CORTICEIRA AMORIM SGPS SA (COR)
Principais resultados da análise
Os três fatores que mais influenciam os resultados da Corticeira Amorim são o preço da cortiça, a evolução do mercado dos Vinhos e o efeito cambial do USD.
Desde o final de 2018 que o USD tem vindo a apresentar uma trajetória de valorização. Adicionalmente, verificou-se uma descida do preço da cortiça Amadia no primeiro semestre de 2019 em comparação com o período homólogo do ano anterior. O somatório dos dois efeitos deverão ter um impacto positivo nos resultados de 2019.
A longo prazo, as perspetivas de crescimento mundial da indústria da cortiça não parecem ser muito animadoras, à semelhança da indústria dos vinhos.
Embora a Corticeira Amorim goze aparentemente de uma vantagem competitiva, julgamos que dificilmente poderá melhorar a sua margem operacional, uma vez que já se encontra muito acima da média da indústria.
A relação das vendas com o capital investido deverá manter-se constante ao longo dos próximos anos. A dívida poderá aumentar um pouco, beneficiando das condições de solvabilidade acima da média de que a empresa goza.
Estamos perante uma empresa com uma marca muito forte, líder na sua indústria e que deverá manter-se nesta posição durante muitos anos. Espera-se assim que a empresa continue a crescer de forma sustentável, ainda que a um ritmo inferior ao verificado nos últimos anos.
O valor intrínseco por ação resultante é de 8.12 €.
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Descrição da empresa
A Corticeira Amorim é uma instituição de referência mundial na área de produção de rolhas de cortiça, destacando-se também noutras áreas. A empresa tem contribuído decisivamente para a divulgação mundial da cortiça, investindo significativamente em I&D e apresentando produtos inovadores. A cortiça está hoje presente em vários setores, como o vinho, a construção, indústrias aeronáutica e aeroespacial, indústria da moda, do desporto, entre outras, usufruindo de um novo posicionamento internacional associado a produtos nacionais de qualidade e confundindo-se com o nome da própria Corticeira Amorim. A instituição tem, por conseguinte, uma marca muito forte, conferindo-lhe uma grande competitividade.
As empresas que integram a Corticeira Amorim estão estruturadas por Unidades de Negócio (UN), sendo elas a Unidade de Matérias-Primas, a Unidade de Rolhas, a UN Revestimentos, a UN Aglomerados Compósitos e a UN Isolamentos.
A UN de Matérias-Primas assegura a gestão da matéria-prima, desenvolvendo e potenciando a extração e aquisição de cortiça e assegurando o stock necessário às solicitações da produção. Até 2018 a Corticeira Amorim não foi detentora de floresta, mas manteve e mantém uma relação muito próxima com os produtores de cortiça. No ano 2018 a empresa realizou o seu primeiro investimento em propriedade florestal, o que poderá significar que a estratégia da empresa passará também pela extração própria de cortiça.
A Unidade de Rolhas confere à Corticeira o estatuto de maior produtor e fornecedor de rolhas de cortiça a nível mundial, para o qual contribuiu a longevidade da empresa, mas também a sua aposta na inovação.
A UN de revestimentos é líder mundial na produção e distribuição de pavimentos e decorativos de parede com incorporação de cortiça. Os seus produtos destacam-se pela qualidade e inovação.
A UN Aglomerados Compósitos é a unidade mais tecnológica do universo da empresa, reutilizando a cortiça não utilizada pela indústria de rolhas e aplicando-a nas mais diversas áreas, num modelo exemplar de economia circular. Produzem materiais de alta qualidade destinado à indústria aeroespacial, automóvel, construção, calçado, etc. Aqui são desenvolvidos, por exemplo, os materiais de proteção das naves espaciais da NASA e da ESA, que protegem a estrutura do veículo espacial dos efeitos do ambiente térmico. A partir da cortiça são criadas novas fórmulas e novas soluções que, combinadas com diferentes materiais, garantem o melhor desempenho do produto final.
A UN isolamentos dedica-se à produção de aglomerados de cortiça que conferem isolamento acústico e térmico com alto desempenho técnico. Para além de ser um produto 100% natural, os isolamentos da Corticeira Amorim destacam-se dos outros produtos no seu ciclo de vida, apresentando uma durabilidade praticamente ilimitada e mantendo as suas características ao longo da sua vida útil.
Situação financeira
O ano de 2018 ficou marcado por um crescimento de vendas acima da média do mercado, influenciado pelo efeito da consolidação das empresas adquiridas em 2017 e 2018 e por um forte incremento do preço da matéria-prima. O resultado do ano foi também influenciado negativamente pela evolução cambial, que teve um impacto de 9.4 M€ em 2018.
Todas as UN registaram subidas interessantes das vendas, com a exceção da UN revestimentos que registou uma descida de 7.7%. Na subida destacam-se a UN de Matérias-Primas com um crescimento de 19.5% (que vende essencialmente para dentro do grupo) e a UN de Rolhas que subiu 11,5%, refletindo a consolidação das empresas adquiridas. Estes crescimentos teriam sido mais expressivos caso não tivessem sido afetados pela desvalorização do USD. Na imagem seguinte pode-se observar o peso relativo das vendas de cada UN no total do grupo.
Figura 1 – peso relativo das vendas de cada UN
Em termos geográficos, o principal destino de vendas é a Europa com 62.3%, seguindo-se os EUA com 16.8%, o que explica a correlação dos resultados da empresa com a cotação do USD.
Figura 2 – Distribuição geográfica das vendas
Análise dos resultados
As receitas são a força vital de uma empresa, sem a qual não pode existir lucro. Embora as receitas anuais sejam importantes, a sua análise só faz sentido quando é efetuada uma análise comparativa com anos anteriores.
O volume de vendas da Corticeira Amorim tem demonstrado uma tendência de subida consistente nos últimos 10 anos.
Figura 3 – Evolução do volume de vendas
O resultado líquido consolidado da Corticeira Amorim atingiu os 77,4M€ em 2018, representando um aumento de 6,0% relativamente ao ano anterior e um aumento expressivo de 101% face ao valor registado em 2011 (Figura 3).
Figura 4 – componentes do resultado líquido (2018)
Analisando a eficiência, verifica-se que a empresa tem apresentado valores relativamente constantes ao longo dos anos, demostrando estabilidade nos seus processos produtivos.
Figura 5 – Evolução da % Custos Operacionais / Vendas
A desvalorização do USD, adicionado do aumento de preço das matérias-primas, contribuiu para um decréscimo da margem bruta do negócio em 2018, ainda que esta tenha sido parcialmente mitigada por um reposicionamento dos preços de vendas de alguns produtos. Apesar da descida da margem bruta registada em 2018 a empresa manteve bons resultados, apresentando um rácio de 50.6%.
A margem bruta é um indicador do grau de competitividade da empresa. Um valor elevado, diga-se acima dos 40%, indica que a instituição poderá ter pricing power, podendo significar que poderá subir os seus preços de venda sem grandes consequências. Os produtos são, portanto, vendidos com uma margem significativa face ao custo associado à sua produção, o que geralmente é indício de uma vantagem competitiva.
A relação do valor depreciado face à margem bruta fixou-se nos 8%, o que é mais uma indicação de que a Corticeira Amorim apresenta uma vantagem competitiva. Apesar de representar uma despesa virtual, a depreciação reflete o investimento que a instituição teve de dedicar a propriedade e equipamentos para se manter competitiva. Valores de depreciação elevados podem anular os benefícios obtidos por uma margem bruta elevada. As empresas com uma vantagem competitiva durável tendem a ter menos custos de depreciação face à margem bruta.
Figura 6 – Depreciação em % da margem Bruta
A Corticeira Amorim apresenta uma relação dos gastos financeiros com os lucros operacionais de 3,2% em 2018. Os gastos financeiros são maioritariamente constituídos por juros de empréstimos concedidos por bancos ou outras instituições. Empresas a operar em ambientes muito competitivos geralmente apresentam custos elevados de investimento, ou seja, juros elevados. Embora varie de acordo com o tipo de indústria, um rácio inferior a 15% geralmente reflete algum tipo de vantagem competitiva.
Figura 7 – Juros em % do Resultado Operacional
Estrutura do balanço
O capital próprio é um indicador obrigatório na avaliação de uma empresa.
Se o valor contabilístico de uma empresa incluir um valor elevado de ativos intangíveis, como goodwill por exemplo, o capital próprio pode estar sobrevalorizado. Por outro lado, alguns ativos podem estar registados abaixo do seu justo valor, como terrenos por exemplo, resultando num capital próprio subvalorizado.
Será prudente, por isso, analisar o capital próprio líquido de ativos intangíveis e de interesses minoritários, pois produz uma visão mais aproximada do real valor do balanço, embora não esteja completamente livre das nuances mencionadas.
Assim, analisando o capital próprio nesta vertente, conclui-se que a Corticeira Amorim tem revelado uma tendência crescente e consistente ao longo dos anos.
Figura 8 – Evolução do capital próprio
mpresas com vantagens competitivas tendem a apresentar dívidas de longo prazo reduzidas ou mesmo nulas. Assim, é importante analisar este dado, quer no ano corrente quer também ao longo dos últimos 10 anos. Se ao longo deste período o balanço da empresa apresentar pouca ou nenhuma dívida, será um indício de uma provável vantagem competitiva.
Este fator mede-se pela relação da dívida de longo prazo com o resultado líquido. Nesta empresa, a dívida de longo prazo é consideravelmente inferior ao quádruplo do resultado líquido, o que é um bom resultado. Para além disso, tem mostrado uma tendência positiva ao longo dos anos.
Figura 9 – Relação da dívida com o resultado líquido
A estrutura de capital reflete a forma como uma empresa financia as suas operações. Uma empresa pode recorrer à dívida de longo ou curto-prazo (capital alheio), ou aos próprios acionistas (capital próprio) para se financiar. A escolha por uma ou por outra fonte de financiamento depende de vários fatores que aqui não serão detalhados. De modo geral, uma empresa fortemente financiada por meio de dívidas possui uma estrutura agressiva, o que naturalmente aumenta o risco para os investidores. No entanto, isso também pode significar maior crescimento futuro caso os investimentos da instituição sejam bem-sucedidos. Para avaliar a estrutura de capital recorremos ao debt-to-equity ratio. Se o número for superior a um, a empresa terá na dívida a sua principal fonte de financiamento e apresentará um perfil de maior risco. A Corticeira Amorim revela um debt-to-equity ratio de 0.3 em 2018, mostrando ter uma estrutura de financiamento conservadora e de baixo risco.
Key Indicators e Avaliação
Os três fatores que mais influenciam os resultados da Corticeira Amorim são o preço da cortiça, a evolução do mercado dos Vinhos e o efeito cambial do USD.
Desde o final de 2018 que o USD tem vindo a apresentar uma trajetória de valorização. Adicionalmente, verificou-se uma descida do preço da cortiça Amadia no primeiro semestre de 2019 em comparação com o período homólogo do ano anterior. O somatório dos dois efeitos deverão ter um impacto positivo nos resultados de 2019.
A longo prazo, as perspetivas de crescimento mundial da indústria da cortiça não parecem ser muito animadoras, à semelhança da indústria dos vinhos.
Embora a Corticeira Amorim goze aparentemente de uma vantagem competitiva, julgamos que terá pouca margem para melhorar a sua margem operacional, que se encontra já muito acima da média da indústria. Como tal, na simulação financeira considerou-se a margem operacional sofrerá uma ligeira subida nos próximos 10 anos, de 13.2% para 14.0%.
Considerou-se ainda que a relação das vendas com o capital investido se manterá constante ao longo desse período e que a dívida poderá aumentar um pouco (debt ratio subirá para 30%), beneficiando das condições de solvabilidade acima da média de que a empresa goza.
Estamos perante uma empresa com uma marca muito forte, líder na sua indústria e que deverá manter-se nesta posição durante muitos anos. Espera-se assim que a empresa continue a crescer de forma sustentável, ainda que a um ritmo inferior ao verificado nos últimos anos - o volume de vendas diminuirá gradualmente de 6% em 2019 para 2% em 2018.
O valor intrínseco por ação resultante é de 8.12 €.