fruto de um custo de arrendamento elevado.
Refletindo todos estes fatores numa análise de cash-flow obtém-se um valor intrínseco de 11.10€, o que significa que as ações estão sobrevalorizadas, à data desta análise (31-12-2019).
Ver análise detalhada
Introdução
Nesta avaliação será efetuada uma análise assente no histórico dos dados financeiros e dos principais indicadores de desempenho, o que permitirá obter uma boa aproximação do valor da empresa. A avaliação é baseada na informação disponível nos relatórios e contas, em estudos publicados, em artigos disponíveis na imprensa, legislação, etc.
Os dados financeiros das empresas aparecem resumidos em três tipos de formatos: demonstração de resultados, balanço e o fluxo de caixa.
A demonstração de resultados apresenta a quantia que a empresa faturou num determinado período de tempo (vendas) e a quantia que utilizou para obter essas receitas durante o mesmo período de tempo (custos). Analisando a demonstração de resultados podemos verificar se as receitas estão numa tendência crescente ou decrescente, se as despesas estão em linha com as receitas, se os lucros são consistentes ou voláteis, se apresentam um padrão cíclico, entre outros. Os preços das ações da grande maioria das empresas estão relacionados com os lucros, pelo que a análise da demonstração de resultados assume uma grande importância no processo de previsão do preço das ações.
A estrutura de balanço reflete a condição financeira da empresa em determinado instante. Através do balanço é possível verificar a solvência da empresa, a sua liquidez, a sua eficiência operacional, entre outras características. Um balanço forte pode ser um indicador de resistência a ciclos económicos adversos.
O fluxo de caixa reflete o dinheiro que realmente entrou e saiu da empresa durante um determinado período de tempo (tipicamente 1 ano). O histórico do fluxo de caixa permite saber a quantia que a empresa realmente gasta e que efetivamente recebe, fornecendo informação indispensável para o cálculo do seu valor intrínseco.
Ao longo desta análise será interpretada a informação disponibilizada por estes três formatos e, recorrendo a indicadores-chave, será calculada uma primeira estimativa do valor da empresa.
Descrição da empresa
A Jerónimo Martins SGPS SA (JMT) opera no setor de retalho, através de uma cadeia de lojas alimentares que aposta numa localização de proximidade. A empresa está representada através das marcas “Pingo Doce” em Portugal, da “Biedronka” na Polónia e da marca “Ara” na Colômbia.
A JMT também opera na área de retalho grossista com a marca “Recheio”, no setor Agroalimentar abastecendo as companhias do grupo com produtos lácteos, carne bovina e produtos de aquicultura em Portugal, e ainda no setor das farmácias e drogarias com a marca “Hebe” na Polónia.
A JMT está entre os maiores retalhistas do mundo, de acordo com o ranking “Global Powers of Retailing 2019”. Não obstante, a JMT continua a investir no seu crescimento, tendo dedicado, em 2018, 41% do montante de capex à expansão e abertura de novas lojas.
A “Biedronka” registou um crescimento de 5.6% do seu volume de vendas, representando mais de dois terços das vendas totais do grupo em 2018 (Figura 1). O crescimento poderia até ter sido maior, tendo em conta que a Polónia continua a registar um forte crescimento do seu PIB e do consumo interno, no entanto, a entrada em vigor de uma nova legislação, que limita a abertura de lojas de retalho ao domingo, impediu que esse crescimento se refletisse integralmente nas vendas da empresa.
Em Portugal, as vendas do Retalho Alimentar cresceram 4.6%. O comércio grossita cresceu 4% beneficiando dos efeitos do turismo e consequentemente da maior procura por parte do segmento dos hotéis, restaurantes e cafés.
O Grupo apresenta também negócios não lucrativos, com um impacto negativo de 13.60% no EBITDA consolidado (Figura 2). Estes negócios estão localizados na Polónia (Hebe) e principalmente na Colômbia (Ara), onde se concentram 90% das perdas geradas.
Figura 1 – Volume de vendas por área
Figura 2 – Peso no EBITDA por área
Situação financeira
Análise dos resultados
O volume de vendas é o primeiro dado a analisar na demonstração de resultados. As vendas são a força vital das empresas. Sem elas não há lucro ou qualquer perspetiva de negócio. A análise do histórico do volume de vendas permite avaliar a exposição da empresa aos ciclos económicos e perceber se o negócio está em expansão ou em retração.
A JMT tem vindo a apresentar uma subida consistente do seu volume de vendas (Figura 3). O resultado líquido seguiu a mesma tendência, embora a uma taxa de crescimento inferior à da faturação.
Figura 3 – Volume de vendas
Figura 4 – principais dados da demostração de resultados
O resultado operacional reflete a capacidade que a empresa tem de gerar receita. Tal como o nome indica, este dado mostra o resultado gerado exclusivamente pelas operações do negócio, antes de ser descontada a verba destinada ao pagamento de juros e impostos. Dado que o resultado não é distorcido pelo nível de endividamento em que diferentes indústrias operam ou pelas taxas tributárias que diferem de país para país, o resultado operacional é um indicador particularmente útil quando se pretende comparar diferentes empresas.
O Resultado Operacional corresponde ao somatório de diversas parcelas, das quais se destacam as seguintes (Figura 5):
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Gross Profit, ou margem bruta: é um indicador que revela a quantidade de dinheiro disponível das vendas após dedução do custo dos produtos vendidos. A margem de lucro bruto geralmente aparece expressa como uma percentagem das vendas.
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Selling, General and Administrative Expenses (SG&A): inclui todas as despesas gerais e administrativas incorridas durante o período contabilístico. Estas incluem salários de gestão, publicidade, custos de representatividade, honorários, comissões, entre outros.
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Depreciação e Amortização: é a rubrica onde se reconhece o desgaste que as máquinas e edifícios vão apresentando ao longo do tempo.
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Outros ganhos/custos operacionais: inclui receitas de todas as outras atividades operacionais que não estão relacionadas com as principais atividades da empresa, como ganhos / perdas em alienações, receita de juros, receita de dividendos, etc.
Figura 5 – Componentes do Resultado Operacional
As despesas gerais e administrativas apresentam um peso significativo no resultado operacional, o que é característico do setor de retalho, representando 74% do Gross Profit. A depreciação equivale a 9% do Gross Profit (Figura 7).
Analisando o histórico do Gross Profit, verifica-se uma evolução positiva e consistente ao longo dos anos, que superou ligeiramente a evolução verificada nas despesas gerais e administrativas. Isto significa que a empresa aumentou o seu resultado operacional (Figura 6).
Figura 6 – Evolução histórica das parcelas do Resultado Operacional
Figura 7 – Despesas Gerais e Administrativas e Depreciação em função do Gross Profit
O rácio Gross Profit Margin, que compara o Gross Profit com as vendas, foi de 22% em 2018. Este rácio apresenta uma ligeira tendência de diminuição ao longo dos anos, o que poderá significar que a JMT está a sentir maior pressão competitiva e que, por isso, poderá não estar a conseguir refletir integralmente o aumento dos custos operacionais nos preços de venda dos produtos.
Figura 8 – Evolução do Gross Profit Margin
É importante observar o histórico do resultado líquido e anotar a sua tendência de longo prazo. Interessa saber se há ou não consistência nos lucros apresentados e se a tendência de longo prazo é ascendente – quando ambos os indícios são favoráveis, poderá ser sinónimo de vantagem competitiva. Na figura seguinte apresentam-se as principais componentes do Resultado Líquido.
Figura 9 – Componentes do resultado líquido
O Resultado Não Operacional (Figura 4, Non-Operating Income/Expenses, Total) deve-se, geralmente, a eventos não recorrentes, pelo que muitos investidores optam por não os considerar no processo de avaliação de uma empresa.
O resultado não operacional apresentou um peso reduzido no resultado líquido até ao final de 2018 (Figura 10). No entanto, com a implementação da norma IFRS16, que afeta a forma como os arrendamentos são reportadas nos relatórios financeiros, registou-se um aumento significativo das despesas financeiras, em concreto dos juros pagos, no primeiro semestre de 2019. O reconhecimento da IFRS16 poderá ter um impacto negativo no resultado líquido de 2019.
Figura 10 – Evolução histórica dos principais componentes do resultado Líquido
A exposição à dívida e os gastos de capital podem ser analisados de uma forma indireta na demonstração de resultados, através da observação dos juros pagos pela empresa e do valor assumido em amortizações e depreciações.
No ano 2018 os juros pagos corresponderam a cerca de 3% dos ganhos operacionais, o que é um resultado muito bom. No entanto, com a implementação da norma IFRS16, o peso dos juros pagos subiu contabilisticamente para cerca de 14% (TTM) do resultado operacional. Dado que se mantém abaixo dos 15%, corresponde ainda a um bom resultado.
O valor anual de depreciação também está abaixo dos 15% do Gross Profit, o que é satisfatório.
Figura 11- Evolução dos juros de empréstimos e da depreciação
Estrutura do balanço
No balanço começamos por analisar os ativos mais líquidos, nomeadamente a quantidade de dinheiro disponível. Quando existe muito dinheiro disponível em relação ao preço de mercado das ações, é um sinal positivo. Nesse caso, as ações podem valer mais do que o resultado líquido indica, sendo provável que os acionistas venham a beneficiar desses ativos por meio de dividendos ou através de lucros gerados pela aplicação desse dinheiro em investimentos adequados. Muito dinheiro disponível indica que a empresa pode ter uma vantagem competitiva que se está a traduzir em ganhos financeiros, o que é positivo, ou que a empresa vendeu parte dos seus ativos ou ações, o que não é tão positivo.
A JMT apresenta um volume de caixa e equivalentes de 0.87€ por ação, que corresponde sensivelmente a 6% do preço das ações à data desta análise.
Um investidor de renome, Joel Greenblatt, utiliza um simples cálculo para aferir o dinheiro em excesso existente na empresa. Assume que uma empresa necessita de 20% do volume de vendas para conduzir o seu negócio, sendo o restante considerado dinheiro em excesso.
A JMT, de acordo com este critério, apresentaria falta de liquidez, já que 20% das vendas corresponderiam a 5.67€/ação, um valor muito superior aos 0.87€/ação que apresenta no seu balanço. No entanto, as empresas do retalho alimentar necessitam de pouco dinheiro em caixa, dado que geram dinheiro muito rapidamente, vendendo produtos aos seus clientes antes mesmo de pagarem aos seus fornecedores. De certa forma, pode-se dizer que as empresas de retalho utilizam o dinheiro dos fornecedores para responder aos seus gastos operacionais.
O lucro líquido de uma empresa pode ser pago em dividendos, utilizado para recomprar as ações da empresa ou pode ser retido para manter o negócio em crescimento. Se os ganhos forem retidos e utilizados de maneira lucrativa, podem gerar lucros adicionais à empresa. O histórico dos ganhos retidos, ou Retained Earnings, é, por conseguinte, um indicador importante, na medida em que reflete a riqueza que a empresa gera e a forma como faz a gestão dessa riqueza.
Desde 2015 que se tem assistido a um aumento significativo do volume de ganhos retidos, o que é sinal de uma boa saúde financeira da empresa. No entanto, o verdadeiro valor desta reserva depende da utilidade que a JMT lhe der, ie, do retorno que obterá do capital acumulado.
A rubrica goodwill também merece ser analisada. O aumento de goodwill geralmente está relacionado com a aquisição de novos negócios.
No caso da JMT, esta rubrica tem-se mantido relativamente constante ao longo dos anos.
Empresas muito endividadas estão mais expostas a ciclos económicos desfavoráveis, como uma recessão. Como regra, as empresas com uma vantagem competitiva durável exibem pouca ou nenhuma dívida de longo prazo. Em empresas com dívida no balanço deve ser analisado o respetivo histórico e verificada a tendência registada nos últimos anos.
Comparando a dívida de longo prazo com o resultado líquido podemos ficar com uma ideia do grau de endividamento da empresa. Quando a dívida total (corrente e não corrente) é inferior ao quádruplo do resultado líquido, a empresa está numa situação muito confortável no que concerne ao endividamento, e isso é precisamente o que acontece na JMT (Figura 12).
Figura 12 – Dívida de longo prazo (fonte:MorningStar)
Numa das suas últimas entrevistas, Ben Graham, o pai da análise fundamental, informou que usava um critério simples para medir a solvência de uma empresa. Uma empresa deve possuir o dobro do que deve. Por outras palavras, o rácio Total Assets / Total Liabilities deve ser maior ou igual a 2.
A JMT registou um rácio de 1.4 em 2018, o que está abaixo da meta de Ben Graham (Figura 13). Analisando o balanço com mais detalhe, verifica-se que a maior parte do passivo corresponde a dívidas aos fornecedores relacionadas com o curso normal das atividades. Como vimos nos pontos anteriores, este passivo é também uma fonte importante de financiamento para as empresas de retalho. Assim, o rácio de 1.4 do indicador Total Assets / Total Liabilities é aceitável à luz destas explicações.
Figura 13 – relação dos ativos e passivos
A relação da dívida com o património líquido pode ser utilizada para perceber o modo como a empresa se financia. Basicamente a empresa pode financiar-se recorrendo a dívida ou ao seu próprio capital (que inclui o dinheiro aplicado pelos acionistas e os lucros acumulados). Quando uma empresa recorre constantemente a dívida para se financiar, apresenta um perfil de maior risco para o investidor.
O indicador debt-to-equity ratio tem revelado uma ligeira tendência de diminuição ao longo dos anos, verificando-se uma descida de 0.5 para 0.3 no longo prazo, o que significa que a empresa apresenta, atualmente, um perfil de menor risco no que concerne ao endividamento (Figura 14). Um rácio inferior a 1 classifica este investimento como sendo de baixo risco.
Figura 14 – histórico do debt-to-equity ratio
Para medir o retorno do capital investido na empresa destacamos 3 indicadores: Return on Equity, Return on Capital Employed, e Return on Acess. O enfoque num ou noutro indicador varia conforme o tipo de análise que pretendemos fazer.
No Return on Capital Employed (ROCE) compara-se o resultado líquido operacional com o capital investido na empresa. Um ROCE de 20% significa que por cada euro investido, a empresa obteve 20 cêntimos de lucro operacional. Consideramos que este indicador é um dos mais adequados para efeito de benchmarking com outras entidades, já que permite uma compararão dos resultados antes dos juros e impostos - estes fatores variam de indústria para indústria, ou de país para país, pelo que podem distorcer os resultados quando são considerados.
A JMT apresenta uma rentabilidade dos investimentos bastante atrativa (Figura 15). O valor de ROCE verificado no final de 2018 foi de 15.7%, muito embora se note um decréscimo do ROE ao longo dos anos.
Figura 15 – Retorno do investimento
Existem várias formas possíveis de analisar o preço das ações e verificar se este está caro ou barato face ao seu histórico de preços, ou face às empresas concorrentes. Nesta análise utilizamos o Current Earnings Yield, um indicador que compara o resultado operacional com o preço pelo qual o mercado avalia a empresa (Enterprise Value).
Se a este indicador juntamos o ROCE, referido no parágrafo anterior, ficaremos com uma relação do preço e do retorno do investimento que a empresa apresenta. Uma empresa com um preço baixo e retorno elevado será uma melhor aposta que uma empresa nas condições opostas.
As barras verticais representadas na figura seguinte correspondem ao resultado final desta classificação - quanto mais alta for a barra, melhor conjugação do preço e retorno terá a empresa.
Considerando o resultado dos últimos 12 meses (barra TTM) e o preço das ações na data desta análise (31/12/2019), a JMT apresenta uma relação preço/retorno acima da média verificada nos últimos 10 anos (Figura 16).
Figura 16 – Earnings Yield
O lucro por ação é a medida mais importante na determinação do valor da empresa e a recompra ou emissão de ações tem um impacto direto nesta métrica.
Dado que a recompra de ações traduz-se numa diminuição do número de ações em circulação, esta ocorrência provoca um aumento imediato do lucro por ação. Normalmente a recompra de ações surge num contexto em que as ações estão subvalorizadas, representando, neste caso, uma forma de agregar valor à empresa.
Por outro lado, a emissão de ações diminui o lucro por ação de uma forma imediata, destruindo valor para os acionistas. As empresas recorrem a esta forma de financiamento quando não têm reservas de dinheiro suficientes para fazer face aos seus investimentos ou quando as taxas de juro (custo dos empréstimos) são muito elevadas.
É sempre importante observar o histórico do número de ações emitidas para confirmar a política que a empresa segue em relação a esta matéria.
A JMT tem apresentado um perfil estável ao longo dos anos, o que salvaguarda os interesses dos acionistas.
O indicador Price/Book Value pode ser utilizado para comparar valores de empresas similares do mesmo setor, onde é empregue o mesmo método contabilístico para avaliação de ativos.
O indicador deve ser utilizado com parcimónia como base de comparação entre empresas de diferentes setores e indústrias, devido a diferenças nos critérios contabilísticos. Por exemplo, algumas empresas podem registar os seus ativos ao custo histórico de aquisição enquanto outras podem registar os seus ativos ao valor atual do mercado.
Como resultado, um valor alto neste indicador não significará necessariamente que a empresa esteja sobreavaliada, assim como o inverso não quererá dizer que a empresa esteja subavaliada. No entanto, pode ser um indicador útil quando utilizado para comparar empresas do mesmo setor ou para verificar o histórico de uma empresa específica.
O Price/Book Value está, atualmente, nos 407% o que é considerado um valor elevado para muitos investidores. No entanto, há que ter em conta as características de cada empresa e a JMT apesenta um balanço muito forte.
Figura 17 – Evolução do indicador Price/Book Value
Fluxo de caixa
O Free Cash Flow Yield é um indicador que compara o fluxo de caixa operacional – somatório do dinheiro recebido e dinheiro gasto nas operações - com o valor de mercado da empresa. Este indicador representa uma alternativa à métrica earnings yield já mencionada nesta análise, na medida em que permite comparar o preço atual dos títulos com os preços verificados no passado, ou com os preços da concorrência, e identificar se este está relativamente alto ou baixo.
Analisando o histórico deste indicador (Figura 18), verifica-se que o Free Cash Flow Yield apresenta uma tendência de subida ligeira ao longo dos últimos 10 anos. Isto significa que o preço das ações está hoje mais baixo, quando comparado com o fluxo operacional da empresa.
Os gastos de capital têm uma influência direta na determinação do Free Cash-Flow to Equity, isto é, na determinação da quantidade de dinheiro que fica efetivamente disponível para os acionistas. Se os gastos de capital forem elevados significa que a empresa precisa de reinvestir uma grande parte das suas receitas de uma forma contínua, de forma a manter os ativos existentes. Elevadas despesas de capital reduzem o fluxo de caixa, no qual se baseia o valor de uma empresa. Empresas com elevados gastos de capital apresentam rácios do indicador Capital Expenditure/Sales superiores a 20%.
Nos últimos 12 meses registou-se uma ligeira descida dos gastos de capital o que, associado à subida do Free Cash Flow Yield, indica que existe mais dinheiro disponível para os acionistas, que pode ser distribuído através de dividendos, utilizado na recompra de ações ou investido na expansão da empresa.
Figura 18 - Indicadores de preço
Avaliação
O processo de avaliação de uma empresa não é um exercício objetivo, sendo influenciado por vários fatores como a falta de informação, erros associados às estimativas, erros relacionados com preconceitos do próprio analista, entre outros. No entanto, é um método que permite uma boa aproximação do valor das empresas e, acima de tudo, permite identificar os melhores negócios quando utilizado de forma consistente e uniforme em todas as empresas.
O valor de uma empresa corresponde ao valor atual líquido dos fluxos de caixa (Cash Flow) gerados no futuro pelo negócio. Para estimar o valor intrínseco da empresa começa-se por calcular o dinheiro que está efetivamente disponível para os acionistas, o Free Cash Flows to Equity (FCFE). Este indicador corresponde ao fluxo de caixa resultante após cumpridas as obrigações financeiras, assumidas as despesas de capital e depois de satisfeitas as necessidades de capital circulante.
Depois de calculado o FCFE, o passo seguinte consiste em estimar a taxa de crescimento da empresa. Para estimar o crescimento recorre-se à informação disponível nos relatórios financeiros e, tanto quanto possível, a toda a informação complementar disponível. Existem algumas questões-chave neste processo, como identificar da fase do ciclo económico que se atravessa, conhecer as perspetivas da indústria onde a empresa se insere, conhecer os concorrentes, identificar as vantagens competitivas da empresa, entre outros fatores que influenciam o crescimento do negócio.
Integrando essas variáveis numa análise de Cash-Flow, obtém-se finalmente o valor intrínseco, ou o preço a que a ação deve ser adquirida, para uma dada espectativa de retorno do investidor.
Nos pontos seguintes resumem-se os principais resultados desta análise:
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A JMT está entre os maiores retalhistas do mundo, continuando a investir no crescimento através da expansão e abertura de novas lojas, em geografias onde se regista um forte crescimento do PIB.
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O resultado líquido apresenta uma tendência de subida ao longo dos anos, embora com uma taxa inferior à taxa de crescimento das vendas;
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O resultado operacional apresenta uma tendência de subida ao longo do tempo;
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O resultado não operacional apresenta um peso reduzido no resultado líquido até ao final de 2018. No entanto, com a implementação da norma IFRS16, registou-se um aumento significativo das despesas financeiras a partir de 2019;
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A dívida total (corrente e não corrente) é inferior ao quádruplo do resultado líquido, o que é sinal de uma empresa pouco endividada;
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A JMT apresenta uma rentabilidade dos investimentos atrativa. O valor de ROCE verificado no final de 2018 foi de 15.7%.
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Ao longo dos anos registou-se uma ligeira descida dos gastos de capital o que, associado à subida do Free Cash Flow Yield, indica que existe mais dinheiro disponível para os acionistas.
De uma forma geral, a JMT apresenta números e tendências positivas, quer na demonstração de resultados quer no balanço. Não se encontram, praticamente, fragilidades nos seus relatórios financeiros, podendo apenas apontar-se o forte impacto que a IFRS16 terá no resultado de 2019, fruto porventura de um elevado número de arrendamentos que existe na empresa.
Refletindo todos estes fatores numa análise de cash-flow obtém-se um valor intrínseco de 11.10€, o que significa que as ações estão sobrevalorizadas, à data desta análise (31-12-2019).
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